São Paulo, terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

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JUCA KFOURI

E o Fenômeno chorou


Declarações de amor, revelações, decepções e comoção na despedida de Ronaldo


O BANDO DE LOUCOS fez a cabeça do cidadão do mundo, do popstar Ronaldo Fenômeno.
A ponto de fazê-lo chorar como neném e de ter sido emoção tão grande em sua carreira como a conquista do pentacampeonato pela seleção brasileira, na Ásia, em 2002.
E a ponto de levá-lo a pedir desculpas pela culpa que não teve, o novo insucesso corintiano na Libertadores da América.
Só uma pedra não se comoveria diante daquele homenzarrão, um dos maiores jogadores da história, em prantos, na frente de dois de seus filhotes.
Como foi digno de surpresa ouvir de sua boca que sofre de hipotireoidismo, segredo improvável para ser guardado por tanta gente no clube, além de segredo sem sentido, porque a revelação serviria para amenizar as críticas que recebia.
O ídolo também revelou que terá sua fundação e que prosseguirá fazendo pelo Corinthians o que o Corinthians quiser, pois o presidente do clube ele tem na conta de irmão.
Humilde, disse que aprendeu mais com as derrotas do que com as vitórias, boa lição para os demagógicos produtores, e consumidores, de livros e palestras de autoajuda.
E deu razão a Falcão quando disse ter se sentido numa UTI, à espera da morte, assim que a ficha da aposentadoria caiu.
O rei de Roma já dissera que o jogador de futebol é o único que morre duas vezes.
E deu razão a Sócrates ao dizer que o corpo ganhou dele, que a cabeça mandava e o corpo não obedecia, que o zagueiro que ele supunha estar para trás estava era na frente.
O doutor já dissera que o jogador não abandona o futebol, que é o futebol que abandona o jogador.
Mas Ronaldo se despede até com as honras, segundo jornais espanhóis, de maior atacante de todos os tempos, exagero típico de quem acha que a história começou nos anos 90, mas, sem dúvida, elogio para se guardar, tamanho, de fato, o seu tamanho como personagem do futebol moderno.
A decepção ficou por conta do vitorioso marketing corintiano, incapaz, nas 72 horas que teve entre saber da decisão do Fenômeno e o anúncio oficial, de criar um roteiro à altura da despedida, ocupado por uma vaga ideia de um jogo em junho ou em julho.
Não, Ronaldo não merece que seu último jogo tenha sido contra o Tolima.
Ronaldo merece a maior festa do seu bando.

blogdojuca@uol.com.br


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