São Paulo, sexta-feira, 15 de junho de 2007

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FÁBIO SEIXAS

Tubo de ensaio

Assim como Schumacher e Senna, Hamilton choca por ser uma novidade, que tem tudo para virar tendência

O MUNDINHO da F-1 está entre embasbacado, encantado e encafifado. Ou sentindo tudo isso. Tudo ao mesmo tempo agora. E tudo resumido a uma única e pertinente pergunta: "Como pode?".
Como pode um piloto estreante, um moleque que até o ano passado dirigia um carro com 580 cavalos, de repente chegar ao olimpo do esporte, a um carro 60% mais potente, e fazer o que Hamilton está fazendo? Como pode não sucumbir às pressões do enjoado companheiro de equipe, do rigoroso chefe, da esperançosa imprensa britânica? Como pode, nas largadas, passar imune aos toques? Como pode, nos GPs, fugir das armadilhas armadas pelos rivais mais experientes? Como pode (um pecado!) sorrir no paddock? Como pode, enfim, não errar? Como pode?
Um neozelandês, matemático, astrofísico e neurocientista, afirma ter as respostas. "Hamilton está preparado. Ele não vai falhar." Há quatro anos, a missão de Kerry Spackman -que passou a estudar os pilotos após conhecer Jackie Stewart e se impressionar com seu autocontrole- é preparar Hamilton.
Em reportagem publicada pelo "El País", na terça, ele explica seus métodos. Diz que "conduzir um F-1 é como fugir de um tigre". Ensina que a categoria é "um meio que ameaça sua vida, em que você absorve muitos impactos e sofre fortes emoções o tempo todo, mas que exige reações de um enxadrista". E, depois de comparar o cérebro dos pilotos a supercomputadores, revela seu paradigma: "Quando Schumacher rodava numa curva, já calculava 10 mil soluções e escolhia a melhor".
No dia-a-dia, conta, ele e Hamilton fazem exercícios de repetição, simulando problemas. A tarefa do pupilo, determinar as soluções. Não se trata, aqui, de imputar a Spackman e a seus métodos todo o sucesso do inglês. Primeiro, porque há muito mais coisa envolvida. Segundo, porque, particularmente, sou cético em relação a esse tipo de trabalho. Terceiro, porque visitei o site do neozelandês e... sei não.
O que responde a boa parte dos "como pode" é um fato concreto, o de a McLaren tê-lo contratado. O matemático-astrofísico-neurocientista é apenas uma parte do projeto de formação do piloto. Desde os 12 anos, quando foi adotado pela equipe, Hamilton conta também com nutricionista, preparador físico, psicólogo e outras bossas.
Depois do "fitness" Senna e do "robótico" Schumacher, que também embasbacaram, encantaram e encafifaram, para depois virarem padrão, Hamilton faz o mesmo por ser, como eles, novidade. Quer um rótulo? Ok, "piloto de laboratório".
Sim, equipes já adotaram e lançaram pilotos. Mas nunca os formaram do zero. Hamilton talvez tenha talento nato e talvez fizesse o mesmo sucesso se caísse de pára-quedas, hoje, num F-1. Mas não foi assim, foi assado. E, por isso, o assado vai virar tendência, regra, receita. Pode esperar. Como pode!

fseixas@folhasp.com.br


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