São Paulo, quinta-feira, 15 de outubro de 2009

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GP Brasil 2009

Uma nova chance

Em 2009, Rubens Barrichello despediu-se de Interlagos como quem se despedia da carreira.

Sem perspectivas na Honda, com o mercado fechado, já começava a planejar o futuro em outra categoria. Mas tudo mudou. Ele ganhou um caro revolucionário. E, cenário que nem ele imaginava, chega a Interlagos para seu 17º GP Brasil com status de esperança da torcida e com uma chance de título no horizonte

FÁBIO SEIXAS
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE

TATIANA CUNHA DA REPORTAGEM LOCAL Quando, um dia, decidir que é hora de parar ou n ão encontrar equipe para prosseguir, Rubens Barrichello talvez sinta um déjà vu. Há um ano, após disputar seu 16º GP Brasil, seu tom foi de despedida da F-1. Rejeitado pela Honda, então dona de sua equipe, e com o mercado fechado para 2009, tinha poucas chances de continuar. Mas veio a reviravolta. Quem saiu foi a montadora, Ross Brawn comprou o time, assinou novo contrato com o brasileiro, uma nova e surpreendente história começou. Com um carro revolucionário, vitórias, o título no horizonte. E a 17ª tentativa de vencer em casa, uma das melhores. Nem Barrichello esperava. Mas, de novo, Interlagos está com ele.
A vitória em casa, uma velha obsessão, tornou-se um meio, não um fim. Rubens Barrichel- lo chega a Interlagos com um sonho bem maior desta vez.
Vice-líder do Mundial, 14 pontos atrás de Jenson Button, precisa descontar ao menos cinco do companheiro de Brawn para levar a decisão da F-1 para a última etapa, em Abu Dhabi, e manter a esperança de dar ao Brasil o primeiro título desde o tricampeonato de Ayrton Senna, em 1991.
Se não conseguir, o piloto inglês deixará São Paulo com o campeonato já assegurado.
Missão difícil. Mas no cenário ideal: a pista em que cresceu, seu quintal na infância e onde já flertou com vitórias.
"Sem dúvida, Interlagos é um grande palco para eu dar continuidade à disputa do Mundial. É um circuito em que sempre andei forte e que gosto demais", falou Barrichello à Folha. "Além disso, sei usar a energia de uma maneira boa hoje."
Mas não foi sempre assim. Mais de 16 anos já se passaram desde que acelerou um F-1 pela primeira vez no circuito, em 1993, com um Jordan, em sua segunda corrida na categoria.
Na época, tinha a sombra de Senna, que naquele ano venceu pela segunda vez o GP Brasil.
No ano seguinte, mais uma vez com os olhos de Interlagos voltados para o tricampeão, que fazia sua estreia pela Wil- liams, o piloto participou da prova como mero coadjuvante.
Mas na corrida as coisas mudaram. Pole, Senna rodou e não completou. Para alento da torcida, porém, Barrichello e seu Jordan chegaram em quarto.
Pouco mais de um mês depois daquele GP, porém, seu amadurecimento, que vinha num ritmo gradual, sofreu um baque com a morte de Senna.
E a esperança de ver em Barrichello um novo ídolo transformou-se num peso enorme para o piloto. Uma responsabilidade que ele mesmo assumiu quando ainda não estava preparado. E que acabou se refletindo em seu desempenho nas temporadas que se seguiram.
Em 1995, no primeiro GP Brasil em Interlagos sem Senna, Barrichello viveu um final de semana para esquecer.
Apesar de outros dois brasileiros disputarem a prova -Roberto Moreno e Pedro Paulo Diniz-, era no piloto da Jordan que a esperança da torcida se depositava a partir de então.
Mas já na sexta-feira as coisas começaram mal para Barrichello, quando o motor Peugeot de seu Jordan explodiu. No treino de classificação, ele rodou e ficou apenas na 16ª colocação. Na corrida, a situação não melhorou. O brasileiro abandonou por problemas hidráulicos na caixa de câmbio.
