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alvo
Cielo espera competição até nos treinos em 2009
Ainda cansado, campeão olímpico se prepara para concorrência em seu "refúgio"
Brasileiro planeja fim de ano sem internet e telefone para, enfim, descansar e encarar volta aos treinamentos em Auburn, em janeiro, nos EUA
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL
A medalha de ouro conquistada em Pequim transformou
César Cielo em caça, e a perseguição a ele começará em sua
própria casa. A partir do início
do ano, seu ritual diário de entrar na piscina ainda de madrugada e cumprir milhares de metros de treino na pacata Auburn
não será mais como antes.
O sucesso do brasileiro na
piscina chinesa atraiu dezenas
de atletas para a cidade norte-americana. O antigo refúgio é
agora, também, abrigo de seus
rivais. O técnico, antes quase
exclusivo, terá de se desdobrar.
"Tudo vai ser diferente. Psicologicamente, será mais difícil
do que em 2008, antes da Olimpíada. Vão querer ganhar de
mim até em treino. Para eles, é
bom saber que derrotaram o
campeão olímpico. Teremos
seis [de 16] semifinalistas olímpicos na água. Minha rotina será competitiva até quando não
deveria ser", afirma Cielo, 21.
O semblante do nadador muda quando ele começa a imaginar as gozações que pode sofrer
da equipe em Auburn. O campeonato nacional universitário
dos EUA começa em março, e o
brasileiro tem seu nome gravado no grande quadro de recordistas da competição.
"Se alguém bater um recorde
meu, ouvirei até o Mundial [em
julho]. Se perder no treino, vou
ficar ouvindo. É um estresse
que não tem jeito. Acho que terei de tomar cuidado com a
pressão que coloco em mim."
Cielo é competitivo ao extremo, não admite derrotas e sofre
ao ver os adversários melhorando suas marcas. Antes de
Pequim, entrou em parafuso
com a avalanche de recordes
em suas provas -100 m e 50 m
livre-, enquanto seus tempos
não o colocavam entre principais os candidatos ao ouro.
"Essa é uma das coisas que
venho conversando com o
Brett [Hawke, seu técnico nos
EUA] para no ano que vem não
acontecer nenhum tipo de estresse que possa acabar com a
temporada antes do Mundial."
Os papos com o treinador
têm acontecido esporadicamente. Até a semana passada, o
australiano economizava as palavras e era só conselhos ao pupilo. Mas, na segunda-feira,
Hawke mudou o tom. Ao ouvir
novamente que Cielo não havia
voltado para os treinos pesados, caprichou na bronca.
"Ele perguntou se estou querendo ser o "Ian Thorpe 2", que
desistiu aos 24 anos porque não
tinha motivação para competir
[o nadador australiano era um
dos maiores fenômenos da natação mundial, dono de cinco
ouros olímpicos]", diz Cielo.
Nem as broncas do treinador,
porém, foram suficientes para
fazer o brasileiro recuperar já o
antigo prazer. Nos primeiros
treinos, quando viu que teria de
encarar 7.000 m, 8.000 m na
piscina, sofreu. "Não queria ficar indo e voltando na piscina.
Se me pedissem para correr,
pedalar, tudo bem, mas eu estava sem vontade de nadar. Mas
fui reclamando e levando..."
Cielo também foi menos rigoroso com horários de descanso e com a alimentação depois da conquista em Pequim.
E também se cobra por isso.
"Eu sei que é outro período
de treino, ainda na ressaca da
Olimpíada, mas quem já fez a
coisa toda certinha fica se massacrando quando sai da linha.
Eu devia ter treinado mais, com
certeza. O próximo ano só vai
dar certo se eu me superar de
novo. Vou ter de abraçar esse
desafio e descobrir de novo o
prazer de competir", diz Cielo.
Embora saiba que o fim do
ano é um período mais light, o
brasileiro demonstra preocupação com o risco de falhar nas
provas que tem pela frente.
"No fundo, a gente sabe que
resultado não vai vir agora. Nos
EUA, muita gente nem voltou a
treinar ainda. Não precisa ter
pressa para voltar a competir,
mas o que eu não queria era estar perdendo. O que mais pesa é
o medo de perder", diz.
Blindagem
Se o cansaço impede Cielo de
voltar à toda para a piscina, o
nadador já tratou de se cercar
de cuidados para evitar que o
status de celebridade atrapalhe
ainda mais a vida de atleta.
As entrevistas agora acontecem apenas uma vez por semana e sua mãe, Flávia, transformou-se em sua empresária.
Assim que ganhou o ouro,
Cielo havia fechado com o ex-nadador Fernando Scherer. O
campeão olímpico, porém, diz
que precisava de alguém que
lhe desse dedicação exclusiva.
"Não existe ninguém mais
próximo em quem eu poderia
confiar. Brinco que minha mãe
agora é minha empregada.
Comprei um vestido para ela
um dia desses e brinquei que
era o 13º. Ela sabe do que eu
gosto e do que não gosto. É mais
fácil trabalhar assim", diz Cielo.
A blindagem na nova vida inclui até cuidados durante os
momentos de diversão. Para
evitar flagras constrangedores
em festas ou com namoradas,
Cielo sempre se policia.
"Meu comportamento mudou, principalmente por eu ser
atleta. Aqui, se vêm você numa
festa já perguntam se está bebendo e há muita maldade. O
YouTube acabou com a privacidade. O bom é que meus amigos
me ajudam muito", afirma.
Descansar sem interferências, só após o fim dos compromissos. Hoje, Cielo disputa um
desafio de velocistas em Fortaleza. Seu rival mais badalado
será Jason Lezak, herói dos revezamentos dos EUA e bronze
nos 100 m livre nos Jogos de
Pequim, ao lado do brasileiro.
O evento é a última competição de Cielo na piscinas em
2008. Na terça, deve receber o
prêmio do comitê olímpico de
melhor atleta do país no ano.
Depois, quer férias, sem celular
ou internet. E, enfim, relaxar.
"Descansei o corpo depois da
Olimpíada, mas a cabeça não
deu. A cada entrevista você repete as mesmas coisas, fala tanto de piscina que não quer mais
olhar para ela. Também fico revivendo o estresse por que passei. Quero esquecer que a natação existe por um tempo."
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