São Paulo, domingo, 15 de fevereiro de 2009

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JUCA KFOURI

Duo de ferro. E fogo


O clássico desta tarde, no Morumbi, está menos para um clássico e mais para um novo e trágico filme de terror

UM JOGO de risco. Não precisava ser. Mas é. Tudo porque o São Paulo tomou uma decisão absolutamente normal e previsível, porque anunciada nem é de hoje, e os cartolas do Corinthians resolveram fazer mais que uma tempestade em copo d'água ao atear fogo num verdadeiro rastilho de pólvora. Como resposta, que nem mereciam, receberam em troca gracejos sem graça e provocações pueris da parte de quem deveria ter jogado água na fervura em vez de botar mais lenha na fogueira. E o resultado aí está: ânimos acirrados, nervos à flor da pele e todos os demais lugares-comuns que você quiser escolher. Porque, enquanto os cartolas desfrutarão o jogo nos camarotes refrigerados do Morumbi, a maioria tricolor e a minoria alvinegra prometem acertar as contas sabe-se lá com que consequências dentro e fora de campo, porque os torcedores se dão o direito da valentia e, sobretudo, da covardia, com eventuais reflexos violentos entre os jogadores de São Paulo e Corinthians. Que cenário! Nada justifica coisa alguma, nem mesmo se fosse uma partida decisiva - e o jogo deste domingo está longe disso. Tanto que Muricy Ramalho não há de alterar um milímetro seus planos com vistas ao que mais importa, o jogo pela Taça Libertadores no meio de semana. E Mano Menezes, que continua melhor nas entrevistas do que para fazer seu time jogar, se dará por muito feliz se sair com o empate do estádio do rival. O São Paulo é o favorito hoje como era na última vez em que os dois times se enfrentaram pelo Campeonato Brasileiro, em 2007, quando o time era ainda muito melhor que o adversário, tanto que um foi bicampeão nacional e o outro rebaixado de divisão.
E deu Corinthians, que acabaria rebaixado, com gol de Betão... Tudo, aliás, que o analista gostaria de escrever tem muito mais a ver com as alternativas em torno da expectativa do espetáculo do que com aquilo que acaba virando sua obrigação: alertar as pessoas responsáveis para que passem longe, o mais que puderem, do Morumbi. Pois ser minoria num clima desses é sinônimo de desvario. E ser maioria é correr o risco de atos de guerrilha, algo incompatível com um simples jogo de futebol.
Dia desses, aqui, a propósito da eleição de Luiz Gonzaga Belluzzo no Palmeiras, previa-se a possibilidade do fortalecimento do chamado Trio de Ferro, dadas as boas relações que estariam postas entre as direções de Corinthians, Palmeiras e São Paulo.
Mas as provocações rasteiras de ambos os lados nos dias que passaram não autorizam que se leve adiante aquilo que seria o óbvio e o desejável, bom para os três. É que a rivalidade é cada vez menos rivalidade e cada vez mais inimizade, raiva, ódio mesmo, como se alguém tivesse a ganhar com a aniquilação do adversário. Uma pena.
Que merece apenas o desprezo do amante do futebol, seja são-paulino, seja corintiano, seja o que for. E só tem um jeito de ser manifestado, pacificamente, de costas para o estádio, no sofá, diante de um aparelho de televisão.

blogdojuca@uol.com.br


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