São Paulo, quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

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JOSÉ ROBERTO TORERO

A um passo da eternidade


Se vencer, o Inter pode até trocar de nome; não será mais só Internacional, será também Interplanetário!


INTERNACIONALISTA leitor, interiorizada leitora, foi difícil, mas o Inter passou pelo Al Ahly. Esteve longe de ser uma exibição de gala, mas foi o suficiente.
Os egípcios mostraram-se um time chato, que passa a bola e marca bem. Porém faltou uma pitada de talento. Na verdade, mais que uma pitada, uma colher. Apenas o angolano Flávio e Abou Tarika (ou Aboutrika, sei lá) mostraram algo diferente. O Inter saiu-se melhor e mereceu a vitória. Por pouco, mas mereceu. Para aumentar a glória colorada, seus dois gols foram marcados por jogadores que vieram das categorias de base: Pato e Luiz Adriano. Aliás, esse Pato parece um predestinado.
Em duas partidas como profissional, dois belos gols. E aquele lance em que fez lelê com o ombro vai entrar em todas as antologias de lances criativos.
Para a felicidade dos torcedores colorados, Pato já confirmou sua presença na final. Falando em final, será o maior jogo da história do Internacional. Se vencer, será campeão do mundo e poderá até trocar de nome. Não será apenas Internacional, mas Intercontinental! Interplanetário! Nesta manhã saberemos quem será seu adversário.
Se for o América, podemos entrar em campo com um perigoso complexo de superioridade, pois os mexicanos raramente se dão bem contra nós. Por outro lado, eles correm um bocado e, se já foi difícil vencer o Al Ahly, mais ainda será passar pelo América.
Já se for o Barcelona, teremos que evitar o complexo de inferioridade. É o time mais badalado e babado do planeta. E tem o jogador mais festejado do momento. Só o salário de Ronaldinho Gaúcho deve cobrir quatro ou cinco meses da folha de pagamento do Inter. Mas holerite não entra em campo.
Torço para que nosso adversário seja o time catalão, não só por gostar do futebol dessa equipe mas por achar que grandes títulos têm que ser conquistados em cima de grandes times, como foram os de Santos e São Paulo sobre o Milan. E o Inter, que neste ano já passou pelo São Paulo em dois duelos sensacionais, pode vencer qualquer adversário, mesmo o Barcelona.
O problema é que hoje o Inter não é mais um time tão bom quanto era o que venceu a Libertadores. O zagueiro Bolívar foi bem substituído, mas Tinga e Rafael Sóbis ainda fazem falta. Pato bem pode nos fazer esquecer de Sóbis. Eles têm até um jeito parecido, baseado em velocidade e chutes fortes. Mas Tinga ainda não tem clone à altura. Tanto que Fernandão voltou muito no jogo de ontem.
Aliás, eis aí um jogador inteligente, daqueles que tem um alto Q.F., quociente futebolístico. Ele passa com precisão, chuta bem, dribla com eficiência e ainda cabeceia. Outro nome decisivo será Clemer. Ele pode voar e catar uma bola impossível, como ontem numa cobrança em seu ângulo direito, ou pode bobear e levar um gol bobo, daqueles que os patrões costumam tomar no jogo de fim de ano da empresa, mas do qual ninguém ri para não perder o emprego.
Esses três são os maiores candidatos a imortais. Sim, porque as decisões do Mundial podem garantir a imortalidade. Almir Pernambuquinho, por exemplo, é lembrado principalmente pelo terceiro jogo do Santos contra o Milan em 63. Se o Peixe tivesse perdido essa partida, talvez ele estivesse no limbo da memória futebolística. Por outro lado, caso perca, o Internacional ficará mais parecido com o Vasco de Nasa ou com o Palmeiras de Marcos, times que chegaram perto do degrau mais alto mas que rolaram escada abaixo e tiveram que começar tudo outra vez, feito um Sísifo de chuteiras. Toc, toc, toc.

torero@uol.com.br


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