São Paulo, sexta-feira, 14 de agosto de 2009

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Governo argentino desiste de estatizar o futebol na TV

Presidente Cristina Kirchner afirma que trabalhará para garantir transmissões do campeonato local em sinal aberto

Pressionado, Executivo aceita ser o mediador de acordo que garanta volta do torneio nacional, suspenso por dívidas dos clubes

Gustavo Castaing/‘Olé’
Pichação, em Buenos Aires, favorável à compra dos direitos dos jogos de futebol pelo governo

ALEC DUARTE
DA REPORTAGEM LOCAL
SILVANA ARANTES
DE BUENOS AIRES

A iminente compra, pelo governo da Argentina, dos direitos de transmissão do futebol pela TV provocou reação de lideranças de oposição à presidente Cristina Kirchner, questionando a conveniência de o Estado assumir o compromisso vultoso e não previsto.
A pressão deu resultado: Cristina se reuniu ontem com o principal dirigente da AFA (Associação do Futebol Argentino), Julio Grondona, e deixou claro que não pretende estatizar as emissões televisivas.
Segundo Aníbal Fernández, chefe de gabinete da Presidência, o Estado não gastará "um único centavo" com a medida -depreende-se daí que o governo federal pretende apenas ser um mediador de um novo contrato que leve o campeonato nacional à TV aberta.
A AFA avalia que o acordo não pode ser inferior a 500 milhões de pesos (R$ 240 milhões) anuais, embora creia que possa chegar a 600 milhões.
"O Estado não tem condições de garantir a verba que promete", disse o senador oposicionista Juan Carlos Marino. Na Câmara, o deputado Fernando Iglesias ingressou com um pedido de informações para que o Poder Executivo justificasse o investimento bilionário.
Líder da Coalizão Cívica, Elisa Carrió considerou a intervenção um "escândalo moral".
Na terça, a AFA rompeu o contrato que perdurava havia 18 anos com a TSC, sociedade entre a empresa de marketing esportivo Torneos y Competencias e o Grupo Clarín. No período, as transmissões ficaram confinadas à TV paga.
É exatamente o mote do "futebol de graça, e para todos" que fez o governo argentino abraçar a causa dos clubes do país, que há anos tentavam arrancar mais dinheiro da TV.
A dívida total dos clubes chega a 700 milhões de pesos (R$ 335 milhões) -quase a metade se refere a débitos com o fisco, que poderiam ser anistiados.
Acredita-se que, no ato de assinatura do acordo, o governo despenderá quase R$ 50 milhões, num socorro emergencial para que os clubes quitem dívidas com atletas e o campeonato nacional possa começar.
Nesta temporada, a TSC (cujo contrato expirava em 2014 e previa o pagamento de R$ 110 milhões anuais) ofereceu um reajuste de 16%, considerado insuficiente por Grondona.
Com a renegociação contratual, a AFA obteria incremento de 120% em relação ao que recebia pelo acordo anterior.
No Brasil, um mercado consumidor bem maior que o argentino, os times de futebol da Série A recebem, pelos direitos de transmissão em TV aberta e fechada, cerca de R$ 340 milhões anuais -considerado só o valor da TV aberta, caso da Argentina, são R$ 200 milhões.


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