São Paulo, quinta, 15 de abril de 1999

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Anúncio tem telão, cartas, Kafka e frases de efeito

da Reportagem Local

Frases de efeito, depoimentos em telões, citações de livros e distribuição de cartas de torcedores.
Tudo isso fez parte da entrevista coletiva concedida ontem pela cúpula da FPF (Federação Paulista de Futebol) para explicar, entre outras coisas, a divulgação de um público pagante em 12 jogos superior à capacidade dos estádios.
Erguendo o livro "O Processo", do escritor tcheco Franz Kafka (1883-1924), o vice-presidente de comercialização da FPF, Edgard Soares, disse ver semelhança entre a federação e o personagem Joseph K., que se vê alvo de perseguições ou punições sem saber o motivo.
A referência dizia respeito aos questionamentos feitos à entidade sobre as médias de público do Paulista que vinham sendo divulgadas.
Como mostrou a Folha anteontem, a federação está divulgando, em anúncios nos jornais, uma média de público "fantasia", que não corresponde ao verdadeiro número de pessoas presentes nos jogos do Paulista -e que nem cabem nos estádios.
Para corroborar o que dizia, Soares apresentou, em um telão, depoimentos de publicitários elogiando o torneio.
Um deles foi Celso Loducca, presidente e diretor de criação da Lowe Loducca, agência de publicidade que patrocina o Rio Branco, um dos participantes do torneio.
Aos jornalistas, Farah distribuiu cartas que lhe teriam sido enviadas por torcedores.
Numa delas, o signatário, identificado como Clériton Marcos Moraes, diz ter sabido que Farah estava "com um projeto de se candidatar à presidência da CBF. Acho que o que falta à CBF é alguém que saiba ajudar os times de futebol. Vejo essa ajuda (na) que foi dada ao Corinthians, que recebeu o jogador Marcelinho pelo custo zero".
"O senhor, com suas fantásticas idéias, conseguiu levar o Campeonato Paulista aos céus do futebol brasileiro", afirma a carta dirigida a Farah.
O presidente da federação comparou os jogos do torneio a um show do tenor Luciano Pavarotti para explicar por que não pagará a cota integral aos "grandes" que utilizarem os chamados times "mistos" no Paulista.
"É a mesma coisa que estivéssemos contratando o Pavarotti para cantar no Morumbi, e chegasse o Zé da Cuia. A federação não vai pagar R$ 600 mil para o Zé da Cuia."
O presidente da entidade, no entanto, mencionou critérios subjetivos para definir o que será considerado time misto. "Eu não sou dirigente de gabinete. Eu conheço as equipes de futebol", afirmou.
E, enquanto elogiava o Paulista, Farah criticou o Torneio Rio-São Paulo, dizendo que a federação não mais participará do torneio, a não ser que possa organizá-lo e determinar seu regulamento -o campeão da última edição, o Vasco, do Rio, faltou a uma partida.
"E, se os clubes participarem, eu vou embora daqui. Vou descansar. Já terminei a sede. Fiz tudo", declarou Farah. (PC e RD)



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.