Um ano depois, o cenário começou bem mais animador. Com um carro modesto, Barrichello conseguiu o segundo lugar no grid, para delírio da torcida. No GP, porém, não foi páreo para os carros de Williams, Benetton e Ferrari. Para piorar, na 60ª volta o piloto rodou e não completou a prova. Era apenas o início de um longo jejum de pontos em São Paulo.
A mudança para a Stewart em 1997 não alterou muita coisa para Barrichello em Interlagos. Foram outros dois anos sem completar o GP Brasil.
Em 1999, no entanto, a história parecia tomar um rumo diferente. Terceiro no grid, ultrapassou David Coulthard na largada. Na sequência, superou também Mika Hakkinen, assumindo a liderança da prova. Foram 23 voltas de festa nas arquibancadas até o motor de seu Stewart estourar na Junção.
As seguidas decepções foram esquecidas em setembro daquele mesmo ano, quando a Ferrari anunciou que, a partir da temporada seguinte, o brasileiro seria companheiro de time de Michael Schumacher.
Com a oportunidade real de vencer pela primeira vez uma corrida em casa, vieram também as promessas. "Chego à Ferrari com sete anos de experiência na F-1. Então, se eu falar simplesmente que quero chegar em segundo lugar numa corrida, não vou estar sendo sincero. O que eu quero é ganhar. Minha meta é ganhar, e estou com um carro competitivo", disse ele, no início de 2000.
Interlagos se entusiasmou de novo. Com as arquibancadas vestidas de vermelho, recebeu Barrichello para seu primeiro GP Brasil pela Ferrari. Para nada: quarto no grid, abandonou com problemas hidráulicos.
Em 2001, de novo a torcida vestiu vermelho. De novo, o piloto viveu um drama. Um problema no motor enquanto levava sua Ferrari para o grid o forçou a voltar à pé aos boxes para pegar o carro reserva. Na terceira volta, uma batida com Ralf Schumacher o tirou do GP. "Foi como levar uma facada nas costas", falou, aos prantos.
No ano seguinte, outro azar. Uma pane hidráulica o fez abandonar o GP Brasil quando liderava. Em 2003, de novo empurrado pelo público, Barrichel-lo conquistou sua primeira pole em Interlagos. Mas uma pane seca acabou com o sonho quando ele estava na liderança.
O terceiro lugar em 2004 marcou o fim do jejum de pontos de Barrichello no Brasil.
Um ano depois, despediu-se da Ferrari e do protagonismo em casa com um sexto lugar.
Substituído por Felipe Massa no time italiano em 2006, Barrichello viu o compatriota vencer em Interlagos logo em seu ano de estreia no time. Na Honda, o máximo que conseguiu naquele GP foi o sétimo posto.
A prova do ano seguinte repetiu a mesma tônica. As arquibancadas vestidas de vermelho para apoiar Massa, que só não venceu pelo segundo ano seguido porque abriu passagem para que o companheiro Kimi Raikkonen conquistasse o título.
Barrichello parecia começar a viver seu ocaso. O abandono em casa apenas fechou sua pior temporada na F-1, a primeira em que não marcou pontos.
Outra vez ofuscado pelo ferrarista, que lutava pelo título, Barrichello chegou a Interlagos em 2008 sem saber se voltaria.
Com um discurso comedido e a promessa de perder peso nas férias para se preparar para 2009, terminou a corrida numa modesta 15ª colocação. Mas os olhos da torcida estavam voltados para Massa, que venceu a prova, mas perdeu o campeonato para Lewis Hamilton.
Parecia um adeus melancólico, que ficou ainda mais certo com a saída da Honda da categoria em dezembro passado.
Mas o time virou Brawn GP e chegou à Austrália bem à frente da concorrência. Já na abertura do Mundial, a equipe conseguiu sua primeira dobradinha, com Button em primeiro e Barrichello em segundo.
"É uma boa volta por cima, porque poucas pessoas acreditavam que eu sairia de Interlagos no ano passado e voltaria, ainda mais competitivo", falou o piloto, que chega pela primeira vez ao fim de uma temporada ainda na disputa pelo título.
Sem Nelsinho Piquet, demitido da Renault, e Massa, esperança brasileira nos últimos três anos e que se recupera de acidente, Interlagos estará com Barrichello em 2009. De novo.


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