São Paulo, quarta-feira, 15 de agosto de 2007

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no papel

Ricardinho diz que errou e agora tira família do país

Insatisfeito com corte no Pan, jogador lança livro e afirma que sua vida mudou

Levantador anuncia fim da "família Bernardinho" e fala que sua saída desfaz o pacto de manter grupo unido até os Jogos de Pequim-2008


MARIANA LAJOLO
ENVIADA ESPECIAL A MARINGÁ

Quando soube que a convocação para o Sul-Americano estava sendo feita por e-mail, Ricardinho vasculhou suas quatro contas na internet. Não encontrou a mensagem que esperava desde o corte do Pan.
Fora de novo da seleção, o melhor levantador do mundo decidiu tirar o time do foco de sua vida. Cancelou a matrícula da filha na escola e levará a família à Itália, onde joga no Modena. No Pan, Bernardinho disse que pensava em tê-lo no Sul-Americano, em setembro.
"Não é só um corte. O que aconteceu muda a minha vida. Eu mudei completamente. Todo o nosso planejamento havia sido em razão da seleção."
O planejamento do livro "Levantando a Vida", lançado ontem em Maringá (PR), também. O último capítulo seria o Pan. Virou a tentativa de explicar a maior crise do mais vitorioso time de vôlei do mundo.
Ricardinho poupa críticas e não chega a conclusões, mas admite que cometeu um erro.
"Se eu tivesse ouvido mais meu irmão, minha família, se não tivesse me posicionado de forma tão enfática em algumas situações, tenho certeza de que ainda estaria no grupo", disse.
Ricardinho cita reclamações por viagens extenuantes e condições precárias de hotéis durante a Liga Mundial deste ano -comida fria, quarto sem ar-condicionado e limpo só duas vezes em três semanas.
"Na véspera do primeiro jogo contra a Finlândia, tive uma reunião com a comissão técnica para discutir como seria o resto da viagem. Nem sempre o ambiente fica tranqüilo nessas discussões", escreveu ele.
O ex-capitão cita também a divisão do R$ 1,2 milhão em caso de conquista do Pan. "Desde 2005 eu não discuto a premiação. Como tivemos pouco tempo para negociar, decidimos que não iríamos dividir com a comissão técnica por votação, como na escola. O Giba levou isso ao Bernardinho", disse.
Ricardinho ainda se mostra bastante magoado com o corte. No lançamento do livro, chegou a chorar ao relembrá-lo.
"A ferida está aberta. Se ele [Bernardinho] se explicar publicamente, ou entre quatro paredes, eu voltarei, até porque faço parte do Brasil. Mas vai ser uma relação profissional."
Ricardinho, aliás, disse que não acredita mais que exista uma "família Bernardinho".
"Isso foi um slogan criado não sei por quem. Pode até existir para o grupo que está lá, mas, vendo de fora, vejo que era uma fantasia", declarou.
No último capítulo do livro, o jogador cita texto que rabiscou pouco antes das finais da Liga. Lá, dizia aos companheiros que eles tiveram "brigas e verdades" na viagem. "Acho ótimo, uma vez que sempre vivemos como uma família", escreveu.
Durante o Pan, pessoas ligadas a Bernardinho afirmaram que a influência do levantador sobre os jogadores o incomodava. E que ele teria tentado pôr fim a essas duas "lideranças conflitantes" no grupo.
Ricardinho afirmou ontem que inclusive o pacto de seguir com o grupo até Pequim-2008 foi quebrado no momento em que ele deixou a sala de reunião em um hotel no Rio, após o corte. Por cerca de dez minutos, o treinador disse que a relação entre eles estava desgastada e que não o suportava mais.
"A gente podia ter resolvido aquilo ali. Não precisava ter sido feito daquela forma", disse.
Ricardinho, porém, exime os atletas que não o defenderam.
"Eles foram pegos de surpresa. E cada um tem uma reação. Eu quebraria a mesa, mas esse é o meu jeito, não dá para cobrar isso das pessoas", afirmou.


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