São Paulo, quarta-feira, 15 de setembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUTEBOL

Quando parecia mais prestigiado, treinador surpreende com renúncia

Bielsa deixa o cargo 17 dias após dar o ouro à Argentina

Marcos Brindicci/Reuters
Marcelo Bielsa, que ontem pediu demissão da seleção argentina


RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

Marcelo Bielsa não é mais o técnico da Argentina. O treinador renunciou ontem menos de três semanas após conquistar inédita medalha de ouro para seu país.
"Após o último jogo em Lima pelas eliminatórias [vitória por 3 a 1 sobre o Peru], notei que a energia necessária para todas as tarefas da seleção, que exige grande responsabilidade, já não existia. O motivo para a renúncia é a falta de energia", disse Bielsa.
Julio Grondona, presidente da federação argentina, foi surpreendido com a renúncia, mas já procura substituto -Carlos Bianchi e Héctor Cúper estão cotados.
Bielsa assumiu a seleção argentina após a Copa de 1998. Fez uma silenciosa renovação na equipe e, inicialmente, conseguiu bons resultados, em especial nas eliminatórias para a Copa de 2002. Porém o fracasso no Mundial -a Argentina chegou como favorita e não passou da primeira fase- o deixou desconfortável no posto.
Na seleção principal, foram 68 partidas (42 vitórias e dez derrotas). Não conseguiu títulos. À frente da seleção sub-23, foram 13 jogos (11 vitórias, nenhuma derrota). Ganhou o Pré-Olímpico, no Chile, e a Olimpíada, na Grécia.
A derrota para o Brasil nos pênaltis na final da Copa América foi o segundo grande dissabor de Bielsa. Apesar de alguns desfalques, o treinador levou seu time principal para a disputa no Peru, mas acabou surpreendido na decisão pelo Brasil B de Parreira.
"Merecíamos aquele título", diz Bielsa, que foi a Atenas ainda mais pressionado a conseguir uma conquista. A medalha de ouro interrompeu uma "fila" de 11 anos do país, que havia fracassado em todas as competições oficiais de peso desde a Copa América-93.
Os torcedores argentinos, que em grande parte dos seis anos de Bielsa na seleção criticaram o treinador, demonstravam mais confiança em seu trabalho nos últimos meses. Apesar do vice no torneio continental, a Argentina vem se apresentando bem em campo.
Passados 17 dias do ouro -o primeiro da Argentina após 52 anos-, Bielsa deixou Grondona em situação complicada. "Estou surpreso. Acho que houve um desgaste geral após tanto tempo. Há momentos em que não há energia para continuar. Ocorreu algo assim com Bielsa", disse Grondona ao jornal "Clarín".
O principal dirigente argentino tem problemas burocráticos para acertar com Cúper -ele saiu da Inter, mas não deve assumir outra equipe agora devido a uma cláusula contratual- e problemas pessoais com Bianchi, o preferido de muitos e que já deixou a seleção em segundo plano em sua carreira outras vezes.
"A renúncia está dentro de sua lógica. Ele está muito machucado", disse Rafael Bielsa, chanceler argentino que é irmão do treinador e que o defendia publicamente das críticas. Segundo ele, só o título da Copa América deixaria Marcelo confortável no cargo.
Ontem, o zagueiro Ayala, capitão da seleção argentina, mostrou muita tristeza com a notícia da saída de Bielsa. "É uma notícia que me deixou gelado", afirmou o jogador do Valencia, que foi um dos veteranos argentinos que ganharam o ouro em Atenas.

Com agências internacionais

Texto Anterior: Futebol: Pressão sobre Valdson irrita técnico corintiano
Próximo Texto: Frase
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.