São Paulo, quinta, 15 de abril de 1999

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Vinho tinto é segredo de "velhinhos-sensação' no RS

LÉO GERCHMANN
da Agência Folha, em Porto Alegre

Uma equipe de veteranos está chamando a atenção no atual Campeonato Gaúcho. O time do Veranópolis, da cidade de mesmo nome, tem idade média de 30 anos e lidera a chave 1 da competição.
Para os gaúchos, não é coincidência esse bom time de "velhinhos" ser justamente de Veranópolis -a cidade é conhecida como a "capital da longevidade". Nesse município de apenas 18 mil habitantes, as pessoas vivem muito.
A cidade, localizada na serra gaúcha (156 km ao norte de Porto Alegre), se notabilizou no início dos anos 80, quando a OMS (Organização Mundial da Saúde) registrou-a como a de maior longevidade da população no Brasil e terceira colocada no mundo.
Para seus habitantes, o grande segredo da vida longa é um hábito simples que está incorporado à rotina dos jogadores do Veranópolis: o de tomar vinho tinto.
Eles garantem que a bebida, quando tomada cotidianamente, resulta em maior resistência, juvenilidade e boa saúde.
Apesar da elevada média de 30 anos de idade, o Veranópolis está em sua chave à frente do Juventude, de Caxias do Sul, o atual campeão gaúcho.
Na chave 2, o líder é o Internacional, e, na chave 3, o Grêmio.
² Vinho e treinamento
O time é a grande novidade do futebol gaúcho.
O vinho tinto, reconhecem no clube, é parte do segredo.
"É, ajuda, mas o principal é o trabalho que fazemos", tenta desconversar o supervisor do clube, Inocêncio Bassani.
Mas reconhece: "O pessoal toma um cálice de vinho tinto nas refeições, especialmente no almoço. A gente costuma tomar o vinho da Cooperativa Noé, que é daqui".
A serra gaúcha produz quase todo o vinho brasileiro.
Em municípios como Bento Gonçalves e Veranópolis, a comunidade tem o costume de consumir vinho caseiro, hábito introduzido pelos fundadores da cidade, de origem italiana.
Do time titular, os jogadores naturais de Veranópolis, como o lateral-esquerdo Joel Cavalo, 29, o volante Joel Marcos, 32, e o atacante Zé Roberto, 33, dão o exemplo no consumo do vinho -mas, garantem, com muita moderação.
Jogadores de outros Estados, como o paranaense Toninho, 30, e o goiano Evandro, 33, vêem na cidade gaúcha a oportunidade de aliar prazer e boa forma.
Enquanto, da população brasileira com mais de 65 anos, apenas 2% passa dos 80, em Veranópolis esse índice chega a 20%.
Nos últimos cinco anos, foi registrada apenas uma morte por isquemia coronariana no município, por exemplo. Há estudos hoje que sustentam que o hábito de tomar um pouco de vinho (um cálice) durante as refeições reduz a incidência de problemas cardíacos.
Além do "consumo moderado de vinho", a longevidade em Veranópolis é atribuída pelo geriatra Emílio Moriuguchi a outros costumes tidos por ele como saudáveis: "Execução de atividades físicas regulares, ingestão correta de proteínas e gorduras, integração da comunidade, vida familiar, despreocupação com a morte oriunda da fé em Deus, gosto pelo trabalho e não fumar".
Esses pontos são resultado de um estudo realizado em 1994 na cidade pelo próprio Moriuguchi, chefe do setor de geriatria do Hospital São Lucas, com apoio da OMS.
Naturalmente, o time que está surpreendendo os gaúchos pode somar várias condições propícias à prática do futebol -o condicionamento físico, a alimentação de qualidade, o ar saudável da montanha, sem esquecer, é claro, o bom vinho da região.



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