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FÁBIO SEIXAS
Tubo de ensaio
Assim como Schumacher e Senna, Hamilton choca por ser uma novidade, que tem tudo para virar tendência
O MUNDINHO da F-1 está entre
embasbacado, encantado e
encafifado. Ou sentindo tudo
isso. Tudo ao mesmo tempo agora. E
tudo resumido a uma única e pertinente pergunta: "Como pode?".
Como pode um piloto estreante,
um moleque que até o ano passado
dirigia um carro com 580 cavalos, de
repente chegar ao olimpo do esporte, a um carro 60% mais potente, e
fazer o que Hamilton está fazendo?
Como pode não sucumbir às pressões do enjoado companheiro de
equipe, do rigoroso chefe, da esperançosa imprensa britânica? Como
pode, nas largadas, passar imune aos
toques? Como pode, nos GPs, fugir
das armadilhas armadas pelos rivais
mais experientes? Como pode (um
pecado!) sorrir no paddock? Como
pode, enfim, não errar? Como pode?
Um neozelandês, matemático, astrofísico e neurocientista, afirma ter
as respostas. "Hamilton está preparado. Ele não vai falhar."
Há quatro anos, a missão de Kerry
Spackman -que passou a estudar os
pilotos após conhecer Jackie Stewart e se impressionar com seu autocontrole- é preparar Hamilton.
Em reportagem publicada pelo
"El País", na terça, ele explica seus
métodos. Diz que "conduzir um F-1
é como fugir de um tigre". Ensina
que a categoria é "um meio que
ameaça sua vida, em que você absorve muitos impactos e sofre fortes
emoções o tempo todo, mas que exige reações de um enxadrista". E, depois de comparar o cérebro dos pilotos a supercomputadores, revela seu
paradigma: "Quando Schumacher
rodava numa curva, já calculava 10
mil soluções e escolhia a melhor".
No dia-a-dia, conta, ele e Hamilton fazem exercícios de repetição,
simulando problemas. A tarefa do
pupilo, determinar as soluções.
Não se trata, aqui, de imputar a
Spackman e a seus métodos todo o
sucesso do inglês. Primeiro, porque
há muito mais coisa envolvida. Segundo, porque, particularmente,
sou cético em relação a esse tipo de
trabalho. Terceiro, porque visitei o
site do neozelandês e... sei não.
O que responde a boa parte dos
"como pode" é um fato concreto, o
de a McLaren tê-lo contratado.
O matemático-astrofísico-neurocientista é apenas uma parte do projeto de formação do piloto. Desde os
12 anos, quando foi adotado pela
equipe, Hamilton conta também
com nutricionista, preparador físico, psicólogo e outras bossas.
Depois do "fitness" Senna e do
"robótico" Schumacher, que também embasbacaram, encantaram e
encafifaram, para depois virarem
padrão, Hamilton faz o mesmo por
ser, como eles, novidade. Quer um
rótulo? Ok, "piloto de laboratório".
Sim, equipes já adotaram e lançaram pilotos. Mas nunca os formaram do zero. Hamilton talvez tenha
talento nato e talvez fizesse o mesmo sucesso se caísse de pára-quedas, hoje, num F-1. Mas não foi assim, foi assado. E, por isso, o assado
vai virar tendência, regra, receita.
Pode esperar. Como pode!
fseixas@folhasp.com.br
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