São Paulo, quinta-feira, 14 de agosto de 2008

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MADE IN CHINA

Loira é tudo igual

LOIRAS POR CONTRATO, MODELOS BRASILEIRAS BUSCAM NA CHINA PONTO DE PARTIDA PARA SUAS CARREIRAS

EDGARD ALVES
ENVIADO ESPECIAL A PEQUIM

Loirinhas. Elas fazem muito sucesso na China. E essa condição tem ajudado o trabalho da gaúcha Patrícia Fleck e da mato-grossense Roberta Godoy, modelos brasileiras que atuam temporariamente em Pequim.
"Os chineses gostam de loiras. Engraçado é que não distinguem. Para eles, parece que são todas iguais, como nós confundimos um chinês com outro", afirmou Patrícia.
Roberta Godoy, de Cáceres (MT), viu a vida pacata revirar da noite para o dia. Desde criança gostava de moda, até que, há um ano, participou de um concurso de uma agência.
"Soube que houve 1,4 milhão de inscrições. Fiquei entre as 24 finalistas", contou. Poucos dias depois, já estava arrumando as malas para Pequim.
Os pais, com os quais ela mantém contato diário pela internet, moram em uma fazenda. Eles produzem e vendem queijo e requeijão.
A modelo conta que enfrentou dificuldades no início porque seu inglês é fraco. O maior susto levou no primeiro trabalho, quando o fotógrafo não a queria pela dificuldade de comunicação. Fez as fotos.
Hoje tenta melhorar o inglês e aprender palavras em chinês. O projeto é levantar dinheiro para cursar uma faculdade no futuro, uma vez que pretende trabalhar mais tempo na Ásia.
"Estou satisfeita. Não ganho muito dinheiro. É que nunca ganhei nada antes. Paguei minhas contas aqui e vou levar algumas economias na volta."
Patrícia, apesar do pouco tempo em Pequim, até já arrumou namorado. É o médico brasileiro Daniel Magalhães Souza, 28, que se especializa em medicina chinesa.
Natural de Bento Gonçalves (RS), Patrícia ministrou aula de dança na sua cidade, onde também atuava como modelo, ajudava a mãe na cantina de uma escola e cursou educação física durante 18 meses.
"Troquei tudo empolgada com a chance de modelo. Quando surgiu uma oportunidade, fui para São Paulo. Sofri, mas as coisas foram melhorando."
Ela conta que é a primeira vez que trabalha no exterior. "Mas logo volto para o Brasil."
Diz que não consegue ficar muito tempo longe da família. Além disso, os vistos para a atividade de modelo, segundo ela, são curtos. O trabalho envolve a agência que envia a modelo e uma outra local.
"Pagam passagem aérea, despesas de alojamento, alimentação (verba semanal) e uso de carro para o trabalho. Devolvemos tudo com o trabalho inicial", declarou Patrícia.
A agência abre uma conta bancária para a modelo, e todo dinheiro dos trabalhos é depositado. No final, descontadas as despesas, o dinheiro é dividido entre a modelo e as agências.
"Quando tem trabalho, como agora, vale a pena. Se não, você retorna ao seu país e os gastos ficam por conta das agências, como investimento", disse.
Patrícia e Roberta dividem um dos três quartos de um apartamento, com ampla sala, cozinha e área de serviço. Os móveis são simples. Dois quartos estão vazios no momento, mas a agência tem a prerrogativa de ocupá-los com novas modelos que chegarem a Pequim.
A rotina da dupla brasileira tem sido intensa. São apanhadas logo às 8h em casa por uma funcionária da agência e levadas para "casting" em empresas, uma espécie de teste ao qual são convocadas modelos de várias agências. As selecionadas podem trabalhar no mesmo dia (foto, hostess etc). "O trabalho é bom", falou.
No geral, Patrícia acha os chineses reservados, o que lhe propicia conforto na atividade.
"Só uma vez houve constrangimento. Eu estava sendo fotografada para um comercial, de fio-dental e os cabelos cobrindo os seios. Aí, eu percebi um chinês tirando fotos com o celular, por trás. Exigi a saída dele", revela Patrícia, ressaltando esse como um caso raro. Afirma que recebe elogios sempre discretos e, nas baladas, "a turma olha, mas não chega".


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