São Paulo, quarta-feira, 14 de novembro de 2001

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Venezuelanos vêem agressividade

SILVIO NAVARRO
DA FOLHA ONLINE

Quebrar o tabu de nunca na história ter vencido o Brasil e impedir a primeira participação da seleção rival num Mundial não fazem parte do objetivo da Venezuela, pelo menos hoje.
Satisfeita e orgulhosa com o time, a Federação Venezuelana de Futebol distribuiu um guia de São Luís a sua delegação, formada por cerca de 80 pessoas.
Mas, antes mesmo das informações sobre praias da capital maranhense, a cartilha adverte sobre a "agressividade" dos brasileiros.
"Aviso importante: a delegação viaja em caráter esportivo de alta competência, em um momento em que a necessidade de classificação do Brasil é de vida ou morte. Tomemos precauções para não cairmos nas provocações, não nos deixarmos levar pelo caráter alegre e gozador dos brasileiros; isso não é sinal de despreocupação. A possibilidade real de uma eliminação os deixa extremamente agressivos", diz o guia.
A seleção visitante chegou a São Luís na sexta-feira. Além da aclimatação, o roteiro cultural deixa claro a importância do lazer. No sábado, os venezuelanos aproveitaram para conhecer a orla.
Vindo de quatro vitórias seguidas, a Venezuela chegou ao Brasil esquecida da aura de derrotada que sempre a acompanhou.
Nas entrevistas, os venezuelanos dizem que hoje são iguais ao Brasil. Comemoram o fato de não terem que engolir gozação. Estão sendo respeitados pelos maranhenses, juram. Prometem partir para o ataque hoje e conquistar o quinto resultado positivo.
A explicação para a mudança de comportamento, segundo atletas e comissão técnica, é a descoberta de uma identidade futebolística. "A chave [para a reviravolta" é querer jogar futebol. Antes só pensávamos em nos defender, entrávamos com medo", diz o técnico Richard Páez.
O time, que só havia somado três pontos, sem nenhuma vitória, no primeiro turno, já tem 16. No segundo turno, tem uma campanha superior à do Brasil e estaria classificado à Copa se só esta fase fosse levada em conta -os brasileiros estariam fora.
"A técnica do venezuelano sempre existiu, mas ninguém acreditava", interpreta o auxiliar Raymond Páez, irmão de Richard.
Pela primeira vez na história, a comissão técnica da seleção é composta só de venezuelanos. "Conhecemos as habilidades dos atletas de cada região, coisa que jamais existiu", disse Raymond.
Embora a Venezuela esteja longe de ser o país do futebol -é apenas o terceiro esporte mais popular, atrás de beisebol e basquete-, somente 6 dos 21 convocados atuam no exterior.
Os jogadores comemoram a "descoberta" de seu próprio potencial. "Agora temos auto-estima. Somos iguais a Brasil, Argentina, Colômbia. Se o Equador está na Copa, por que nós não podemos ir?", declara o capitão Vera.
Segundo ele, além do aspecto psicológico, o esquema "em bloco, com as três linhas [defesa, meio-campo e ataque" sólidas" alavancou o time.
Hoje, o time terá os desfalques do goleiro Angelucci, que contundiu-se contra o Paraguai, e do zagueiro Alvarado, que está suspenso. O jogador mais habilidoso do time é o meia Urdaneta, que defende o Luzerna, da Suíça.
Mas a maior esperança de gols está nos pés do atacante Morán, artilheiro da equipe nas eliminatórias, com quatro gols.


Colaboraram Fábio Victor, José Alberto Bombig e Sérgio Rangel, enviados especiais a São Luís



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