São Paulo, sexta-feira, 14 de novembro de 2008

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Olímpicos voltam no tempo nos Jogos Abertos do Interior

Acostumados a outro padrão, atletas encaram acomodações modestas e refeições em conjunto no evento em Piracicaba

Times de ponta, como a equipe feminina de vôlei de São Caetano, comem no refeitório, mas trocam alojamento oficial por hotel

GIULLIANA BIANCONI
ENVIADA ESPECIAL A PIRACICABA

A cama beliche encostada no quadro-negro ocupa o lugar das cadeiras escolares empilhadas no canto da parede. Em um dos colchões, o mesa-tenista Hugo Hoyama espalha seus produtos de higiene, além das lentes de contato e do gel "extra seco" para os cabelos que ele não dispensa na hora de arrepiá-los.
Aos 39 anos e após cinco Jogos Olímpicos, Hoyama é um dos 17.028 atletas que disputam a edição deste ano dos Jogos Abertos do Interior.
Mesmo veterano, ele prefere dividir quarto do alojamento reservado à delegação de São Caetano a ir para um hotel.
"Já me acostumei ao esquema. Você termina sendo a referência para os que estão começando. Nesse torneio, eu sempre revivo o meu início", afirma Hoyama, que diz não se incomodar nem mesmo em ter de entrar na fila do banho. Só admite perder a paciência com os mosquitos que insistem em lhe atrapalhar o sono.
Salvas pelo ar-condicionado de um hotel, Mari, Sheila e Fofão, campeãs olímpicas em Pequim que defendem a equipe de São Caetano do Sul, não se irritam com mosquitos. "O que realmente me aborrece aqui é o assédio exagerado, descomedido, que chega a ser falta de respeito", diz a ponteira Mari.
Para sair do ginásio, anteontem, Mari e as companheiras tiveram de ser escoltadas por três seguranças.
A tietagem, entretanto, não acontece só fora da quadra. Elas contam que é comum, após os jogos, atletas de outras equipes pedirem fotos e autógrafos. "Mas com elas é tranqüilo", destaca a oposto Sheila.
Entre os atletas, há novatos e experientes. Por isso, situações novas para a oposto Danielle, 19, do time do São Caetano, que ainda joga torneios juvenis e estréia em Abertos, são corriqueiras para a levantadora Fofão.
"Pegar a bandeja para entrar na fila do refeitório aqui me faz lembrar meus 13 anos, quando treinava no clube e almoçava assim", diz Fofão, que justifica a ida ao refeitório com o argumento de que é preciso se integrar, já que a equipe está distante da delegação, num hotel.
Para o bicampeão da Maratona de Nova York Marílson dos Santos, ficar no alojamento e ir ao refeitório é mais que integração. "Essa é a graça do evento", comenta o corredor.
Com agenda já lotada, Marílson obteve dispensa da equipe de São Caetano e não competirá nesta edição dos Jogos, mas deve estar em Piracicaba para acompanhar a performance da mulher, Juliana. "Se ficarmos mesmo no alojamento, será divertido", diz ele, que acabou de vir de dias de folga na Disney e está acostumado a padrões reservados a atletas tops.
A saltadora Fabiana Murer e os tenistas Ricardo Mello e Flávio Saretta não estiveram nos parques de Orlando recentemente. Mas, com o fim da temporada de competições, também andaram curtindo férias.
Murer, que compete nos Abertos desde a adolescência, quando ainda praticava ginástica artística, dispensa a chance de fazer uma grande marca na competição. "Aqui é só para ajudar a equipe e ir retomando o ritmo, mas ainda assim é gostoso, depois de tanto tempo, ainda participar desses jogos", diz a campineira, que defende o São Caetano por ter apoio da equipe do município.
Acostumados ao glamour dos torneios de tênis internacionais, Saretta e Mello encaram a competição com um "torneio de confraternização".


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