São Paulo, quinta-feira, 14 de agosto de 2008

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JUDÔ

Eduardo Santos perde por decisão dos juízes e chora

Peso médio é vencido na única luta decidida na bandeira até ontem

Após 3 vitórias por ippon, novato tem problemas com arbitragem e acaba sem medalha; "Peço desculpas a meu pai e minha mãe", diz


LUÍS FERRARI
ENVIADO ESPECIAL A PEQUIM

O torneio olímpico de judô teve, nos cinco primeiros dias de competição, 377 lutas. Apenas uma foi decidida na bandeira, ontem. E o derrotado foi justamente o peso médio brasileiro Eduardo Santos, 25.
O fato de ele ter sido eliminado somente depois do tempo regulamentar e da "morte súbita", em decisão dos juízes e por um rival bem mais tarimbado, ilustra bem sua trajetória olímpica. Há dois anos, Santos não era nem sequer a terceira opção da sua classe.
Em Pequim, ficou a duas vitórias da medalha de bronze, depois de uma trajetória impressionante para um atleta que só neste ano tirou passaporte para competir fora do território brasileiro.
Mesmo assim, ele deixou o tatame lamentando. "Peço desculpas a meu pai e minha mãe por não ter sido competente para jogar os outros", falou, sem segurar o choro.
"Vim à Olimpíada para ganhar, não para participar. Não queria nem ser o segundo. Fiz o meu melhor, mas os adversários foram superiores", completou o novato.
Ele reconheceu que a inexperiência pesou. "Perdi por diferenças mínimas e ainda tenho muito a evoluir. Estou chegando agora, não sei como funciona [nos eventos de primeira linha]. Mas essa situação de estar entre os melhores e já ter os favoritos eu não tinha vivenciado. Achei que ia ganhar as duas [lutas]", afirmou o judoca.
Na primeira derrota, para o francês Yves Dafreville, Santos teve um yuko (a pontuação intermediária) desconsiderado pela arbitragem após intervenção da mesa diretora.
A pontuação o deixaria em vantagem no combate. Sem ela, precisou abrir o jogo, favorecendo o contragolpe do adversário, completado com uma bem-sucedida imobilização.
Depois, a 30 segundos do fim da prorrogação de sua luta contra o suíço Sergei Aschwanden, a final da repescagem, Santos foi punido por entrada falsa. Após vaias do ginásio, a mesa voltou a intervir, dessa vez a seu favor, determinando a retomada da luta. Já ficara claro, entretanto, que os juízes dariam a vitória para o rival.
"Achei que estava lutando melhor. Na realidade, não entendi a atitude do juiz. Numa luta tão equilibrada assim, o juiz não pode tirar uma falta do nada para decidir."
Na opinião de Santos, aquilo influenciou no hantei (decisão da luta na bandeira).
"Os três juízes concordaram com a punição, e só os de fora mandaram tirar, porque viram que estava errado. Os que estavam lá dentro acharam que eu não estava bem. Talvez, se estivessem fora, tivesse sido diferente", afirmou.
O judoca brasileiro disse que será duro voltar para casa sem medalha e, a despeito de ter sido indagado sobre o que fizera nos Jogos Olímpicos -três vitórias por ippon-, refutou o papel de vítima.
Até o final do ano passado, Santos ainda era faixa marrom, graduação que tinha havia uma década. Não fizera o exame para obter a faixa preta porque lhe faltava o dinheiro para pagar a taxa obrigatória.
No dia em que essa situação foi revelada pela Folha, a Federação Paulista de Judô imediatamente isentou o atleta do pagamento da taxa.


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