São Paulo, quinta-feira, 15 de junho de 2006

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Nos acréscimos, alemães ganham jogo e seu povo

Antes desacreditados, seleção e seu técnico conquistam fãs ao superar Polônia

Com um gol aos 46min do 2º tempo, Neuville inflama torcida, que gritou após a partida "Berlim, nós vamos para Berlim", local da final


GUILHERME ROSEGUINI
DO ENVIADO ESPECIAL A DORTMUND

Ireneusz Jelen deve ter se arrependido da heresia que cometeu. Aos 46min do segundo tempo, quando caminhava vagarosamente para ser substituído por um companheiro, o polonês levou a mão aos ouvidos, num claro gesto de desafio à vaia que tomava da torcida alemã. Parecia crer que seu time já havia assegurado o primeiro ponto no Mundial.
Não deu nem tempo de o cronômetro mudar. Um cruzamento de David Odonkor encontrou Oliver Neuville na pequena área. Alemanha 1 a 0, invicta e com vaga praticamente assegurada para a segunda fase.
Quase todos os atletas miraram Jelen e outros poloneses na comemoração. Afinal, era hora do revide. A exceção ficou justamente para o homem que tinha mais motivos para celebrar aquele gol. Jürgen Klinsmann preferiu correr na direção de seus atletas. Abraçou especialmente Odonkor e Neuville, ambos sacados do banco de reservas por ele na etapa final.
Questionado durante toda a preparação da Alemanha, criticado pela afobação de sua defesa no jogo de estréia, contra a Costa Rica, e ofendido ontem ao tirar o meia Schweinsteiger na etapa final, o treinador conheceu enfim sua redenção.
Saiu do Estádio de Dortmund aplaudidíssimo. Seus compatriotas, antes ressabiados com as possibilidades da seleção, berravam "Berlim, Berlim, nós vamos para Berlim". A capital recebe a decisão da Copa em 9 de julho.
"Estou muito orgulhoso da equipe, principalmente pela forma com que manteve a pressão para fazer o gol. Esse é o espírito que estávamos procurando", celebrou o técnico.
Era um final apoteótico para um dia que não havia começado nada bem para os alemães.
Problemas surgiram até longe dos gramados. O jogo contra a Polônia, considerado de risco, mobilizou número recorde de policiais até aqui: 250 mil.
Mais: houve treinamento especial só para o duelo, e cerca de 300 torcedores poloneses, notórios baderneiros, foram proibidos de entrar na Alemanha durante a Copa.
O plano parecia ter dado certo. Numa ação preventiva, 200 poloneses foram detidos a caminho do estádio. Eles portavam facas e barras de metal.
Mesmo assim, houve incidentes, causados por alemães. Cerca de 120 entusiastas do time de Klinsmann brigaram com policiais. Não houve prisões no estádio, avisou um porta-voz da polícia de Dortmund.
A violência surgiu também no campo. Disposta a segurar o 0 a 0 a todo custo, a Polônia abusava das faltas e da catimba.
Esta, aliás, era magistralmente praticada pelo goleiro Artur Boruc, com simulações de contusão ou longos atrasos para cobrar os tiros de meta. "Não sei por que ficam reclamando. Isso faz parte do jogo."
Ele também fez boas defesas, mas contou com a ajuda de compatriotas "infiltrados" no outro elenco. Miroslav Klose e Lukas Podolski, ambos nascidos na Polônia e portadores de cidadania alemã, perderam chances claras na primeira e na segunda etapa. "A sorte parecia que não estava do nosso lado. Mas tentamos até encontrar a recompensa", resume Klose, que acertou o travessão.
Michael Ballack fez o mesmo, na etapa final. Astro alemão, ele estreou na Copa após desfalcar o time na abertura.
O meia era um dos mais entusiasmados. Após o apito final, chamou os companheiros para uma volta olímpica. Na caminhada, agradeceram à torcida.
A reviravolta é surpreendente. Dias atrás, encontrar um alemão que falasse com confiança na possibilidade de ver sua seleção na final era tarefa das mais espinhosas. Ontem, milhares deles desfilavam por Dortmund. Nem Klinsmann parecia acreditar. "A seleção vai crescer aos poucos. Mas agora, se tivermos mais apoio, nossas chances vão aumentar."


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