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SONINHA
Continua incomodando
O Campeonato Brasileiro está muito interessante, mas o fiasco da seleção de Parreira na Copa-2006 ainda perturba
SE ATÉ hoje se discute se Barbosa e Bigode foram os grandes
vilões, se a culpa foi do "excesso de favoritismo" e do oba-oba da
véspera ou -menos freqüentemente- se o Uruguai era um bom time e
o jogo seria equilibrado de qualquer
jeito; se ainda discutimos 1982 (fatalidade ou incompetência; beleza x
eficácia) e 1998 (complô, bobeira geral ou apenas uma ocorrência do futebol), imagine por quanto tempo
ainda vamos falar sobre o fiasco brasileiro na Copa de 2006.
O tema continua em pauta, não só
porque o Brasil joga nesta semana
pela primeira vez desde a derrota
para a França. Se Ronaldinho e Robinho fazem belas jogadas e gols em
amistosos de seus clubes, a reação
da maioria deve ser como a de Tadeu
Schmidt, no "Bom Dia Brasil": "Não
sei se fico feliz ou com raiva". Em todo lugar -um velório, um restaurante ou um saguão de teatro-, aparece alguém para perguntar: "Para
vocês que estavam lá, o que foi que
aconteceu? Salto alto, desinteresse,
desunião?".
Em entrevista ao "Globo" de domingo, Parreira comenta o lance
emblemático do gol de Henry. Estavam contidos ou representados ali
vários elementos que explicam nosso fracasso -a bendita meia caída do
Roberto Carlos foi um símbolo e
tanto do trabalho malfeito.
Dias antes, nosso titular absoluto
assistia ao jogo contra o Japão refestelado à beira do campo, como se
não fosse uma partida oficial de Copa do Mundo, como se dissesse: "Isso aí não vale nada, e só por isso estou fora. Deixa que se divirtam um
pouco". Um desdém e falta de respeito que deveriam ter sido tolhidos
pela comissão técnica, que decidiu
homenagear Rogério Ceni em substituição do tipo "só pra dizer que jogou", indicando que aquilo era café-com-leite mesmo.
Na cobrança de falta de Zidane, o
lateral ficou desatento. "Não era eu
quem devia marcar o Henry." Caramba, isso o eximia da responsabilidade de ao menos ver o jogo como
espectador privilegiado, que poderia
interferir se quisesse? Ele preferiu
dizer "não era problema meu", como se evitar o gol não fosse problema do time todo. Imagine se um atacante não tira a bola em cima da linha do seu gol: "Não sou zagueiro...".
Comentários posteriores revelam
o quanto esse lance foi a culminância de uma preparação muito malfeita; o quanto o tempo de treinamento simplesmente não serviu para preparar o time para situações de
jogo. Os jogadores deram versões diferentes sobre quem devia estar na
área -o fato é que só havia três brasileiros para cinco franceses, um erro primário. Parreira diz que "Cafu
ou Kaká" deveria marcar Henry. Como diz o PVC (comentarista da
ESPN), esse "ou" é mau sinal... Tinha de ter alguém claramente designado para marcar o Henry! E, se nenhum dos dois estava ali, se Roberto
Carlos pensou que não precisava se
preocupar, se ninguém mais atentou para o fato de que o principal
atacante da França estava sozinho
num lance de bola parada, em que dá
tempo de todo mundo se ajeitar!,
não se pode falar só em "erro individual" mas em colapso coletivo, pelo
qual o técnico tem de responder.
Também Parreira atribui ao favoritismo parte da culpa pela derrota.
Então, ele falhou no que dizia ser sua
principal tarefa: administrar talentos. Após a estréia complicada, qualquer excesso de confiança deveria
ter sido varrido, mas o técnico insistia que estava tudo bem, que era só
questão de tempo. Talvez fosse ele o
confiante em excesso, a ponto de insistir até o fim em jogadores e esquemas que não funcionavam... Ou de
apostar em formação inédita em jogo de vida ou morte, como o último.
A decepção de 2006 continuará
palpitando por muito tempo... Embora costumemos dizer que ninguém liga para a seleção, só para seu
próprio time.
soninha.folha@uol.com.br
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