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Oposição ameaça pedir o bloqueio de bens de Dualib
Grampos da Polícia Federal mostram que presidente do Corinthians falou sobre transferir patrimônio ao Uruguai
Plano é evitar que cartola
proteja seus recursos em
caso de ser responsabilizado
por eventuais prejuízos
ao clube durante sua gestão
EDUARDO ARRUDA
PAULO GALDIERI
DA REPORTAGEM LOCAL
RICARDO PERRONE
DO PAINEL FC
Alberto Dualib corre o risco
de enfrentar nova ação na Justiça, agora com o bloqueio de
seus bens. A oposição ameaça
fazer isso por causa do que batizou de "Operação Uruguai".
A investigação conduzida pelo Ministério Público Federal,
que denunciou o cartola por lavagem de dinheiro e formação
de quadrilha, detectou, em escutas telefônicas feitas pela Polícia Federal, o dirigente conversando sobre a transferência
de bens ao Uruguai.
No diálogo, ocorrido em 30
de junho deste ano, Dualib discute o assunto com o advogado
José Alves, que também é conselheiro do clube. A operação,
segundo o cartola, ocorreria
por meio de uma offshore (empresa com sede em paraísos fiscais que mantém sigilo sobre a
identidade dos sócios), identificada como Deu ou Dell, segundo a Procuradoria.
Num outro diálogo, Renato
Duprat, empresário que se tornou homem forte do futebol
corintiano, aconselha o presidente a não contar "para mais
ninguém, senão poderia ter
problemas". Ele não fez isso.
O cartola já tinha dito a outros dirigentes do clube que estava transferindo os seus bens
para uma empresa uruguaia. A
conversa chegou aos ouvidos
da oposição, que, antes de os
procuradores revelarem o caso,
já tentava obter uma relação
com os imóveis do cartola.
Nos últimos meses, Dualib
vinha dizendo a conselheiros
que estava perdendo o seu patrimônio por causa do clube.
Chegou a afirmar numa reunião do Conselho que ele e o vice Nesi Curi deixaram uma fortuna no Parque São Jorge.
Opositores suspeitam que
ele já estava preparando a
transferência dos bens. Nesi
Curi, que pode passar pelo
mesmo processo, costuma dizer que tem apenas um imóvel
em seu nome. Em 2004, Dualib
mostrou à Folha uma relação
de imóveis. Eram 74 na época.
Algumas ações jurídicas são
estudadas para tentar tornar
indisponíveis os bens do dirigente. "Ele deve estar prevendo que algo pode ocorrer e quer
se preservar", diz o conselheiro
Rubens Approbato Machado.
"Mas, se ficar provado que
seus atos prejudicaram o clube
financeiramente, é claro que
ele vai pagar com os bens dele",
afirmou o ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil.
O Corinthians vive grave crise financeira. No mês passado,
Dualib sofreu sua primeira derrota no Conselho Deliberativo
e teve as contas de sua gestão,
no ano de 2006, reprovadas.
O déficit divulgado pela situação foi de R$ 53 milhões. A
oposição, no entanto, contesta
esse número e diz que o rombo
supera os R$ 72 milhões.
A turbulência e as acusações
da Justiça Federal contra Dualib fizeram com que o vice-presidente financeiro do clube,
Emerson Piovezan, decidisse
deixar o cargo, temendo responder por operações financeiras que diz desconhecer.
Algumas ações de Dualib
também explicam a penúria financeira do Corinthians. Ele
retornou no mês passado de
Londres, onde ficou 53 dias
com Duprat e teve todas as despesas pagas pelo clube.
Prometeu trazer US$ 10 milhões (cerca de R$ 20 milhões)
para injetar no time. Retornou
de mãos vazias e com gastos
que chegaram a R$ 500 mil.
Ao mesmo tempo, o clube
não consegue pagar seus fornecedores. Um comerciante que
vende pães ao Corinthians interrompeu o acordo por causa
de uma dívida de R$ 5.000.
A Folha telefonou para Dualib, mas ele não respondeu às
ligações. Na última quinta, em
nota oficial, o presidente disse
que todos os atos, fatos e documentos que envolveram a relação de administração do departamento de futebol foram praticados dentro dos princípios
da legislação vigente, em especial dos que tratam do registro,
da contabilização e de suas relações com as áreas financeiras, tributárias e fiscais.
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