São Paulo, sábado, 15 de maio de 2010

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MOTOR

Geração perdida


Após anos de abandono, categorias de base ganham novo fôlego em 2010 graças a iniciativas particulares


FÁBIO SEIXAS
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE

NA TERÇA, falei com Caio Lara.
Quem? Pois é... Este colunista, que deveria saber, também não conhecia, nunca tinha visto ou ouvido falar. Mas neste caso, excepcionalmente, exime-se de culpa. O erro tampouco é seu, Caio. Longe disso.
Ele tem 19 anos. E corre desde os 17 na América do Norte, na F-Mazda: motor de 240 cavalos, câmbio sequencial de seis marchas, chassis Panoz, 13 etapas em circuitos os mais variados nos EUA e Canadá, grids lotados -na última etapa, em St. Petersburg, foram 36 carros.
Está lá para aprender. Para se encontrar. Porque, no Brasil, sua geração não teve chance. Estava perdida.
Caio mal correu -em todos os sentidos- por aqui. Depois do kart, em 2006, encontrou um nada, um vazio deixado pelo fim da F-Renault.
Havia a F-São Paulo, alguém pode argumentar. Uma categoria frankenstein, com chassi pré-histórico de F-Ford, motor Volkswagen, divulgação inexistente, público idem.
Havia uma F-3. Com carros velhos, grids minguados, sem patrocinadores, abraçada e largada pela Vicar.
Havia nada, portanto.
E a solução de Caio para continuar o sonho de ser piloto foi o aeroporto.
"Minha saída foi precoce, acho, mas não tinha opção. Tinha medo de ficar aqui e não ter um grid, não acumular uma experiência tão boa em carros de corrida. Pena", lançou.
Os garotos da sua faixa etária que tiveram a mesma chance (leia-se, dinheiro) fizeram o mesmo, espalharam-se por aí. Os outros ficaram pelo caminho, sepultaram os sonhos.
Mas esta é uma coluna para cima. Porque, ufa, o cenário mudou. Ou muda a partir de hoje, em Brasília.
Após dois anos de recuperação, com a compra de novos carros em 2009, a F-3 abre a temporada com patrocínio da Petrobras, transmissão da última prova do domingo pela RedeTV, pilotos estrangeiros e inaugurando sua escola, F-Universitária.
Ainda neste mês, o país ganhará mais uma categoria de monopostos: a F-Future Fiat, organizada por Massa, faz sua estreia nos dias 29 e 30, em Jacarepaguá. De reboque, o Trofeo Linea e a 600 Super Sport, este um campeonato de motos.
São todas iniciativas particulares, de empresários, de gente abnegada, de um raro piloto com ótima visão.
Sorte de quem está saindo do kart agora e pode fazer a base por aqui, sem atropelos, sem queimar etapas.
A geração de Caio, em grande parte, se perdeu. E aí não tem mais jeito, o estrago já foi feito: daqui a alguns anos o país sofrerá com a falta de renovação em categorias de ponta.
Mas talvez o esforço de agora torne esse hiato mais curto. Talvez a gente volte a conhecer os pilotos pelos nomes e acompanhe nossa base como nos tempos de Barrichello, Christian, Castro Neves, Kanaan...
Quando (e se) acontecer, lembre-se: não teve nada a ver com a CBA.

fabioseixas.folha@uol.com.br


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