São Paulo, sexta-feira, 15 de agosto de 2008

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XICO SÁ

O brilhante ouro da vingança


Quis o destino que Pedro Dias e João Derly tirassem as suas diferenças em Pequim, no maior espetáculo da terra

AMIGO TORCEDOR , que Michael Phelps que nada, o grande personagem destes de Pequim é o gajo e valente Pedro Dias, a quem no trágico e inevitável tatame da existência coube o papel de um confesso chifrudo olímpico.
Não ria, amigo, é doloroso e bonito, ponha um fado, aumente o volume, todos nós, mais cedo ou mais tarde, vestimos a mesma carapuça, somos todos Bentinhos na vida.
Ai, Mouraria, ai Tejo que carrega todas as dores do mundo, coube ao judoca português, numa estupenda sinceridade d'alma, dizer de onde vinha a sua fúria de indomável touro: "Questão de saias". Havia sido traído, confessou, pelo oponente e favoritíssimo brasileiro João Derly, na categoria meio-leve -se é que pode existir leveza em tais circunstâncias.
Quis o destino, esse mascarado trocista, que o gajo encontrasse justo o Derly pela frente. Não em um beco escuro, não em uma taberna esquecida do Alentejo, não no largo dos Aflitos, bastante estreito a essa altura, caro amigo Antônio José, esse gênio de Irará e derredores, bastante estreito para caber tanta aflição e orgulho de macho ferido.
Quis o destino, essa mão que manipula as assombrações internas de um homem como quem balança mamulengos e fantoches, que Pedro e João tirassem as suas diferenças no maior espetáculo da terra. O que poderia ser uma meia dúzia de tabefes e sopapos, sob as vistas de inflamados bebuns da rua Augusta, virou uma contenda olímpica.
O certo é que o ressentido gajo derrotou impiedosamente o bicampeão mundial, o favoritíssimo "canalha" brasileiro, no maldizer do judoca português. Coube, então, ao jornal "A Bola", um matutino lisboeta, cravar a melhor e imbatível manchete destes Jogos até agora: "Matar o traidor e depois morrer".
Sim, depois de lavar a alma com a peixeira moral que todo corno traz na bota ou na cintura, Pedro perdeu duas lutas e a chance de medalhas.
Naquele momento, a sua vingança brilhava mais do que o sol alentejano, do que todo o ouro de Phelps.
É, amigo, o gajo provou que um homem sem um chifre é mesmo um animal indefeso. Se o humilde e sedentário cronista fizesse parte do COB, iria escalar apenas atletas com dores de amor e outros objetos pontiagudos parafusados à testa, como diria o escriba Marçal Aquino.

D de Deus e do Diabo
Para não dizer que não falei do futiba, esporte de macho por excelência, um jogo no domingo decide a sorte de um dos maiores clubes brasileiros de todos os tempos, o Santa Cruz, o Santinha, o tricolor do Arruda, o time de Nunes, Joãozinho e Fumanchu. Dos meus amigos Evaldo Costa, Samarone Lima e Inácio França, o Santinha de Elói, de Fred Jordão, Fábio Trummer e Rogério Bonsucesso Samba Clube. Pena é que joga justamente contra o meu Icasa, o Verdão do Cariri, que segue forte rumo à Série B. O duelo decide a sorte na Série C e a possível e mortal descida ao inferno da quarta divisão, a Série D, D de Deus, D de Dante e D também do Diabo. Então que a justiça seja feita, que vença o melhor no plano terreno, no caso o estádio Romeirão, o colosso do Pirajá, o gigante da Meca do Cariri, como a religiosa cidade de Juazeiro é conhecida.

xico.folha@uol.com.br



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