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GP Brasil 2009
Uma nova chance
Em 2009, Rubens Barrichello despediu-se de Interlagos como quem se despedia da carreira.
Sem perspectivas na Honda, com o mercado fechado, já começava a planejar o futuro em outra categoria. Mas tudo mudou. Ele ganhou um caro revolucionário. E, cenário que nem ele imaginava, chega a Interlagos para seu 17º GP Brasil com status de esperança da torcida e com uma chance de título no horizonte
FÁBIO SEIXAS
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE
TATIANA CUNHA
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando, um dia, decidir que é hora de parar ou n ão encontrar
equipe para prosseguir, Rubens
Barrichello talvez sinta um déjà
vu. Há um ano, após disputar seu 16º GP Brasil, seu tom foi de despedida da F-1. Rejeitado
pela Honda, então dona de sua equipe, e com
o mercado fechado para 2009, tinha poucas
chances de continuar. Mas veio a reviravolta.
Quem saiu foi a montadora, Ross Brawn
comprou o time, assinou novo contrato com
o brasileiro, uma nova e surpreendente história começou. Com um carro revolucionário, vitórias, o título no horizonte. E a 17ª tentativa de vencer em casa, uma das melhores.
Nem Barrichello esperava. Mas, de novo, Interlagos está com ele.
A vitória em casa, uma velha
obsessão, tornou-se um meio,
não um fim. Rubens Barrichel-
lo chega a Interlagos com um
sonho bem maior desta vez.
Vice-líder do Mundial, 14
pontos atrás de Jenson Button,
precisa descontar ao menos
cinco do companheiro de
Brawn para levar a decisão da
F-1 para a última etapa, em Abu
Dhabi, e manter a esperança de
dar ao Brasil o primeiro título
desde o tricampeonato de Ayrton Senna, em 1991.
Se não conseguir, o piloto inglês deixará São Paulo com o
campeonato já assegurado.
Missão difícil. Mas no cenário ideal: a pista em que cresceu, seu quintal na infância e
onde já flertou com vitórias.
"Sem dúvida, Interlagos é um
grande palco para eu dar continuidade à disputa do Mundial.
É um circuito em que sempre
andei forte e que gosto demais",
falou Barrichello à Folha.
"Além disso, sei usar a energia
de uma maneira boa hoje."
Mas não foi sempre assim.
Mais de 16 anos já se passaram
desde que acelerou um F-1 pela
primeira vez no circuito, em
1993, com um Jordan, em sua
segunda corrida na categoria.
Na época, tinha a sombra de
Senna, que naquele ano venceu
pela segunda vez o GP Brasil.
No ano seguinte, mais uma
vez com os olhos de Interlagos
voltados para o tricampeão,
que fazia sua estreia pela Wil-
liams, o piloto participou da
prova como mero coadjuvante.
Mas na corrida as coisas mudaram. Pole, Senna rodou e não
completou. Para alento da torcida, porém, Barrichello e seu
Jordan chegaram em quarto.
Pouco mais de um mês depois daquele GP, porém, seu
amadurecimento, que vinha
num ritmo gradual, sofreu um
baque com a morte de Senna.
E a esperança de ver em Barrichello um novo ídolo transformou-se num peso enorme
para o piloto. Uma responsabilidade que ele mesmo assumiu
quando ainda não estava preparado. E que acabou se refletindo em seu desempenho nas
temporadas que se seguiram.
Em 1995, no primeiro GP
Brasil em Interlagos sem Senna, Barrichello viveu um final
de semana para esquecer.
Apesar de outros dois brasileiros disputarem a prova -Roberto Moreno e Pedro Paulo
Diniz-, era no piloto da Jordan
que a esperança da torcida se
depositava a partir de então.
Mas já na sexta-feira as coisas começaram mal para Barrichello, quando o motor Peugeot de seu Jordan explodiu.
No treino de classificação, ele
rodou e ficou apenas na 16ª colocação. Na corrida, a situação
não melhorou. O brasileiro
abandonou por problemas hidráulicos na caixa de câmbio.
Um ano depois, o cenário começou bem mais animador.
