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Funkeiro deixa baile e disputa título
Médio-ligeiro enfrenta ucraniano por cinturão em maio e diz ter aprendido a nocautear no sufoco de corredor polonês
Pugilista, conhecido como "Açougue", alega que quem agüenta os tapas, os socos e os chutes de "20 caras" não tem medo de um só lutador
EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL
Os nocautes aplicados em
bailes funks no Rio convenceram Carlos Nascimento, 28, de
que levava jeito para o boxe.
O atleta fluminense enfrentará o ucraniano Sergiy Dzinziruk, 31, pelo cinturão médio-ligeiro da OMB (Organização Mundial de Boxe) em 19 de
maio. A informação foi confirmada pelo presidente da entidade, o porto-riquenho Francisco ""Paco" Valcarcel e por
membro do time do ucraniano.
""[Nos bailes], tinha de passar
por um corredor com uma fila
de uns 20 caras. Levava tapão
na orelha, porrada e chute.
Quem chega ao fim leva 20, 25
cervejas. Além de ganhar umas
quatro vezes, nocauteei quatro
caras", relata ele, com orgulho.
""Se enfrentava aquele monte
de gente de uma vez, como posso ficar com medo de um cara
só? [Aquela experiência] me
deixa mais confiante", diz Nascimento, que vivia no município de Quatis, localizado a 145
km do Rio, no sul do Estado.
Mesmo com cartel de 18 lutas, com 15 nocautes, Nascimento afirma não freqüentar
mais bailes funks -foi habitué
dos 14 aos 19 anos. Alega não ter
medo de socos ou chutes.
""É perigoso, algumas pessoas
também têm facas", justifica o
lutador, que na adolescência levou até um tiro no ombro.
Nascimento decidiu fazer a
transição de brigador de rua para os ringues, onde ganhou o
apelido de ""Açougue", justamente pelo estilo agressivo.
Ele foi assistir ao combate
entre Adilson ""Maguila" Rodrigues e Daniel Frank, em 2000,
e pediu ajuda ao empresário do
ramo imobiliário Eduardo Mello, ligado ao pugilismo.
Então com cerca de 100 kg
-o limite de sua categoria hoje
é 69,8 kg-, Nascimento explicou que desejava seguir os passos do ídolo Mike Tyson e ter a
chance de subir ao ringue.
""É difícil um lutador abandonar suas tendências naturais.
Ele é brigador. Estamos ensinando-o a ser técnico, para ter
uma opção em suas lutas", analisa seu técnico, Edson ""Xuxa"
do Nascimento, com quem o
pupilo realizou inúmeras sessões de sparring no passado.
O desafio pelo cinturão pegou a equipe de surpresa, porém a novidade foi bem-vinda.
Afinal, "Açougue" debutou
no ranking da OMB, na nona
colocação, quando conquistou
o cinturão latino interino após
derrotar o argentino Arturo
""Pantera Negra" Gerez, em seu
último combate, em janeiro.
""Sei o que eles estão pensando. A [firma promotora do campeão] Universum escolheu o
Carlos porque ele acabou de
entrar no ranking. Mas não ligamos, é melhor ele ter essa
chance agora do que ter de fazer cinco lutas para ganhar essa
oportunidade", festeja Mello.
O brasileiro, porém, foi obrigado a fazer uma concessão para ganhar a oportunidade.
Sua equipe aceitou ""amarrar" contratualmente Nascimento à Universum pelas próximas três lutas, caso ele consiga trazer o cinturão ao Brasil.
Ao ver pela primeira vez uma
fotografia de seu adversário,
apresentada pela reportagem
da Folha, Nascimento comentou: ""Ele é bonitinho, né? Vou
tentar estragar a cara dele".
Ao ser questionado sobre
quais informações tem sobre o
futuro adversário, Nascimento
foi franco. ""Nada", respondeu,
para se corrigir instantes depois. ""Ele é canhoto, não é?"
Foi ao examinar a mesma foto que a equipe do brasileiro
descobriu que Dzinziruk é
branco. ""Ah, olha só, ele é branco. Alguns conhecidos haviam
dito que o ucraniano era negro", exclamou o técnico Xuxa.
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