São Paulo, quinta-feira, 15 de junho de 2006

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Juca Kfouri

Quem te viu e te vê

Alemanha venceu, mas suou e deixou Beckenbauer com desejo de ir a campo

ALEMANHA e Polônia fizeram um jogo duro. Disputado, viril, duro de cintura e de ver sem se emocionar com o esforço. Verdade que a transmissão do locutor Ralf Scholte, da ARD alemã, é um bálsamo para os ouvidos mais sensíveis e para os torcedores de maior sensibilidade.
Mesmo ao narrar um jogo de seu país, e em sua casa, Scholte respeita a inteligência do telespectador, incapaz de um grito. Conversa com o telespectador, não fala sem parar porque sabe que não está numa emissora de rádio, faz pausas longas, permite que se ouça o som do estádio, o alarido da torcida, que, por sinal, não pára de cantar.
Mas a Polônia, presa fácil do Equador, complicou a vida germânica, incrivelmente pouco criativa, embora melhor na defesa do que contra a Costa Rica. Michael Ballack, o capitão, líder, cérebro e grande estrela da seleção, é uma espécie assim de Rodrigo Fabri, embora em desvantagem quando se lembra do brasileiro na Portuguesa ou no Grêmio. Danilo, do São Paulo, seria rei.
Mas não se diga que os alemães não criaram chances. Criaram até muitas, invariavelmente desperdiçadas pela dupla que tem a função de transformá-las em gol. Nem o jovem Podolski, porém, nem mesmo o experiente Klose, ambos, por coincidência, nascidos na Polônia, estavam em boa noite. Nas tribunas, Franz Beckenbauer, sofria. Tentava disfarçar a irritação que sentia à custa de sua tradicional elegância. E deve ter ficado com uma tremenda vontade de descer ao gramado, pedir um par de chuteiras e ensinar como é que se faz.
A Alemanha pode tudo, até ser tetra. Afinal, em 2002, também com uma equipe fraca, chegou à final, no distante Japão. Não será de bom tom subestimá-la. Só que, se o milagre ocorrer, teremos o mais medíocre campeão mundial da história.
Quando, aos 75min, a Polônia ficou reduzida a dez atletas devido à expulsão de Sobolewski, ficou a sensação de que tudo mudaria. E, aos 91min, Neuville, mudou, com justiça. Porque a Alemanha, apesar de tudo, pode. Scholte vibrou, sem gritaria.


blogdojuca@uol.com.br

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