São Paulo, domingo, 15 de agosto de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

NATAÇÃO

Mais vitorioso nadador do Brasil faz sua última prova e já tem planos de torcedor

Borges lembra de Barcelona, do calor seco e de como é difícil parar de nadar

DO ENVIADO A ATENAS

A cidade é quente como a da primeira Olimpíada. Os adversários são fortes como os que lhe tomaram a primeira medalha de ouro. A responsabilidade está sob seus ombros, como em quase todos os torneios da carreira.
A cabeça de Gustavo Borges mergulhou em um caleidoscópio no dia de encerrar sua trajetória esportiva. Conclusão do exame da memória: parar de nadar não é uma tarefa das mais simples.
"Claro que estou um pouco ansioso. É normal. Eu nunca parei antes. Essa é a primeira vez", diz o atleta de 31 anos.
E será a única. Isso se seu planejamento for seguido à risca. Borges arquitetou o fim de sua história nas piscinas em 2003.
Após o Pan-Americano de Santo Domingo, anunciou que Atenas marcaria o passo final de seu caminho. Depois, pediu para ser porta-bandeira na cerimônia de abertura. Perdeu para o velejador Torben Grael, mas conquistou o direito de carregar o símbolo no encerramento dos Jogos.
"Já estou montando a lista dos esportes a que vou assistir na semana que vem, quando não estarei mais competindo", afirma.
Ele integra hoje o revezamento 4 x 100 m livre, que tem eliminatórias marcadas para às 6h, mesma prova na qual conquistou sua derradeira medalha olímpica -bronze em Sydney-2000.
A coleção começou oito anos antes. Em Barcelona-1992, a prata nos 100 m livre só veio após muito sofrimento. O placar eletrônico errou, colocou Borges em oitavo e só depois de um protesto por escrito o resultado foi corrigido.
"É curioso lembrar de Barcelona agora. Era uma cidade com um clima muito parecido com esse calor seco aqui de Atenas."
Por causa desse sol, seus últimos dias na Vila Olímpica têm sido cumpridos na sacada do apartamento. É lá que os brasileiros jogam baralho no fim da tarde. É lá, também, que Borges demonstra um pouco da ansiedade.
"Ele vive feito um relógio, dizendo "faltam dois dias, um dia, para eu pendurar a sunga'" relata Eduardo Fischer.
Não é bem a sunga. Hoje ele nada com os trajes ditos modernos, que diminuem o atrito com a água. O material é bem diferente do usado aos nove anos, quando conquistou a primeira medalha.
O torneio era uma gincana escolar em Ituverava (São Paulo), cidade onde nasceu. Borges ficou atrás de Fernando Fagione e Renê Bertelli nos 50 m livre.
"Agora eles batem na minha cintura, mas ainda tiram sarro por terem me vencido naquele dia", recorda o atleta, que tem 2,03 m de altura e pesa 98 kg.
Formado em economia pela Universidade de Michigan, nos EUA, já tem outras preocupações longe do esporte. É dono de uma academia em São Paulo e cuida dos filhos Gustavo e Gabriela, frutos do casamento com a ex-nadadora espanhola Barbara Franco.
Mesmo assim, não descuida da imagem de exemplo para a nova geração. "Dou uns toques, mando dormir cedo. Vou parar, mas esse povo aqui continua. Preciso caprichar para que eles guardem boas lembranças de mim", afirma. (GUILHERME ROSEGUINI)

Texto Anterior: Personagens: Recordista e musa buscam novo pódio e feitos inéditos
Próximo Texto: Faltou tarja preta na abertura
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.