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no papel
Ricardinho diz que errou e agora tira família do país
Insatisfeito com corte no Pan, jogador lança livro e afirma que sua vida mudou
Levantador anuncia fim da
"família Bernardinho" e fala
que sua saída desfaz o pacto
de manter grupo unido até
os Jogos de Pequim-2008
MARIANA LAJOLO
ENVIADA ESPECIAL A MARINGÁ
Quando soube que a convocação para o Sul-Americano estava sendo feita por e-mail, Ricardinho vasculhou suas quatro contas na internet. Não encontrou a mensagem que esperava desde o corte do Pan.
Fora de novo da seleção, o
melhor levantador do mundo
decidiu tirar o time do foco de
sua vida. Cancelou a matrícula
da filha na escola e levará a família à Itália, onde joga no Modena. No Pan, Bernardinho disse que pensava em tê-lo no Sul-Americano, em setembro.
"Não é só um corte. O que
aconteceu muda a minha vida.
Eu mudei completamente. Todo o nosso planejamento havia
sido em razão da seleção."
O planejamento do livro "Levantando a Vida", lançado ontem em Maringá (PR), também. O último capítulo seria o
Pan. Virou a tentativa de explicar a maior crise do mais vitorioso time de vôlei do mundo.
Ricardinho poupa críticas e
não chega a conclusões, mas
admite que cometeu um erro.
"Se eu tivesse ouvido mais
meu irmão, minha família, se
não tivesse me posicionado de
forma tão enfática em algumas
situações, tenho certeza de que
ainda estaria no grupo", disse.
Ricardinho cita reclamações
por viagens extenuantes e condições precárias de hotéis durante a Liga Mundial deste ano
-comida fria, quarto sem ar-condicionado e limpo só duas
vezes em três semanas.
"Na véspera do primeiro jogo
contra a Finlândia, tive uma
reunião com a comissão técnica para discutir como seria o
resto da viagem. Nem sempre o
ambiente fica tranqüilo nessas
discussões", escreveu ele.
O ex-capitão cita também a
divisão do R$ 1,2 milhão em caso de conquista do Pan. "Desde
2005 eu não discuto a premiação. Como tivemos pouco tempo para negociar, decidimos
que não iríamos dividir com a
comissão técnica por votação,
como na escola. O Giba levou
isso ao Bernardinho", disse.
Ricardinho ainda se mostra
bastante magoado com o corte.
No lançamento do livro, chegou a chorar ao relembrá-lo.
"A ferida está aberta. Se ele
[Bernardinho] se explicar publicamente, ou entre quatro paredes, eu voltarei, até porque
faço parte do Brasil. Mas vai ser
uma relação profissional."
Ricardinho, aliás, disse que
não acredita mais que exista
uma "família Bernardinho".
"Isso foi um slogan criado
não sei por quem. Pode até
existir para o grupo que está lá,
mas, vendo de fora, vejo que era
uma fantasia", declarou.
No último capítulo do livro, o
jogador cita texto que rabiscou
pouco antes das finais da Liga.
Lá, dizia aos companheiros que
eles tiveram "brigas e verdades" na viagem. "Acho ótimo,
uma vez que sempre vivemos
como uma família", escreveu.
Durante o Pan, pessoas ligadas a Bernardinho afirmaram
que a influência do levantador
sobre os jogadores o incomodava. E que ele teria tentado pôr
fim a essas duas "lideranças
conflitantes" no grupo.
Ricardinho afirmou ontem
que inclusive o pacto de seguir
com o grupo até Pequim-2008
foi quebrado no momento em
que ele deixou a sala de reunião
em um hotel no Rio, após o corte. Por cerca de dez minutos, o
treinador disse que a relação
entre eles estava desgastada e
que não o suportava mais.
"A gente podia ter resolvido
aquilo ali. Não precisava ter sido feito daquela forma", disse.
Ricardinho, porém, exime os
atletas que não o defenderam.
"Eles foram pegos de surpresa. E cada um tem uma reação.
Eu quebraria a mesa, mas esse é
o meu jeito, não dá para cobrar
isso das pessoas", afirmou.
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