São Paulo, domingo, 14 de setembro de 2008

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JUCA KFOURI

Traffic FC


Incompetência e amadorismo dos clubes permitem que surjam empresas sedentas para ocupar os seus lugares


A TRAFFIC já é poderosa e, do jeito que vai, em breve será o que de mais poderoso haverá em nosso futebol.
E a culpa não é dela, ao contrário.
O mérito sim, é dela.
Porque a Traffic repete agora em relação aos clubes aquilo que já fez, lá atrás, no começo dos anos 90, com as federações e confederações, nacionais e sul-americanas.
Então, diga-se, com métodos pouco ortodoxos para dizer o mínimo, num processo nebuloso de acumulação primitiva de capital que resultou em casos e mais casos seja na CBF, seja na Conmebol ou em algumas federações estaduais conforme inúmeros relatos de gente que prefere o anonimato.
O próprio J. Hawilla, um dia, na ponte aérea Rio-São Paulo, disse que gostaria de que as regras do jogo fossem outras, mas que dançava conforme a música.
Curiosamente, pouco tempo depois, ouvi de um grande empreiteiro exatamente o mesmo raciocínio. Tudo indica, no entanto, que hoje, depois da humilhação de duas CPIs -das quais, justiça seja feita, a Traffic saiu menos manchada do que a CBF-, é possível jogar com mais transparência.
Ora, os corsários ingleses fizeram o que fizeram na origem do capitalismo, e o tempo apagou.
Fato é que hoje a Traffic surfa.
Surfa porque, como diz seu proprietário, nada indica que veremos um dia nossos clubes com administrações profissionais e dando ao futebol o tratamento empresarial que é obrigatório já faz tempo. E, diante de tamanho espaço, nada mais natural que alguém o ocupe.
O que a Traffic tem hoje já não é pouco e seus planos de expansão e seus investimentos nesta direção dão a medida do que vem aí.
Será bom? Será ruim?
Para Traffic, sem dúvida, será bom, será ótimo, refinado entreposto de exportação de talentos.
Para o futebol brasileiro, é claro, não, apenas uma sofisticação do que já é feito hoje, na base do vai da valsa, com alguns empresários e com muitos jogadores. Sim, é verdade como disse Márcio Braga, presidente do Flamengo, que Hawilla enriqueceu com sua parceria com a CBF de Ricardo Teixeira e agora dá uma de Conselheiro Acácio.
Só que Braga está no Flamengo há mais tempo do que a Traffic existe e a empresa é hoje muito mais rica que o clube que ele preside, lá se vão três décadas, com idas e vindas.
Quem é competente e quem não é nessa história?
Lamente-se que tenhamos chegado a este ponto, um ponto tão perigoso, tão delicado, que a Traffic tem jogador aqui, ali, acolá e mais adiante. No Flamengo, inclusive, botou quatro só nesta temporada.
Nada impede que, mais adiante, quando aqui se encontrar com ali, acolá, alguém sugira que será melhor para ali perder para aqui, com o que todos se darão bem.
Tudo mostra que estamos em plenos novos tempos, com milionários árabes, russos, americanos, tomando conta do futebol europeu, motivo de preocupação para abalar o monopólio da Fifa e evitar que ela olhe para o que esteja acontecendo neste lado de cá do mundo. Ocupado, ao menos, por empresários nacionais... E os clubes a tudo vêem, inertes, prontos para serem estuprados.

blogdojuca@uol.com.br


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