São Paulo, terça-feira, 15 de janeiro de 2008

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SONINHA

Dia do Professor


O treinador de futebol dificilmente é decisivo para uma equipe em 90 minutos. Mas, em nove meses, ele é


GRAÇAS AO "Pontapé Inicial", da ESPN Brasil, soube que ontem foi o Dia do Treinador de Futebol. Ótimo! Há tempos estava pensando em escrever sobre ele, o professor, o mago, o salvador... Paizão, general, "psicólogo", inventor, intuitivo, estudioso, estrela, amigo, o que mais pode ser?
Entre todas as coisas que esperam desse profissional, ainda é o caso de perguntar: para que serve um técnico? Para motivar os atletas, unir o grupo, agradar à torcida, "forjar guerreiros"? (Lembrei da entrevista de ontem do Mano Menezes.) Outro dia Renato Gaúcho disse que "no futebol atual, um bom técnico representa 70% do que um time pode render". Parece meio pernóstico conceder-se tanta importância, mas eu concordo com ele.
O trabalho do técnico inclui indicar jogadores, estabelecer o modo de relacionamento com o clube, fazer o planejamento para o ano. Ele precisa ser capaz de avaliar o potencial de cada atleta, suas qualidades e defeitos, seu estado físico e emocional -com a ajuda dos profissionais que escolheu para sua comissão.
Durante os treinamentos, irá aperfeiçoar fundamentos, definir as posições, a tática e a escalação, corrigir erros coletivos. Ensaiar jogadas, copiadas ou inventadas por ele. Decidir o perfil da equipe e suas estratégias. Estudar o calendário, analisar os adversários. Resolver problemas de última hora, contusões, suspensões, conflitos, até falta de inspiração. E muito mais... Eu escreveria páginas e páginas sobre o assunto; outros já devem tê-lo feito com propriedade e profundidade.
Técnicos de futebol são hipervalorizados em um jogo e subvalorizados em um campeonato. Atribuir uma vitória a alguma maquinação "brilhante" do treinador costuma ser um tremendo exagero. Ele pode escalar muito bem, substituir melhor ainda, corrigir posicionamentos com maestria, mas cada partida tem combinação infinita de acasos que tanto pode premiar quanto ignorar a genialidade do técnico. Um mau dia do craque, o adversário mais-ou-menos em dia impecável, um azar danado do lado de cá, um erro besta do juiz, pronto, está definido o placar adverso. E, no dia seguinte, vão dizer que o técnico genial tomou um baile, ou um "nó", do colega do outro time. Outro exagero...
Mas ao fim de seis meses, um ano, um campeonato, o trabalho de um técnico realmente tem importância. É incrível como tendemos a diminuí-la... Alguns exageram. Recebi um e-mail que dizia que o Muricy "deu sorte de estar em uma grande estrutura. Se sair do São Paulo, não ganha nem um jogo". Luxemburgo levou anos para ser reconhecido como um grande técnico. Tem gente que "dá sorte" mesmo, mas não tanta assim... Há maneiras racionais de acompanhar e avaliar os "professores", analisando o material e as condições que encontrou, estrutura, contexto e até os tais acasos.
Até onde chegaria o São Paulo-2007 sem o Muricy? Ou, por outro lado, a seleção de 2006 com outro técnico? Bom, para essas perguntas não há resposta racional. Mas tenho certeza de que o técnico sempre é decisivo para o resultado a médio prazo. No Brasil, infelizmente, somos os reis do curto prazo. Aí o técnico tem mesmo de ter alguma competência e muita, muita sorte.

soninha.folha@uol.com.br


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