São Paulo, sexta-feira, 15 de abril de 2005

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FUTEBOL

Sol e escuridão no futebol

ROBERTO AVALLONE
ESPECIAL PARA A FOLHA

Faz sol aqui em Itatiba, onde me recupero de um estresse. Confesso que estou feliz. E o dia promete ser glorioso não só com o sol que me deixará mais moreno mas também pela hidroginástica -única atividade que suporto no tal programa de emagrecimento.
Só que, como diz minha tia Dora, não há mal que sempre dure ou bem que nunca acabe. Pronto: já vem de novo a revolta pela destruição, gradativa, do futebol. Bem, só para polemizar, vamos aos dois lados dos assuntos desagradáveis para quem teve o privilégio de saborear a magia de Pelé, a classe de Ademir da Guia ou os dribles de Mané Garrincha.
1) A prisão de Leandro Desábato: justíssima a detenção do argentino pelo abominável racismo mais uma vez demonstrado contra um brasileiro, no caso Grafite, a quem chamou de "macaquito" ou "negrito". Lembro, porém, que em outros tempos isso já ocorreu e que o delito foi punido de outra forma. Cito Pelé, que, num jogo diante do Boca Juniors, na Bombonera, foi alvo de tal crime e respondeu com um golaço. Tão belo o gol que Pelé, sem choro nem vela, apenas teve como desforra a façanha da bola nas redes argentinas e um passar de mão na cabeça do goleiro Antonio Roma.
Aqui se faz, aqui se paga. Assim respondia Pelé, mas Pelé é Pelé, Grafite é Grafite, embora, repito, mereça a prisão o desbocado Leandro Desábato.
2) A abominável agressão a Dida: sei lá se por ser negro, ou simplesmente goleiro do Milan, o nosso titular da seleção foi duramente atingido por rojões e, desencantado, disse que, "se alguém tiver como ajudar o futebol, será bem-vindo".
Ele tem razão, assim como Waldir Perez, enquanto goleiro do São Paulo, em meados dos anos 70, ao levar pedradas na cabeça em um jogo da Libertadores diante do Independiente, em Avellaneda, ou como o heróico e injustiçado Veludo, goleiro que salvou o Brasil de uma derrota para o Paraguai, em Assunção. A partida ficou conhecida como "A Noite das Garrafadas", sendo que uma das garrafas atingiu a cabeça do negro Veludo, mas nenhum arremate paraguaio atingiu as nossas redes.
Enfim, parece, à distância, que pouca coisa mudou. Ou melhor: mudou, mas na Europa, onde a esportividade já foi tão grande que, na final da Copa de 58, os suecos enxugaram o campo, num gesto cortês, antes de serem massacrados pelo Brasil por 5 a 2, dois gols de Vavá, dois gols de Pelé e outro do tão combatido Zagallo (este, um ponta-esquerda que tinha como missão ajudar o meio-campo e fazer a cobertura do magnífico Nilton Santos, lateral moderno demais para a época).
Enfim, está aumentando a violência no mundo. O que lamento. Ou já não bastam as ações de assaltantes e seqüestradores que enchem a nossa paciência no Brasil?
Mas tudo há de mudar. Afinal de contas sou um idealista. O que significa otimista.

Palestra, Dio Mio!
Acompanho os jornais e vejo o São Paulo campeão, o Santos com os planos depois da venda de Robinho, o Corinthians montando um superesquadrão -apesar das denúncias de lavagem de dinheiro. E o Palmeiras, meu Deus!, e o Palmeiras dos meus amigos Gustavo e Aleixo, do meu filho Caio, da minha tia Dora. Nada, pois que só Juninho Paulista é pouco. Ah, senhor Contursi, que mal o Palmeiras lhe fez para o senhor deixá-lo à mercê de um novo rebaixamento? Que pena: o consolo foi ter visto, no começo da semana, no Bar do Elias, as fotos dos esquadrões palestrinos de outros tempos. Doces lembranças, amargas cenas do presente. Melhor é ficar no spa mais alguns dias, preparando-me para estrear na Band.

E-mail avallone@avallonecomunicacoes.com.br


Roberto Avallone é jornalista
Excepcionalmente hoje não é publicada a coluna de Mário Magalhães


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