FERNANDO ITOKAZU
DA REPORTAGEM LOCAL

A burocracia pode impedir pela segunda vez consecutiva a estréia do bobsled brasileiro em Jogos Olímpicos de Inverno.
A idéia de levar uma equipe brasileira de bobsled, uma das modalidades do trenó no gelo, para a Olimpíada surgiu em 1994.
O presidente da CBBSL (Confederação Brasileira de Bobsled, Skeleton e Luge), Eric Leme Maleson, que também participa de competições, assistiu ""Jamaica Abaixo de Zero", filme que conta a história da participação da Jamaica nos Jogos de Calgary-88.
Maleson, que mora em Norwell, Massachusetts (leste dos EUA), passou a praticar o bobsled, buscou outros atletas e fundou a associação nacional da modalidade.
Nos Jogos de Nagano-98, o time brasileiro, apesar ter obtido o índice para participação, não competiu pois a associação nacional não era reconhecida pelo COB (Comitê Olímpico Brasileiro).
A Confederação Brasileira de Bobsled, Skeleton e Luge foi reconhecida em 2000, mas agora pode ficar de fora de provas classificatórias para os Jogos de Salt Lake City-2002, por falta de verbas.
Isso porque a entidade não tem associação com bingo e depende de verba da Secretaria Nacional de Esportes.
Como o orçamento da União só foi aprovado no início do ano e a secretaria ainda não recebeu a verba do tesouro, o repasse para as confederações deve sair a partir de março, no fim da temporada dos esportes de inverno.
A assistente do departamento do esporte de rendimento da secretaria Eidilamar Fátima da Silva acha pouco provável que recursos sejam liberados antes de março.
Com isso, a entidade perdeu a etapa da Copa do Mundo, que acontece até o próximo dia 18, em Calgary (Canadá).
Para as etapas de Salt Lake City, na pista dos Jogos de Inverno de 2002, de 20 a 25 de fevereiro, e de Lake Placid, em março, a CBBSL obteve apoio de empresas norte-americanas após matéria sobre o projeto brasileiro no ""USA Today", no início do mês.
Maleson contou que sugeriu que a secretaria reembolsasse o gasto, mas, segundo Eidilamar, essa possibilidade não existe.
A CBBSL já enfrentou problema de verba quando houve a extinção do Indesp (Instituto Nacional do Desenvolvimento do Desporto), em outubro, e a criação da Secretaria Nacional de Esportes.
Devido ao período de transição, a confederação não teve verba, já aprovada, para a Copa América, em Lake Placid, em dezembro.
Os quatro integrantes do time brasileiro arcaram com as despesas e conquistaram a primeira medalha (bronze) do país na história da modalidade. "É uma conquista histórica. Estamos até emoldurando uma cópia da medalha para enviarmos ao museu olímpico do COB", afirma Maleson, que foi o atleta responsável pela condução do trenó.
A conquista é, segundo o planejamento entregue ao COB, o início de um projeto que prevê medalha nos Jogos de 2010. ""Para Turim-2006, o objetivo é ficar entre os 15 primeiros", diz Maleson.
Para os Jogos de Salt Lake City, a CBBSL pretende levar seis atletas no bobsled, participando do trenó para quatro e para dois integrantes, além de três no luge (modalidade em que os atletas descem deitados de barriga para cima).
Para se classificar no bobsled, é necessário disputar cinco provas nas duas temporadas anteriores aos Jogos, em pelo menos três pistas e dois continentes diferentes.
O time da Copa América contou com Édson Bindillati, bicampeão brasileiro do decatlo, Rodrigo Palladino, campeão brasileiro juvenil dos 110 m com barreiras, e Edson Trindade, praticante de levantamento de peso.
"Para atletismo, tenho patrocínio de um pequeno açougue, que não teria como me ajudar também no bobsled", diz Palladino.
"Como eles têm muita explosão muscular, foi só ensiná-los a empurrar o trenó", diz Maleson.


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