São Paulo, domingo, 15 de agosto de 2004

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Se jogue na balada

Na noite grega, dançarinas com biquínis brancos, a loura de farmácia e o Raul Gil helênico animam a platéia formada por poderosos chefões e campeões de jiu-jitsu e regada a uísque e flores, muitas flores

PAULO SAMPAIO
ENVIADO ESPECIAL A ATENAS

O primeiro dia de maratona começou um pouco mais tarde porque teve "noite grega" na sexta. O nome do lugar é Riba's, fica em uma praia chamada Alianthos Varkiza, a sudeste de Atenas, e foi indicado como um dos mais típicos daqui. Para chegar, é preciso passar por boa parte da orla sul, que tem calçadões intercalados por estradas em encostas, onde motoqueiros fazem curvas praticamente deitados no chão.
Freqüentado pelos "Onassis" da cidade, o lugar tem dimensões faraônicas, capacidade para 1.200 pessoas, um palco redondo iluminado por luzes feéricas verdes e uma piscina coberta por uma passarela, na lateral, de onde surgem os cantores na hora do show.
Na porta, o visitante é recebido no topo da escadaria de mármore por uma loura de farmácia muito bronzeada, toda de branco, com uma pantalona aberta na lateral até o limite da calcinha, frente única e unhas imensas prateadas.
"Kalispera!" ("Boa noite!"), ela saúda quem chega.
Jornalista e fotógrafo são recebidos com todas as honras da casa e encaminhados por cinco homens de terno bege para uma das mesas que estão dispostas num semicírculo, entre o palco e um cenário de janelas falsas pintadas de salmão e azul. Os personagens que assistem ao show parecem saídos de um filme de máfia: cada mesa tem o seu poderoso chefão, que bebe muito, se emociona com os intérpretes, canta junto e paga 160 euros (mais de R$ 500) por uma garrafa de uísque -sem contar os acompanhamentos.
Quinze moças de minissaia saem o tempo todo dos bastidores das tais janelas-cenários, no lado oposto ao do palco, carregando bandejas de isopor quadradas, empilhadas: famintos, jornalista e fotógrafo pensam em algum prato típico grego. Errado.
As bandejas estão cheias de flores (só o botão, sem o cabo) e custam 15 euros, cada. Poderoso chefão e família compram de pilha, para jogar nos cantores que se apresentam, como uma homenagem.
"Amo este lugar", diz o industrial Panagioti Theodoropoulos, 50, enchendo o copo do repórter de uísque. Ele está na primeira fila do show, com os dois filhos campeões de jiu-jitsu e já jogou mais de 20 bandejas de flores no palco (cerca de 300 euros). A mesa de Theodoropoulos, que veste uma calça amarela e uma camisa social de linho aberta no peito, está cheia de flores sobre uma tábua de frios e queijos, tudo misturado.
Quatro cantores muito conhecidos na Grécia se apresentam até 4h. "Conheço Vassilis [Karras] há 30 anos", diz Theodoropoulos sobre o cantor que se apresenta, espécie de Raul Gil de terno branco.
Antes de Vassilis, estiveram no palco Tóli Voskopoulos, Stelios Dionysiou e Marina Solonos. Muito bronzeada, cabeleira farta e vestido justo terminando em pontas, Marina grita muito, lança os cabelos para um lado e para o outro, requebra e levanta os braços, numa linguagem cênica que ofuscaria até mesmo uma drag queen mexicana.
De repente, sete outras dançarinas vestidas com biquínis tipo duas peças brancos e botinhas entram pela passarela da piscina, em fila, dançando passos de jazz dos anos 80.
O povo vibra. E tome bandeja de flores!

Day after
A lembrança da alegre noitada grega é o combustível espiritual para vencer os ingratos três primeiros quilômetros de maratona. Ninguém na calçada, e, como passam poucos carros, é possível ouvir o calor.
A 2,5 km da largada, do lado direito, uma pequena estrada leva ao museu da cidade de Maratona, que não tem a ver com a corrida, mas com mapas e estátuas referentes a 5.000 anos da história da região. Recém-inaugurado, reserva boas surpresas.


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