São Paulo, sexta-feira, 15 de outubro de 2004

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BASQUETE

Vila da Penha, surgido há dois anos e sem local fixo para treinar, é caçula do torneio, que não terá clubes de futebol

Rio abre Estadual amador e sem-quadra

Roberto Price/Folha Imagem
O técnico Leonardo Costa conversa com jogadores durante treino frustrado por pelada de vôlei


ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO

O treino está marcado para as 20h, no Clube Beneficente Sargento da Marinha, na Vila da Penha (zona norte do Rio). A quadra, no entanto, já está ocupada por um grupo que joga uma animada partida de vôlei.
Sem opção, os atletas do Vila da Penha nem batem bola. Só papo à beira da quadra. A poucos dias da estréia no Estadual, no domingo, contra a UFRJ, aproveitam o tempo para acertar os documentos para a inscrição no torneio.
"Foi apenas um desencontro de informação", minimiza o treinador Leonardo Costa, 30, justificando a impossibilidade de colocar seus jogadores na quadra, que não tem as mesmas medidas do campo oficial, nem conta com tabela de acrílico e aro retrátil.
Com o time do bairro na disputa, o Estadual do Rio tem início hoje, com Campos x Municipal.
Pela primeira vez, não terá clubes de futebol, que outrora dominaram o esporte no Estado. Dos quatro grandes, só o Flamengo disputou o Nacional-04. Nem o vice-campeonato salvou o time. Em crise, o clube deixou o adulto. Vasco, Botafogo e Fluminense já haviam abandonado o barco.
"Pensávamos que não viveríamos sem os grandes. Mas, como São Paulo, estamos investindo em times de empresas e nos interiorizando", aponta Guilherme Kroll, superintendente da federação.
A lacuna deixada por eles também foi preenchida por times como o Vila da Penha. "Juntamos um grupo que ficou sem opção depois que os times de futebol saíram do basquete. Quase todos os jogadores já disputaram o Estadual, alguns em clubes como Flamengo e Vasco", conta Leonardo.
A equipe surgiu há dois anos, em uma conversa de amigos do bairro. Marcele, 26, irmã de Leonardo, é a supervisora. Rodrigo, 32, outro irmão, está no elenco.
Até então, o Vila da Penha só havia disputado torneios amadores, sem vínculo com a federação. Neste ano, porém, participou do Rio Open, promovido pela entidade. Ficou em quarto lugar. Acabou convidado a participar do campeonato profissional.
"Vi a dedicação deles e resolvi ajudar", conta Marcele, que arrumou patrocínio para a confecção de dois jogos de camisa da equipe.
Com Rosa Fernandes, vereadora com forte atuação no bairro, obteve ônibus para transportar o elenco nos confrontos em Campos, Rio das Ostras, Macaé e Teresópolis. Nos duelos no Rio, cada um se vira para chegar ao ginásio.
Sem quadra para mandar seus jogos, o time obteve uma mãozinha de Oscar, que deixou as quadras e se tornou diretor do Telemar. O dirigente ofereceu ao time da Penha as preliminares de suas partidas, no Miécimo da Silva, em Campo Grande (zona oeste).
"O problema é que não dará para casar as partidas em muitas rodadas porque nós jogamos aqui e eles fora", lamenta Leonardo.
O atraso no pagamento, que afligiu atletas de Flamengo, Vasco, Botafogo e Fluminense nos últimos anos, não será propriamente um problema no Vila da Penha.
"Você está brincando? O time é amador. Ninguém ganha nada para jogar", conta Marcele, quando questionada sobre salários.
O amadorismo do time contrasta com o orçamento polpudo do Telemar, que gasta R$ 350 mil mensais, divididos entre a Prefeitura do Rio (R$ 150 mil) e a empresa de telefonia (R$ 200 mil).
Marcele tem se desdobrado para arrumar uma quadra disponível para o grupo se reunir à noite. Como todos os atletas exercem outras atividades, os treinos só acontecem após o expediente.
Pior para Anderson, 26, que é funcionário público, trabalha em Bonsucesso (zona norte), mas mora em Itaboraí, a 48 km do Rio.
"Nos dias de treino, chego em casa por volta de uma da manhã e tenho que acordar às 5h para ir ao trabalho", conta ele. "O jeito é cochilar no ônibus. Não importa o barulho. O problema é que já perdi meu ponto umas duas vezes. Mas o treino da noite é sagrado."
Com cinco desempregados no elenco, Marcele, que é bancária, tenta viabilizar um patrocínio quase insignificante. Quer fornecer vale-transporte para esses atletas irem ao treino. "Tenho perdido o sono por causa disso."


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