São Paulo, quarta-feira, 15 de setembro de 2004

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ATLETISMO

Presidente do comitê viaja a Atenas para convidar o grego que socorreu maratonista brasileiro a visitar o Brasil

COB quer trazer "anjo" de Vanderlei ao país

DA REPORTAGEM LOCAL

A primeira tentativa de viabilizar um aperto de mãos entre Vanderlei Cordeiro de Lima e o homem que o livrou de um agressor durante a maratona nos Jogos de Atenas começa a sair do papel.
O presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman, desembarca entre hoje e amanhã na Grécia para acompanhar a Paraolimpíada. Em sua agenda, um compromisso já está definido: convidar Polyvios Kossivas para conhecer o Brasil.
O nome é o do senhor de barba branca que tomou a iniciativa de auxiliar Vanderlei na tarde do dia 29 de agosto, quando o ex-padre irlandês Cornelius Horan invadiu a pista e atrapalhou a performance do brasileiro. Sua identidade foi revelada ontem pela Folha.
Nuzman explica que, antes da publicação da reportagem, já tinha planos de procurar pelo espectador que afastou Vanderlei do ex-sacerdote e, aos berros de "vai, vai", o incentivou a ficar em pé e retornar para a disputa.
O atleta estava no 36º dos 42,195 km da maratona quando foi abordado. Era o líder. Depois do incidente, acabou ultrapassado pelo italiano Stefano Baldini (ouro) e pelo norte-americano Mebrahtom Keflezighi (prata).
Dirigentes do Brasil dizem que a história não acabou. Prometem apelar e tentar buscar a medalha dourada na Corte de Arbitragem do Esporte, localizada em Lausanne, na Suíça. É a última instância em julgamentos esportivos.
Para Kossivas, nem é preciso. "Um dia, espero encontrá-lo e explicar como é grande minha admiração pelo feito que ele conseguiu, contar que respeito sua coragem e força e, finalmente, dizer que ele é o verdadeiro vencedor da maratona", contou ele, que nasceu e vive em Atenas com a mulher Julia e seus três filhos.
Seu maior desejo é apertar a mão de Vanderlei, ação que tentou executar no dia seguinte à competição e não conseguiu.
A idéia do presidente do COB é tornar essa cena viável em meados de dezembro, quando a entidade promoverá uma cerimônia para entregar prêmios aos melhores atletas olímpicos da temporada. Vanderlei vai ser um dos homenageados. A data da celebração ainda não está definida.
Mesmo assim, Ricardo D'Angelo, técnico do medalhista olímpico, já comemora o encontro. "Queremos muito agradecê-lo pela ajuda esplendorosa", diz.
Kossivas trabalha como vendedor e já demonstrou interesse em viajar para o Brasil com o intuito de conhecer o maratonista. Ele atuou como jogador de basquete do clube Sporting por nove anos.
Nunca recebeu um prêmio. Mas conta que sua formação esportiva foi fundamental para tomar a atitude de ajudar o maratonista.
"Naquele momento, agi por impulso. Só que fui acostumado desde minha época de atleta a servir e cumprir o "ey agonizestai'", disse.
A expressão usada por Kossivas deriva da Grécia antiga. Servia para balizar a luta pelo primeiro lugar em modalidades esportivas baseada em boas maneiras entre os adversários. Grosso modo, é o que hoje se chama de "fair play".
"A disputa da maratona olímpica não foi justa. Vi o Vanderlei perder ao menos 30 segundos com aquele ataque. Tinha que fazer alguma coisa", lembra.
(GUILHERME ROSEGUINI)


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