São Paulo, terça-feira, 15 de junho de 2010

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Meu querido ditador

Técnico quer vitória sobre o Brasil hoje para alegrar o "grande líder" Kim Jong-il e "mostrar a força mental" do povo

DOS ENVIADOS A JOHANNESBURGO

Mais longa ditadura do planeta, a Coreia do Norte entra em campo hoje diante do Brasil "para alegrar o querido líder Kim Jong-il".
De volta ao Mundial após 44 anos, o país mais isolado do mundo trata o futebol como questão de Estado. Cercou seu time de mistérios durante a preparação e usa internamente a disputa da Copa para demostrar ao seu povo "a força da nação".
"Nosso talento vai ser revelado se ganharmos amanhã [hoje] e vai alegrar muito nosso grande líder, Kim Jong-il, além de mostrar a força mental do nosso povo", disse o técnico Kim Jong- -hun. Na curta entrevista coletiva de ontem, citou três vezes o nome do ditador.
A Coreia do Norte é comandada há 65 anos pela família de Kim Jong-il. O atual líder governa o país stalinista desde 1994, quando herdou o cargo do pai, o "presidente eterno" Kim Il-sung, que esteve no poder por 49 anos.
Embora a Fifa tenha tentado evitar o clima político na entrevista, o treinador deu uma de porta-voz do regime de Pyongyang, com direito a todos os clichês. Além de elogiar várias vezes o seu líder e o "poder do seu povo", Kim Jong-hun fez questão de hostilizar os sul-coreanos.
"Exijo que você chame o meu país de República Democrática Popular da Coreia do Norte. Não quero ouvir nenhuma outra denominação", afirmou ele aos sul-coreanos quando questionado sobre o futuro de sua seleção.

GUERRA FRIA COREANA
Os dois países estão tecnicamente em guerra desde os anos 50. Depois da Guerra da Coreia (1953), nunca foi assinado um tratado de paz, somente um "cessar-fogo".
Sem usar o pin com a imagem do ditador na camisa, uma obrigação para os cidadãos norte-coreanos em Pyongyang, o treinador manteve o discurso nacionalista até o final da entrevista.
Ele contou que decidiu trabalhar com o futebol após assistir à campanha surpreendente da Coreia do Norte em 1966. Os norte-coreanos foram os primeiros asiáticos a ultrapassar a primeira fase do torneio. Na ocasião, eles eliminaram a Itália e por pouco não venceram Portugal.
"Tinha apenas dez anos naquela época. Aquilo me inspirou a trabalhar no futebol pelo meu povo", disse Kim Jong-hun. "O nosso primeiro objetivo é passar às oitavas de final. Depois, ir o mais longe possível."
(EDUARDO ARRUDA, MARTÍN FERNANDEZ, PAULO COBOS E SÉRGIO RANGEL)


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