São Paulo, domingo, 15 de julho de 2007

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Oposição ameaça pedir o bloqueio de bens de Dualib

Grampos da Polícia Federal mostram que presidente do Corinthians falou sobre transferir patrimônio ao Uruguai

Plano é evitar que cartola proteja seus recursos em caso de ser responsabilizado por eventuais prejuízos ao clube durante sua gestão

EDUARDO ARRUDA
PAULO GALDIERI
DA REPORTAGEM LOCAL

RICARDO PERRONE
DO PAINEL FC

Alberto Dualib corre o risco de enfrentar nova ação na Justiça, agora com o bloqueio de seus bens. A oposição ameaça fazer isso por causa do que batizou de "Operação Uruguai".
A investigação conduzida pelo Ministério Público Federal, que denunciou o cartola por lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, detectou, em escutas telefônicas feitas pela Polícia Federal, o dirigente conversando sobre a transferência de bens ao Uruguai.
No diálogo, ocorrido em 30 de junho deste ano, Dualib discute o assunto com o advogado José Alves, que também é conselheiro do clube. A operação, segundo o cartola, ocorreria por meio de uma offshore (empresa com sede em paraísos fiscais que mantém sigilo sobre a identidade dos sócios), identificada como Deu ou Dell, segundo a Procuradoria.
Num outro diálogo, Renato Duprat, empresário que se tornou homem forte do futebol corintiano, aconselha o presidente a não contar "para mais ninguém, senão poderia ter problemas". Ele não fez isso.
O cartola já tinha dito a outros dirigentes do clube que estava transferindo os seus bens para uma empresa uruguaia. A conversa chegou aos ouvidos da oposição, que, antes de os procuradores revelarem o caso, já tentava obter uma relação com os imóveis do cartola.
Nos últimos meses, Dualib vinha dizendo a conselheiros que estava perdendo o seu patrimônio por causa do clube. Chegou a afirmar numa reunião do Conselho que ele e o vice Nesi Curi deixaram uma fortuna no Parque São Jorge.
Opositores suspeitam que ele já estava preparando a transferência dos bens. Nesi Curi, que pode passar pelo mesmo processo, costuma dizer que tem apenas um imóvel em seu nome. Em 2004, Dualib mostrou à Folha uma relação de imóveis. Eram 74 na época.
Algumas ações jurídicas são estudadas para tentar tornar indisponíveis os bens do dirigente. "Ele deve estar prevendo que algo pode ocorrer e quer se preservar", diz o conselheiro Rubens Approbato Machado.
"Mas, se ficar provado que seus atos prejudicaram o clube financeiramente, é claro que ele vai pagar com os bens dele", afirmou o ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil.
O Corinthians vive grave crise financeira. No mês passado, Dualib sofreu sua primeira derrota no Conselho Deliberativo e teve as contas de sua gestão, no ano de 2006, reprovadas.
O déficit divulgado pela situação foi de R$ 53 milhões. A oposição, no entanto, contesta esse número e diz que o rombo supera os R$ 72 milhões.
A turbulência e as acusações da Justiça Federal contra Dualib fizeram com que o vice-presidente financeiro do clube, Emerson Piovezan, decidisse deixar o cargo, temendo responder por operações financeiras que diz desconhecer.
Algumas ações de Dualib também explicam a penúria financeira do Corinthians. Ele retornou no mês passado de Londres, onde ficou 53 dias com Duprat e teve todas as despesas pagas pelo clube.
Prometeu trazer US$ 10 milhões (cerca de R$ 20 milhões) para injetar no time. Retornou de mãos vazias e com gastos que chegaram a R$ 500 mil.
Ao mesmo tempo, o clube não consegue pagar seus fornecedores. Um comerciante que vende pães ao Corinthians interrompeu o acordo por causa de uma dívida de R$ 5.000.
A Folha telefonou para Dualib, mas ele não respondeu às ligações. Na última quinta, em nota oficial, o presidente disse que todos os atos, fatos e documentos que envolveram a relação de administração do departamento de futebol foram praticados dentro dos princípios da legislação vigente, em especial dos que tratam do registro, da contabilização e de suas relações com as áreas financeiras, tributárias e fiscais.


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