Com um carro modesto, Barrichello conseguiu o segundo lugar no grid, para delírio da torcida. No GP, porém, não foi páreo para os carros de Williams,
Benetton e Ferrari. Para piorar,
na 60ª volta o piloto rodou e
não completou a prova. Era
apenas o início de um longo jejum de pontos em São Paulo.
A mudança para a Stewart
em 1997 não alterou muita coisa para Barrichello em Interlagos. Foram outros dois anos
sem completar o GP Brasil.
Em 1999, no entanto, a história parecia tomar um rumo diferente. Terceiro no grid, ultrapassou David Coulthard na largada. Na sequência, superou
também Mika Hakkinen, assumindo a liderança da prova. Foram 23 voltas de festa nas arquibancadas até o motor de seu
Stewart estourar na Junção.
As seguidas decepções foram
esquecidas em setembro daquele mesmo ano, quando a
Ferrari anunciou que, a partir
da temporada seguinte, o brasileiro seria companheiro de time de Michael Schumacher.
Com a oportunidade real de
vencer pela primeira vez uma
corrida em casa, vieram também as promessas. "Chego à
Ferrari com sete anos de experiência na F-1. Então, se eu falar
simplesmente que quero chegar em segundo lugar numa
corrida, não vou estar sendo
sincero. O que eu quero é ganhar. Minha meta é ganhar, e
estou com um carro competitivo", disse ele, no início de 2000.
Interlagos se entusiasmou de
novo. Com as arquibancadas
vestidas de vermelho, recebeu
Barrichello para seu primeiro
GP Brasil pela Ferrari. Para nada: quarto no grid, abandonou
com problemas hidráulicos.
Em 2001, de novo a torcida
vestiu vermelho. De novo, o piloto viveu um drama. Um problema no motor enquanto levava sua Ferrari para o grid o forçou a voltar à pé aos boxes para
pegar o carro reserva. Na terceira volta, uma batida com
Ralf Schumacher o tirou do GP.
"Foi como levar uma facada nas
costas", falou, aos prantos.
No ano seguinte, outro azar.
Uma pane hidráulica o fez
abandonar o GP Brasil quando
liderava. Em 2003, de novo empurrado pelo público, Barrichel-lo conquistou sua primeira pole em Interlagos. Mas uma
pane seca acabou com o sonho
quando ele estava na liderança.
O terceiro lugar em 2004
marcou o fim do jejum de pontos de Barrichello no Brasil.
Um ano depois, despediu-se
da Ferrari e do protagonismo
em casa com um sexto lugar.
Substituído por Felipe Massa
no time italiano em 2006, Barrichello viu o compatriota vencer em Interlagos logo em seu
ano de estreia no time. Na Honda, o máximo que conseguiu
naquele GP foi o sétimo posto.
A prova do ano seguinte repetiu a mesma tônica. As arquibancadas vestidas de vermelho
para apoiar Massa, que só não
venceu pelo segundo ano seguido porque abriu passagem para
que o companheiro Kimi Raikkonen conquistasse o título.
Barrichello parecia começar
a viver seu ocaso. O abandono
em casa apenas fechou sua pior
temporada na F-1, a primeira
em que não marcou pontos.
Outra vez ofuscado pelo ferrarista, que lutava pelo título,
Barrichello chegou a Interlagos
em 2008 sem saber se voltaria.
Com um discurso comedido
e a promessa de perder peso
nas férias para se preparar para
2009, terminou a corrida numa
modesta 15ª colocação. Mas os
olhos da torcida estavam voltados para Massa, que venceu a
prova, mas perdeu o campeonato para Lewis Hamilton.
Parecia um adeus melancólico, que ficou ainda mais certo
com a saída da Honda da categoria em dezembro passado.
Mas o time virou Brawn GP e
chegou à Austrália bem à frente
da concorrência. Já na abertura
do Mundial, a equipe conseguiu
sua primeira dobradinha, com
Button em primeiro e Barrichello em segundo.
"É uma boa volta por cima,
porque poucas pessoas acreditavam que eu sairia de Interlagos no ano passado e voltaria,
ainda mais competitivo", falou
o piloto, que chega pela primeira vez ao fim de uma temporada ainda na disputa pelo título.
Sem Nelsinho Piquet, demitido da Renault, e Massa, esperança brasileira nos últimos
três anos e que se recupera de
acidente, Interlagos estará com
Barrichello em 2009. De novo.
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