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FUTEBOL
Para dirigentes e imprensa, insulto foi coisa normal de jogo e o erro de Desábato foi desconhecer a diferença cultural
Argentinos lamentam vítima de exagero
SILVANA ARANTES
DE BUENOS AIRES
A detenção no Brasil do jogador
Leandro Desábato, sob acusação
de racismo, foi tratada na Argentina como um exagero e uma manobra de marketing do país.
"Eles [os brasileiros] querem liderar essa onda antidiscriminatória no esporte. Somos vítimas de
exagero", declarou o dirigente do
Quilmes José Luis Meiszner ao canal de TV "Todo Noticias".
"Quer dizer que a prova é a leitura labial? Agora os jogadores terão que ficar calados em campo?",
comentou o apresentador.
O presidente do Quilmes, Daniel Razzetto, afirmou que a detenção do atleta estava armada. O
presidente da AFA (Associação de
Futebol Argentina), Julio Grondona, seguiu a mesma linha e disse que houve "certa intencionalidade" no episódio.
"Culparam alguém que não tem
absolutamente nada a ver com isso. Esse menino, Desábato, eu o
conheço, é um homem do interior", afirmou Grondona.
De acordo com o presidente da
AFA, a entidade intercedeu pelo
jogador na Justiça brasileira para
tentar obter sua liberdade.
No hotel em que estava hospedada a delegação do Quilmes, os
argentinos passaram o dia ontem
evitando a imprensa enquanto
disparavam telefonemas pedindo
ajuda para libertar o jogador.
À noite, chegaram a descer ao
lobby do hotel e ligar o ônibus do
time, mas decidiram só deixar o
país com Desábato -cerca de um
terço da delegação já havia voltado à Argentina pela manhã.
Em uma das poucas vezes em
que quebrou o silêncio, o técnico
Gustavo Alfaro disse à rádio "Eldorado", sem permitir a gravação, que estava se sentindo discriminado por ser argentino.
Da Alemanha, onde está em visita oficial do presidente Néstor
Kirchner, o ministro das Relações
Exteriores da Argentina, Rafael
Bielsa, ligou ao embaixador argentino no Brasil, segundo Razzetto. O Ministério não confirmou nem negou a informação.
Diferentes versões apareceram
nas rádios e TVs argentinas sobre
o que Desábato teria dito a Grafite. As principais variações foram
"negro filho da puta", "negro de
merda" e "lixo de negro".
A maioria dos jornalistas argentinos classificou a atitude do atleta
como "insulto normal em jogos
de futebol" e cujo teor racista é
"parte do comportamento argentino". O principal erro de Desábato, na interpretação deles, foi desconhecer a "diferença cultural" e,
sobretudo, as legislações sobre o
racismo dos dois países. A brasileira é considerada muito dura.
"Sabemos que o Brasil não tem
"low profile" neste tema [racismo],
por isso estamos muito preocupados", afirmou Meiszner.
A atenção que a imprensa brasileira dispensou ao fato também
foi alvo de crítica dos argentinos.
"Isso aqui está uma confusão. A
imprensa do Brasil está sendo
sensacionalista. Há dezenas de câmeras e até helicóptero aqui [na
delegacia]", afirmou o jornalista
Gérman Belize, que estava em São
Paulo, à rádio "Mitre".
O locutor do programa "Vitamina G", Jorge Guinzburg, ironizou: "Mas no Brasil sabem que na
Argentina ninguém conhece Desábato?". Guinzburg também
perguntou ao repórter se o jogador argentino ocupa uma cela sozinho. "Só falta que ele esteja numa cela junto com uns "moreninhos" que fiquem sabendo o motivo de sua prisão", disse.
As edições eletrônicas dos principais jornais argentinos não deram destaque à prisão de Desábato. Diferentemente do que aconteceu no Brasil, o assunto não
ocupou a manchete nem sequer
as principais chamadas.
Ao longo do dia, o termo "racismo" deixou os títulos. A notícia
passou a ser apresentado como:
"Jogador argentino detido por
chamar um rival de "negro"."
O embaixador da Argentina no
Brasil, Juan Pablo Lohlé, considerou "exagerada" a prisão. "Em jogos de futebol, todos xingam todos." Lohlé defendeu que o jogador pedisse desculpas. Na sua
opinião, Desábato não tinha a
obrigação de saber que qualificar
as pessoas como "negras" é considerado ofensa no Brasil.
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