São Paulo, sexta-feira, 14 de novembro de 2008

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generosidade

Corinthians abre bolso com agentes

Nas intermediações de transações de jogadores, clube paga percentuais acima do mercado e repassa até 25% do total

Empresário Marcelo Djian ganha por contratação de Fabinho, do Toulouse, sem participar da negociação, segundo o próprio volante

Fernando Pilatos/ Gazeta Press
O técnico do Corinthians, Mano Menezes, durante desembarque do tipo no aeroporto de Congonhas

RICARDO PERRONE
DO PAINEL FC
RODRIGO MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Em aperto financeiro, o Corinthians pagou comissões a empresários acima do percentual de mercado em transações de jogadores, como mostram dados do próprio clube obtidos pela Folha. Em ao menos um caso, o agente não fez nada, segundo o atleta contratado.
No total, quatro negociações geraram pagamentos de R$ 1,6 milhão para empresários. O valor das transações gira em torno de R$ 9 milhões. Ou seja, as intermediações representaram quase 18% dos negócios.
O mercado do futebol costuma estabelecer como 10% a comissão usual dos empresários. O Corinthians alega que a necessidade de fechar transações -ou para reforçar o time ou o caixa- o levou a pagar valores acima disso em alguns casos.
O que mais chama a atenção é a venda dos direitos do zagueiro Zelão para o Saturn, da Rússia. A transação foi fechada por US$ 1,8 milhão -entraram R$ 2,988 milhões nos cofres do time. O empresário israelense Tzvi Kritzer, no entanto, ficou com R$ 747 mil desse valor. Ou seja, o agente embolsou um quarto da negociação.
Segundo a diretoria corintiana, o clube informou ao empresário que aceitaria negociar o zagueiro por US$ 1,4 milhão. Kritzer foi à Rússia e obteve oferta US$ 400 mil maior.
"Nós exigimos que o dinheiro todo entrasse no clube pelo Banco Central. E, depois, repassamos os US$ 400 mil [ao empresário]", disse o advogado corintiano Luis Felipe Santoro, que contou ainda que uma parte foi para o Bragantino, detentor dos direitos sobre o atleta.
"Não falo de dinheiro com jornalistas. Contratos não deixam", disse Kritzer, que confirmou ter intermediado o negócio. "Se a versão do Corinthians é essa, é isso", afirmou Fábio Brito, sócio do israelense.
Bem remunerado, Kritzer pelo menos mostrou Zelão aos russos. Mais do que fez o empresário Marcelo Djian no caso da contratação de Fabinho, de acordo com o próprio jogador.
Não houve pagamento por direitos (foi empréstimo do Toulouse). Mesmo assim, o agente ficou com R$ 135 mil, por ser o empresário do volante, segundo o Corinthians.
"Negociei direto com o presidente [Andres Sanchez]", disse Fabinho, negando participação de Djian na sua liberação.
"Às vezes o time quer um jogador, mas precisa da ajuda do empresário", defendeu Djian, que disse ter recebido valor de um salário do atleta.
O problema é que, pela legislação da Fifa, o cliente do agente -Fabinho- é quem deveria pagá-lo. Se o Corinthians remunerá-lo, precisa de consentimento por escrito do atleta.
Sem acordo entre jogador e agente, só deve ser dado 3% do salário anual ao representante. O pagamento a Djian foi cerca de 10% desse total.
Fabinho era ex-atleta do clube e conhece os dirigentes. No escritório de Djian, trabalhou André Campoy, que era da divisão de base corintiana na gestão de Alberto Dualib, quando Andres era da diretoria.
Outro agente de jogador que lucrou no Corinthians foi Juan Figer. A compra de parte dos direitos de Acosta foi por R$ 1,335 milhão. A MJF, empresa do agente, recebeu R$ 248 mil. Ou seja, 18,6% do total.
A diretoria nega ter pago mais de 10%: baseia-se no salário do jogador, que é de R$ 125 mil. Neste caso, o valor anual é de R$ 1,6 milhão -a comissão ultrapassa um décimo disso.
Outro que ganhou alto foi Franck Henouda, na transação de Everton Santos. Com direito a 50%, o clube recebeu R$ 3,1 milhões do Paris Saint-Germain e pagou R$ 500 mil para o agente. "Ganhei 10%, recebi com nota", disse Henouda.
O Corinthians disse que a comissão foi sobre o total (R$ 5 milhões). E que descontou parte da intermediação de repasse ao detentor de outros 50%.
Enquanto distribuiu comissões, o Corinthians recorreu a empréstimos do Clube dos 13, de bancos e até da BWA (que confecciona ingressos) para fechar suas contas.


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