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FUTEBOL
O baile
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Hoje, em comemoração da
Proclamação da República,
falarei de um jogo que ocorreu há
113 anos, em novembro de 1889.
Naquele tempo, o Brasil era um
império e vivia sob a égide de
dom Pedro 2º. Mas as coisas andavam complicadas. O governo
passava por uma crise de autoridade e já não contava com o respeito e a estima do povo.
Aconselhado por seus ministros,
dom Pedro 2º resolveu organizar
uma partida de seu time, o Coroa,
contra seu mais tradicional adversário, o República. O objetivo
era mostrar à nação que o Coroa
continuava firme e inabalável em
seu posto. De fato, o Coroa era um
time respeitável. Tinha jogadores
de estirpe, um conjunto bem entrosado e, mais importante, vinha
derrotando o República com certa facilidade ao longo dos anos.
O jogo foi marcado para o estádio da Ilha Fiscal, na baía de
Guanabara. Mas o centroavante
do Coroa, o Visconde de Ouro
Preto, gostava muito de festas e
convenceu dom Pedro 2º a fazer
uma grande pândega no dia anterior à partida.
Foram convidadas 5.000 pessoas, incluindo todos os barões,
condes, viscondes, marqueses, duques, arquiduques, funcionários
de primeiro escalão, suas esposas,
filhas e amantes. Os jogadores do
Coroa também marcaram presença e chamaram a atenção de
todos em suas belas casacas cortadas por costureiros franceses.
Os números da festa foram impressionantes: comeram-se 18 pavões, 25 cabeças de porco, 30
fiambres, 50 peixes, 64 faisões, 80
perus, 100 línguas de boi, 300 galinhas, 350 frangos, 500 perus, 800
quilos de camarão, 800 latas de
trufas e 1.200 latas de aspargos.
Além disso foram servidos 10 mil
sanduíches, 2.900 pratos de doces
e 12 mil sorvetes. Tudo foi preparado por 40 cozinheiros e 50 ajudantes contratados pela célebre
Confeitaria Pascoal.
Quando dom Pedro 2º chegou à
Ilha, escorregou, mas se segurou e
proferiu sua célebre frase: "A monarquia tropeça, mas não cai".
Animados por 10 mil litros de
cerveja e 258 caixas de vinho e
champanhe, jogadores e convidados dançaram quadrilhas, valsas,
polcas, mazurcas e galopes.
A festa só terminou ao nascer
do sol. Obviamente, tanta comida
e dança diminuiu o preparo físico
dos atletas. E isso sem falar que,
no dia seguinte, os encarregados
da limpeza encontraram três coletes de damas, oito corpetes e 17
cintas-ligas pelos cantos do salão.
Chegada a hora do jogo, o inevitável ocorreu. O time de casaca
era uma ressaca só. Os nobres não
acertavam um só passe e no intervalo o placar acusava 4 a 0. Dom
Pedro 2º até que tentou reorganizar seu time, mas, enquanto dava
suas orientações para o Visconde
de Ouro Preto, recebeu como resposta um jato de vômito.
Percebendo a oportunidade, os
adversários atiraram-se com
maior ânimo à luta. No final, a
partida terminou com o escore de
32 a 0 para o República, que era
capitaneado, ou melhor, marechaleado pelo veterano Deodoro
da Fonseca, autor de belas jogadas e passes para muitos gols.
A acachapante derrota refletiu
de maneira negativa nos ânimos
dos defensores da monarquia e,
com o apoio da opinião pública,
ficou pavimentado o caminho para aqueles que queriam a queda
do regime.
E essa goleada entrou para a
história pátria com o epíteto de
"O baile da Ilha Fiscal". Por isso é
que hoje, quando um time perde
uma partida de goleada, diz-se
que levou "um baile".
Esquadra do Bagaço
Alfredo Gabrielleschi e Leandro Mattera enviaram uma
"trocadilhenta" seleção come-e-dorme, a esquadra do
bagaço: "Pra começar, o goleiro Mamadu (Guiné Bissau). Na sua frente, uma zaga
formada por Mulenga (seleção da Zâmbia), John Boa
(Detroit), Vavadio (Charleroi, da Bélgica) e o infantil
Shopetim Mamo (Tirana, Albânia). No meio-campo, Janos Vamos (Ferencvaros,
Hungria) tem que se desdobrar para cobrir o lento Seródio (Farense, Portugal), enquanto o volante Moita (Boavista, Portugal) se esconde do
jogo e o armador Trivellas
(Grécia) só faz lance de efeito,
sem nenhum resultado prático. Talvez por essa absoluta
ausência de organização, o
atacante Miko Simula (Lahti,
Finlândia) se limita a cavar
faltas, enquanto o sombrio
Posthumus (Lierse, Bélgica)
vaga como uma alma penada
entre os defensores rivais".
E-mail torero@uol.com.br
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