São Paulo, quinta-feira, 14 de outubro de 2010

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JUCA KFOURI

Papel da imprensa


Está para nascer o homem público brasileiro que aceite críticas da mídia, por mais elogiado que seja

BERNARDINHO JÁ está na história do esporte como um dos maiores técnicos de esporte coletivo de todos os tempos. Veja que não está escrito história do vôlei e nem se faz referência a tempos recentes. É do esporte mesmo e desde sempre.
Ele e José Roberto Guimarães superam em vitórias e competência e respeito internacional quaisquer dos nossos técnicos de futebol.
E estão no mesmo patamar, se é que não estão acima, de alguns poucos gênios do futebol europeu e do basquete americano, para ficar no que nos é próximo.
Bernardinho, além do mais, tem sólida formação cultural, filho de professor universitário e advogado tributarista conceituado, Condorcet (homenagem ao matemático, um dos líderes da Revolução Francesa, defensor radical da educação) Rezende.
Jamais Bernardinho reagiu aos milhões de elogios que recebe com o argumento de que "sentar na frente de um computador e elogiar é fácil".
Mas foi o que fez ao ser criticado pela marmelada contra a Bulgária, assunto que poderia até ter sido tratado como secundário nestes dias de comemoração caso o jogador Mário Júnior, que confessou a entrega, não tivesse sido forçado pelo grupo comandado por Bernardinho a se desmentir pateticamente.
Mas é claro que Bernardinho tem incontavelmente mais qualidades que defeitos e que, como qualquer ser humano, tem também o direito de errar.
Além do mais porque não é exceção, ao contrário, é regra, e neste caso, e só neste, está com a esmagadora maioria dos homens públicos brasileiros e com a esmagadora maioria de nós, jornalistas, todos ardorosos defensores da liberdade de crítica, mas incapazes de recebê-las com um mínimo de humildade e, muito menos, de pedir desculpas.
Você se lembra de algum pedido de desculpas de Pelé? De FHC? Lula? (E não vem não, que este humilde escriba já pediu desculpas e admitiu erros incontáveis vezes...)
Pois é, ninguém pede desculpas. Não se pede desculpa por acusar alguém de ser assassina de crianças, ou por ter um braço direito esquerdo, ou por ter participado de uma marmelada.
E de fato é fácil dizer que é de um baixo nível inominável chamar de assassina quem não é. Como é fácil criticar quem escolhe tão mal alguém que trate de dinheiro público ou quem pisa em princípios éticos óbvios do esporte.
E é finalmente difícil ser visto como quem tem vida fácil, exatamente por saber como a vida é dura.

blogdojuca@uol.com.br


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