São Paulo, terça-feira, 15 de março de 2011

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Contrato entre Palmeiras e WTorre para erguer a Arena Palestra revela como o clube, por três décadas, terá de dividir decisões com a construtora

EDUARDO OHATA
DO PAINEL FC
LUCAS REIS
DE SÃO PAULO

Por 30 anos, o Palmeiras terá de avisar com antecedência as datas de seus jogos em seu novo estádio. Não poderá treinar na Arena Palestra nem mandar nela os jogos do time B ou da base.
Aliás, no campo, qualquer evento do clube que não seja futebol poderá ser vetado. E mesmo um simples amistoso terá de ser comunicado pelo menos 120 dias antes.
Essas são apenas algumas das cláusulas do contrato que o Palmeiras assinou com a WTorre, empresa que iniciou a reforma do estádio, em julho do ano passado.
A Folha teve acesso à escritura de concessão de uso do Parque Antarctica, documento que, em 50 páginas, detalha os meandros da negociação. São esses os detalhes que preocupam conselheiros e a nova diretoria.
A reportagem apurou que há um batalhão de advogados, de diversos escritórios, analisando o documento.
"O contrato é oneroso para o Palmeiras, ele não foi pensado. O Palmeiras foi preterido em relação a despesas", declarou Arnaldo Tirone, atual presidente do clube.
O fato é que, nesses 30 anos, a WTorre será dona da área. Poderá "usar e usufruir do local sem qualquer interferência da proprietária [Palmeiras]", diz o documento.
O time será obrigado a jogar na Arena Palestra quando for mandante -inclusive em amistosos. A WTorre arcará com gastos e manutenção do local, mas o Palmeiras terá de pagar todas as despesas das partidas. Também terá preferência de uso, desde que avise com antecedência.
Mas, se a data do jogo mudar e a WTorre já tiver planos para o local, o clube terá de jogar em outro lugar.
Mais: se a arena não estiver disponível em um jogo oficial, bastará à WTorre pagar 50% da renda que o Palmeiras obtiver nessa mesma partida em outro estádio.
Treinamentos são vetados, a não ser que sejam previstos em regulamento.
Ao todo nove imóveis foram cedidos à WTorre por 30 anos -três deles penhorados por causa de dívidas do clube. O contrato prevê que, caso essas dívidas sejam executadas, a empresa poderá liquidá-las e descontar da verba que será repassada mensalmente ao Palmeiras.
O clube terá direito apenas a uma parcela de tudo que a WTorre lucrar com a exploração do local. A empresa, por sinal, poderá usar nome e imagem da arena, e até o escudo do Palmeiras atrelado, para obter suas receitas.
Francisco Busico, ex-diretor financeiro que assinou o documento com o então presidente Luiz Gonzaga Belluzzo, discorda de Tirone. "Foi um bom negócio para o Palmeiras. Participei e não contesto minha assinatura", diz.
Mas faz uma ressalva. "Eu negociaria um prazo menor. Trinta anos é demais. Talvez 25 fosse ideal", afirma ele.
O documento também mostra que o projeto seguirá o caderno de especificações da Fifa. Se a entidade alterar esse caderno -fato que deve ocorrer-, o contrato prevê uma "negociação de boa-fé" entre as partes. Mas, para todos os efeitos, a WTorre não será obrigada a alterar o projeto, a não ser que o clube assuma tais gastos extras.
A reportagem tentou ouvir a WTorre, sem sucesso.


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