São Paulo, sexta-feira, 15 de novembro de 2002

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FUTEBOL

O baile

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Hoje, em comemoração da Proclamação da República, falarei de um jogo que ocorreu há 113 anos, em novembro de 1889.
Naquele tempo, o Brasil era um império e vivia sob a égide de dom Pedro 2º. Mas as coisas andavam complicadas. O governo passava por uma crise de autoridade e já não contava com o respeito e a estima do povo.
Aconselhado por seus ministros, dom Pedro 2º resolveu organizar uma partida de seu time, o Coroa, contra seu mais tradicional adversário, o República. O objetivo era mostrar à nação que o Coroa continuava firme e inabalável em seu posto. De fato, o Coroa era um time respeitável. Tinha jogadores de estirpe, um conjunto bem entrosado e, mais importante, vinha derrotando o República com certa facilidade ao longo dos anos.
O jogo foi marcado para o estádio da Ilha Fiscal, na baía de Guanabara. Mas o centroavante do Coroa, o Visconde de Ouro Preto, gostava muito de festas e convenceu dom Pedro 2º a fazer uma grande pândega no dia anterior à partida.
Foram convidadas 5.000 pessoas, incluindo todos os barões, condes, viscondes, marqueses, duques, arquiduques, funcionários de primeiro escalão, suas esposas, filhas e amantes. Os jogadores do Coroa também marcaram presença e chamaram a atenção de todos em suas belas casacas cortadas por costureiros franceses.
Os números da festa foram impressionantes: comeram-se 18 pavões, 25 cabeças de porco, 30 fiambres, 50 peixes, 64 faisões, 80 perus, 100 línguas de boi, 300 galinhas, 350 frangos, 500 perus, 800 quilos de camarão, 800 latas de trufas e 1.200 latas de aspargos. Além disso foram servidos 10 mil sanduíches, 2.900 pratos de doces e 12 mil sorvetes. Tudo foi preparado por 40 cozinheiros e 50 ajudantes contratados pela célebre Confeitaria Pascoal.
Quando dom Pedro 2º chegou à Ilha, escorregou, mas se segurou e proferiu sua célebre frase: "A monarquia tropeça, mas não cai".
Animados por 10 mil litros de cerveja e 258 caixas de vinho e champanhe, jogadores e convidados dançaram quadrilhas, valsas, polcas, mazurcas e galopes.
A festa só terminou ao nascer do sol. Obviamente, tanta comida e dança diminuiu o preparo físico dos atletas. E isso sem falar que, no dia seguinte, os encarregados da limpeza encontraram três coletes de damas, oito corpetes e 17 cintas-ligas pelos cantos do salão.
Chegada a hora do jogo, o inevitável ocorreu. O time de casaca era uma ressaca só. Os nobres não acertavam um só passe e no intervalo o placar acusava 4 a 0. Dom Pedro 2º até que tentou reorganizar seu time, mas, enquanto dava suas orientações para o Visconde de Ouro Preto, recebeu como resposta um jato de vômito.
Percebendo a oportunidade, os adversários atiraram-se com maior ânimo à luta. No final, a partida terminou com o escore de 32 a 0 para o República, que era capitaneado, ou melhor, marechaleado pelo veterano Deodoro da Fonseca, autor de belas jogadas e passes para muitos gols.
A acachapante derrota refletiu de maneira negativa nos ânimos dos defensores da monarquia e, com o apoio da opinião pública, ficou pavimentado o caminho para aqueles que queriam a queda do regime.
E essa goleada entrou para a história pátria com o epíteto de "O baile da Ilha Fiscal". Por isso é que hoje, quando um time perde uma partida de goleada, diz-se que levou "um baile".

Esquadra do Bagaço
Alfredo Gabrielleschi e Leandro Mattera enviaram uma "trocadilhenta" seleção come-e-dorme, a esquadra do bagaço: "Pra começar, o goleiro Mamadu (Guiné Bissau). Na sua frente, uma zaga formada por Mulenga (seleção da Zâmbia), John Boa (Detroit), Vavadio (Charleroi, da Bélgica) e o infantil Shopetim Mamo (Tirana, Albânia). No meio-campo, Janos Vamos (Ferencvaros, Hungria) tem que se desdobrar para cobrir o lento Seródio (Farense, Portugal), enquanto o volante Moita (Boavista, Portugal) se esconde do jogo e o armador Trivellas (Grécia) só faz lance de efeito, sem nenhum resultado prático. Talvez por essa absoluta ausência de organização, o atacante Miko Simula (Lahti, Finlândia) se limita a cavar faltas, enquanto o sombrio Posthumus (Lierse, Bélgica) vaga como uma alma penada entre os defensores rivais".

E-mail torero@uol.com.br



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