São Paulo, domingo, 15 de fevereiro de 2004

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FUTEBOL

É difícil envelhecer

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Aos 26 anos, encerrei a carreira de atleta por causa de problemas no olho. Não tive a experiência de ser chamado de velhinho decadente, de não saber o momento certo de parar e de conviver com o preconceito contra os veteranos, mesmo com os que estão em forma.
Por causa da saída de um grande número de bons jogadores para o exterior, piorou a qualidade do futebol que se joga no Brasil e em toda América do Sul. Isso aumentou as chances de os atletas mais velhos atuarem por mais tempo nas principais equipes.
Vários dos que passaram ou se aproximam dos 35 anos mantêm a qualidade e o estilo. Outros pioraram e mudaram a maneira de jogar. Mas, como alguns foram excepcionais, ainda são melhores do que a maioria dos jovens. Há ainda os que nunca foram bons e ficaram piores e também os que melhoraram.
Cafu continua tão bom quanto era. Ele é muito melhor do que os seus reservas na seleção. Como faltam apenas dois anos e pouco para a Copa, ele deverá ser o titular. Porém, se Cafu e qualquer veterano atuarem mal várias partidas seguidas, o que ocorre com freqüência com todos os jovens, vão dizer que eles estão velhos e decadentes.
Zinho e Valdo, que foram ótimos jogadores, não têm a eficiência de anos atrás, mas continuam bem e com o mesmo estilo. Zinho foi útil ao Cruzeiro e é um reforço para o Flamengo. Valdo é um dos principais jogadores do Botafogo.
Outro veterano, Basílio, que sempre foi um jogador mediano, está melhor do que antes. Ele tem a mesma velocidade e faz mais gols. Há os veteranos que pioraram e mudaram de estilo. Obviamente, são os mais comuns. Muitos deles falam que correm menos porque são mais experientes.
É uma boa desculpa. Como as mudanças são lentas e progressivas, não percebem as transformações e/ou não aceitam a realidade. É só verem os teipes de outras épocas para se constatarem grandes diferenças. Apesar de ter pouco mais de 30 anos, Júnior Baiano passa a impressão de que está no final de carreira. A cirurgia no joelho e a longa ausência dos gramados contribuíram para isso. Porém, após se preparar melhor, Júnior Baiano precisa ter a chance de mostrar que ainda pode atuar bem durante muito tempo. Se isso acontecer, vamos elogiá-lo.
Não se pode, antecipadamente, ser contra ou a favor de alguém. Temos de analisar o fato. Jornalista não deveria formar patota com atletas, técnicos e dirigentes.
Um atleta piora mais rápido que outro da mesma idade, não somente pelos cuidados que teve com o corpo, pelo número e gravidade de contusões e pelo tipo atlético (peso, altura, massa muscular e outras características).
Tão importante é o prazer de jogar, de superar obstáculos, de entrar em campo para atuar cada vez melhor e de gostar do seu estilo de vida.
Os atletas que perderam essa ambição e alegria e só jogam porque são bem pagos e/ou não têm condições de exercerem outras atividades, entram em decadência mais cedo.
A não ser que necessitem de dinheiro para sobrevier, os grandes atletas não deveriam terminar suas carreiras em pequenas equipes e/ou porque ninguém tem mais prazer em vê-los em campo. É triste e prejudica suas vidas. Mas são eles que têm de decidir o momento de parar.

Golaço
Além de passes e cruzamentos espetaculares, Alex tem no Cruzeiro a média de meio gol por partida. É ótima para um jogador de sua posição. Muitos desses gols foram maravilhosos. Pela beleza, inventividade, dificuldade na finalização e necessidade de uma ótima técnica, o gol contra o Concepción, pela Libertadores, foi mais espetacular do que o recente e belíssimo gol do Ronaldinho, na Espanha.
A diferença é que os gols e as atuações dos craques brasileiros que atuam na Europa repercutem muito mais no Brasil e em todo mundo.

Comparações
O futebol carioca está melhor, mais emocionante e com mais público do que o paulista. Isso não significa que os times cariocas sejam superiores aos de São Paulo. Neste ano, a única equipe do Rio que melhorou foi o Fluminense, se jogarem todos os contratados. Os principais times do Brasil estão na Libertadores -e três são de São Paulo. Hoje, nenhum clube carioca teria chance de ganhar o Campeonato Brasileiro.

E-mail: tostao.folha@uol.com.br


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