RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

O Real Madrid é o lanterna de seu grupo na Copa dos Campeões. Ronaldo não fez um gol sequer no mais importante interclubes do planeta. Isso é fato.
Nessas condições, ambos sorrirão para o mundo nas próximas horas como melhores do mundo e receberão aplausos, quase como unanimidades, de todo o planeta.
Porém eles serão premiados, na verdade, pelo conjunto da obra, não pelas consideráveis façanhas que conseguiram nesta temporada (títulos da Copa dos Campeões e do Mundial interclubes e oito gols na primeira Copa asiática).
Real Madrid e Ronaldo deram grandes lições de vida. E a Fifa, sempre se sentindo em dívida com ambos, não poderia perder a oportunidade de colocá-los em evidência no ano em que o clube espanhol brinda seu centenário e no ano em que o atacante brasileiro renasceu para o esporte.
Ninguém é louco de não tirar o chapéu para a história do Real. Fundador da máxima entidade do futebol, time mais vitorioso do século 20, casa de alguns dos maiores craques de todos os tempos... Ninguém é maluco para não tirar o chapéu para Ronaldo. Jogador fenomenal por pelo menos três temporadas, com explosão, habilidade e inteligência bem acima da média, colecionador de títulos e gols antológicos...
Agora não é insanidade questionar a eficiência atual no campo dessas fortes marcas da bola.
Na Copa dos Campeões, ótimo parâmetro para definir quem é melhor do mundo, o Real é o time que mais fica com a bola (57% de posse de bola em média por partida, com 34 minutos do tempo do jogo em seus pés), mas está tendo dificuldades para transformar esse domínio em vantagem no placar (ficou claro no 2 a 2 em casa com o Lokomotiv, que esteve a ponto de derrotar o supertime).
Com seus astros, exímios finalizadores, o Real é a segunda equipe que mais chuta bolas a gol, mas é só o sexto em número de gols. Estiloso, é o que menos comete faltas (são só 12,38 infrações por jogo em média, o que pode tanto significar "fair play" quanto frouxidão na marcação).
Ninguém ganha mais escanteios que o Real (8,25 por partida em média), mas, apesar dos ótimos cruzamentos de Figo, sabe-se que Ronaldo é péssimo cabeceador (Zidane usou essa qualidade basicamente em apenas um jogo).
O artilheiro da Copa deste ano, segundo estatísticas da Uefa, atuou 214 minutos na Copa dos Campeões. Nada de balançar redes, uma assistência, dois chutes para fora e duas faltas sofridas.
Henry, francês do Arsenal que teve a coragem de questionar as dezenas de votos para Ronaldo como melhor do ano, marcou seis gols, deu duas assistências e sofreu 13 faltas. Tem números piores que alguns outros atacantes do torneio, como o argentino Crespo (Inter) e o holandês Van Nistelrooij (Manchester United).
Após o título em Yokohama no Mundial interclubes, Ronaldo confessou ""só" estar devendo agora boas apresentações em Madri. Confissão parecida fez o Real, que pode ficar fora do mata-mata da Copa dos Campeões. Isso mostra que até eles sabem que o momento de ambos não é dos melhores, mas eles fecham o ano como melhores do mundo assim mesmo.
Por tudo que já fizeram, os dois merecem o chapéu. Por tudo que podem fazer, merecem também. Por terem conseguido ser melhores do ano mesmo como estão hoje, talvez mereçam mais ainda.

Copa da Uefa
Confrontos das oitavas-de-final: Slavia Praga (TCH) x Besiktas (TUR), Hertha Berlin (ALE) x Boavista (POR), Málaga (ESP) x AEK (GRE), Lazio (ITA) x Wisla Cracóvia (POL), Anderlecht (BEL) x Panathinaikos (GRE), Celtic (ESC) x Stuttgart (ALE), Porto (POR) x Denizlispor (TUR) e Auxerre (FRA) x Liverpool (ING).

Libertadores
O Grupo 2, com o brasileiro Paysandu, o Universidad Católica, o Cerro Porteño e o Sporting Cristal, parece o mais aberto de todos. O Grupo 5, com Grêmio, Peñarol, Bolívar e Pumas, também é bem complicado. Há uma boa chance de assistirmos Santos x Racing, Corinthians x River Plate e Grêmio x Olimpia nas oitavas-de-final.

Prêmio de Mídia Esportiva
Fica aqui o agradecimento aos alunos da Uni Sant'Anna pela lembrança desta coluna entre as melhores de São Paulo em 2002.

E-mail rbueno@folhasp.com.br


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