São Paulo, terça-feira, 14 de outubro de 2008

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JOSÉ ROBERTO TORERO

Quando o amor acaba


Não foi fácil perceber o fim deste amor. Primeiro, dei-me conta de que tinha virado amizade. Depois, indiferença

SIM, EU SEI, enamorado leitor e namoradeira leitora, esse não é um título para uma coluna de futebol. Mas há coisas que há que se dizer, e às vezes não há como escolher hora ou lugar. Pois a verdade, a dura e cruel verdade, é que eu já não a amo mais.
Não quero ser aquele tipo de homem covarde que diz que a culpa foi dela, mas acho que tudo começou, ou acabou, porque eu a senti mais distante. Era como se, pouco a pouco, ela fosse deixando de fazer parte da minha vida. Eu já não queria saber como era o seu dia e já não me importava com os mínimos detalhes da sua existência. Já não fazia diferença como ela se vestia, o que ela bebia, se estava feliz ou não. E, acho, ela sentia o mesmo em relação a mim. No começo, eu sacrificava mundos e fundos para vê-la, para estar com ela. Mas, depois, parei de fazer questão de estar ao seu lado em todos os momentos. Se fosse possível ficar com ela, tudo bem. Se não fosse, fazer o quê? Ela não era mais a única coisa importante no mundo. E isso é triste.
Quando um amor morre, é como se morresse um pedaço de nós. Todo aquele passado que construímos juntos parece escoar pelo ralo. Todas as viagens, as alegrias, as tristezas, tudo se torna parte de um passado inútil, que não levou a nada. E todo o futuro que sonhamos, já não importa. O futuro que não virá também se transforma em passado.
Não foi fácil para mim perceber o fim deste amor. Primeiro, dei-me conta de que ele tinha se tornado em amizade. Depois, tornou-se em indiferença. E, quando isso acontece, você fica pensando: "Para onde terá ido tudo aquilo que eu sentia por ela? Porque meu peito não bate mais rápido quando a vejo entrar? Terei eu mudado ou mudou ela? Eu devia ter feito algum gesto desesperado para salvar o que sobrava entre nós? De quem é a culpa?" Falando em culpa, o que me deixa com mais remorso é que às vezes ela parece se importar comigo, parece lutar para que o amor não morra. Há dias em que está especialmente bela, põe uma roupa nova e diz palavras doces. Fala que me respeita, que eu tenho o direito de estar chateado, fala que tudo o que faz, faz por mim.
Mas pouco adianta. Eu já não acredito nela. Até gostaria de acreditar, mas o amor é uma planta delicada, que tem que ser regada dia a dia. E ela já não fazia isso.
Pronto, cá estou dizendo novamente que a culpa é dela. Mas não, não seria honesto. Também sou culpado. Eu devia ter feito alguma coisa. Devia ter brigado, exigido mudanças, talvez até dar-lhe um tapa.
Sim, às vezes, só às vezes, poucas vezes, um tapa reaproxima, reacende a chama. Se o leitor não me crê, é porque nunca levou um tapa de amor. Mas nem este tapa eu lhe dei. Dei-lhe apenas desprezo, o seco e estéril desprezo.
Sei que muitos dos leitores que chegaram até esta linha já sentiram o mesmo. Já deixaram de amar aquela que parecia ser o sal da vida, o motivo de suas maiores alegrias. É decepcionante, não é? Mas, enfim, o amor acabou. Tanto que, no fim de semana, por várias vezes me vi distraído, olhando para o lado, lendo alguma coisa e até mudando de canal. Não, já não amo mais a seleção como antigamente...

torero@uol.com.br



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