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Nos acréscimos, alemães ganham jogo e seu povo
Antes desacreditados, seleção e seu técnico conquistam fãs ao superar Polônia
Com um gol aos 46min do 2º tempo, Neuville inflama torcida, que gritou após a partida "Berlim, nós vamos para Berlim", local da final
GUILHERME ROSEGUINI
DO ENVIADO ESPECIAL A DORTMUND
Ireneusz Jelen deve ter se arrependido da heresia que cometeu. Aos 46min do segundo
tempo, quando caminhava vagarosamente para ser substituído por um companheiro, o
polonês levou a mão aos ouvidos, num claro gesto de desafio
à vaia que tomava da torcida
alemã. Parecia crer que seu time já havia assegurado o primeiro ponto no Mundial.
Não deu nem tempo de o cronômetro mudar. Um cruzamento de David Odonkor encontrou Oliver Neuville na pequena área. Alemanha 1 a 0, invicta e com vaga praticamente
assegurada para a segunda fase.
Quase todos os atletas miraram Jelen e outros poloneses
na comemoração. Afinal, era
hora do revide. A exceção ficou
justamente para o homem que
tinha mais motivos para celebrar aquele gol. Jürgen Klinsmann preferiu correr na direção de seus atletas. Abraçou especialmente Odonkor e Neuville, ambos sacados do banco de
reservas por ele na etapa final.
Questionado durante toda a
preparação da Alemanha, criticado pela afobação de sua defesa no jogo de estréia, contra a
Costa Rica, e ofendido ontem
ao tirar o meia Schweinsteiger
na etapa final, o treinador conheceu enfim sua redenção.
Saiu do Estádio de Dortmund aplaudidíssimo. Seus
compatriotas, antes ressabiados com as possibilidades da
seleção, berravam "Berlim,
Berlim, nós vamos para Berlim". A capital recebe a decisão
da Copa em 9 de julho.
"Estou muito orgulhoso da
equipe, principalmente pela
forma com que manteve a pressão para fazer o gol. Esse é o espírito que estávamos procurando", celebrou o técnico.
Era um final apoteótico para
um dia que não havia começado
nada bem para os alemães.
Problemas surgiram até longe dos gramados. O jogo contra
a Polônia, considerado de risco,
mobilizou número recorde de
policiais até aqui: 250 mil.
Mais: houve treinamento especial só para o duelo, e cerca
de 300 torcedores poloneses,
notórios baderneiros, foram
proibidos de entrar na Alemanha durante a Copa.
O plano parecia ter dado certo. Numa ação preventiva, 200
poloneses foram detidos a caminho do estádio. Eles portavam facas e barras de metal.
Mesmo assim, houve incidentes, causados por alemães.
Cerca de 120 entusiastas do time de Klinsmann brigaram
com policiais. Não houve prisões no estádio, avisou um porta-voz da polícia de Dortmund.
A violência surgiu também
no campo. Disposta a segurar o
0 a 0 a todo custo, a Polônia
abusava das faltas e da catimba.
Esta, aliás, era magistralmente praticada pelo goleiro
Artur Boruc, com simulações
de contusão ou longos atrasos
para cobrar os tiros de meta.
"Não sei por que ficam reclamando. Isso faz parte do jogo."
Ele também fez boas defesas,
mas contou com a ajuda de
compatriotas "infiltrados" no
outro elenco. Miroslav Klose e
Lukas Podolski, ambos nascidos na Polônia e portadores de
cidadania alemã, perderam
chances claras na primeira e na
segunda etapa. "A sorte parecia
que não estava do nosso lado.
Mas tentamos até encontrar a
recompensa", resume Klose,
que acertou o travessão.
Michael Ballack fez o mesmo, na etapa final. Astro alemão, ele estreou na Copa após
desfalcar o time na abertura.
O meia era um dos mais entusiasmados. Após o apito final,
chamou os companheiros para
uma volta olímpica. Na caminhada, agradeceram à torcida.
A reviravolta é surpreendente. Dias atrás, encontrar um
alemão que falasse com confiança na possibilidade de ver
sua seleção na final era tarefa
das mais espinhosas. Ontem,
milhares deles desfilavam por
Dortmund. Nem Klinsmann
parecia acreditar. "A seleção vai
crescer aos poucos. Mas agora,
se tivermos mais apoio, nossas
chances vão aumentar."
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