São Paulo, sexta-feira, 15 de maio de 2009

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"Eu tenho que ganhar, preciso vencer", diz Joel

Brasileiro lida com as cobranças de torcida e dirigentes do anfitrião do Mundial

Otimista, treinador cria clima familiar na seleção e barra o maior ídolo local justamente por problemas relacionados a indisciplina


FÁBIO ZANINI
ENVIADO ESPECIAL À ÁFRICA DO SUL

Há um ano treinando a seleção da África do Sul, Joel Santana já sente os efeitos da pressão de torcida, imprensa e dirigentes por resultados mais animadores para o país que sediará a próxima Copa do Mundo.
"Eu tenho que ganhar. Preciso vencer. Eu jogo dentro de casa. Não estamos patrocinando a Copa do Mundo somente para sermos o artista coadjuvante. Queremos ser o artista principal", disse ele à Folha.
Experiente aos 60 anos de idade e quase 30 de treinador, o brasileiro diz que sabe lidar com as cobranças da torcida.
Na semana passada, ignorando a pressão, anunciou uma bomba: barrou da Copa das Confederações o atacante Benni McCarthy, ídolo local, por motivos disciplinares.
Joel chegou subitamente para treinar uma equipe que vinha sendo preparada por Carlos Alberto Parreira. A desistência de Parreira no ano passado, alegando razões pessoais, somou mais um componente de incerteza para uma seleção que procura, sem sucesso, estabilidade e constância.
O time perdeu dois dos últimos três jogos que disputou, mas o brasileiro procura não ver nisso um mau agouro.
No país, é palpável o temor de um vexame na Copa do Mundo e na das Confederações, no mês que vem.
O presidente do comitê organizador de ambos os eventos, Danny Jordaan, não disfarça a cobrança. "Será um desastre se o time não chegar pelo menos à semifinal da Copa das Confederações", afirmou Jordaan.
O problema todo, diz Joel, é que na África do Sul há muita cobrança por um time ofensivo, e a defesa é menosprezada. "O jogador sul-africano é parecido com o brasileiro. Gosta de jogar o futebol de qualidade, de drible, de finta, de show."
Dá de ombros aos palpites sobre sua escalação com metáforas que costumam arrancar risos dos assessores. "Futebol é como paladar. Às vezes você quer mais açúcar, menos açúcar, quer mais sal, menos sal."
Seria, nas suas palavras, "suicídio" formar um time só de jogadores ofensivos. "Às vezes, você bota quatro atacantes e teu time não é ofensivo. O que procuramos é um equilíbrio: defesa sólida, meio-campo de marcação e criatividade, ataque rápido e finalizador."
Se Benni é um desafeto, Joel tem seus preferidos. A base de sua equipe é formada pela dupla de meio-campo Teko Modise e Siphiwe Tshabalala, ambos jogando em times locais, que têm a mescla de marcação e ofensividade que ele busca.
Mas seu atleta predileto, agora que Benni virou história, é Bernard Parker, 23, que joga no Estrela Vermelha (Sérvia). Joel desmancha-se em elogios e não disfarça um sentimento paternal. "É um bom garoto."
Uma filosofia que ele aplica a todo o grupo, num eco do que foi marqueteado no Brasil como a "Família Scolari".
"Minha família agora é aqui. Precisamos estar juntos e nos gostarmos para suportar a responsabilidade que será depositada nesses jogadores", declara.


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