São Paulo, terça-feira, 14 de setembro de 2004

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FUTEBOL

O treinador é a solução?

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE OPINIÃO

Ninguém pode negar que o Campeonato Brasileiro está movimentadíssimo.
Em algumas rodadas, o Corinthians conseguiu se aproximar do primeiro pelotão, o Palmeiras desceu, o Atlético-PR virou vedete, o Flamengo vai escapando do grupo dos quatro candidatos ao rebaixamento e o Fluminense já pode sonhar com a Libertadores. De certa forma, todos os envolvidos brigam por alguma coisa -ou pelo título ou por uma vaga na Taça Libertadores ou para fugir do rebaixamento.
Esse dinamismo, como tem sido observado, reflete o grau de equilíbrio do campeonato. Pena, no entanto, que tudo isso aconteça num quadro de rebaixamento do nível técnico. O êxodo de jogadores (mais de uma centena já saiu do país desde o início da competição) e as dificuldades financeiras dos clubes vão deixando os torcedores brasileiros cada vez mais entregues a mediocridades triunfantes.
 
E aqui cabe a pergunta: nesse contexto de relativo nivelamento, o papel do treinador ganha ou perde relevância?
Há uma incrível movimentação de treinadores no campeonato. Alguns cumprem uma verdadeira peregrinação de clube em clube. Ao que parece, na incapacidade de contratar craques, os dirigentes tentam dar satisfações a seus torcedores trocando o comando técnico. Será que isso resolve?
Por um lado, pode-se argumentar que times que contam com grandes jogadores tendem a diminuir o papel e o brilho do técnico, enquanto nos elencos menos dotados de talento, como a maioria dos que jogam no Brasil, o dedo do treinador pode fazer a diferença. Eles seriam capazes de transformar equipes fracas em times organizados, eficientes e vitoriosos.
Nem sempre, porém, as coisas são assim: há muitos exemplos de times cheios de estrelas que não conseguem alcançar um padrão de rendimento compatível com a qualidade dos jogadores. O Real Madrid do ano passado talvez seja o exemplo mais próximo e gritante, mas aqui mesmo no Brasil já tivemos casos célebres, como o famigerado "ataque dos sonhos" do Flamengo (Romário, Edmundo e Sávio) que virou pesadelo.
Por outro lado, times desprovidos de um mínimo de bons jogadores podem continuar, apesar da capacidade do treinador, apenas medíocres. Pegue-se um Botafogo como está hoje: não há junta de técnicos que possa dar jeito.
A conclusão óbvia é que bons times de futebol são aqueles que conseguem atingir um certo grau de equilíbrio dentro das condições de que dispõem. Para que se tenha uma "equipe operária" eficiente ou um "All-Star Team" capaz de aniquilar seus concorrentes é preciso que os jogadores correspondam às funções que devem ser cumpridas num time de futebol e se adeqüem ao esquema do treinador -e vice-versa. E não se pode esquecer de um fator fundamental, que é a "química" do elenco, o ânimo daquilo que no esporte se chama de "grupo".

Chamuscando
Por falar no papel dos técnicos, o Péricles Chamusca vai mostrando serviço no São Caetano. Depois de pegar o time na 12ª posição, já o colocou em quarto lugar. O ex-treinador do Santo André tem a virtude de ousar. Suas equipes fazem gols e no São Caetano não está sendo diferente. A média de gols por jogo subiu. E o time parece disposto a ganhar fora de casa, como aconteceu contra o Vasco. E isso faz a diferença.

Saindo do sufoco
O Fla, como havia escrito, vai mostrando que tem condições de sair do sufoco em que estava. O problema é que num campeonato como este não basta deixar a zona de rebaixamento. É preciso avançar e manter-se fora dela, o que exige cuidado e aplicação permanentes.

E-mail mag@folhasp.com.br


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