São Paulo, quinta-feira, 15 de dezembro de 2005

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São Paulo sofre por final e decreta boicote "sem pai"

Depois de fazer 3 a 2 no Al Ittihad e se garantir na decisão do Mundial de Clubes, time anuncia greve de silêncio em protesto contra a mídia

TONI ASSIS
ENVIADO ESPECIAL A TÓQUIO

O São Paulo está na final do Mundial de Clubes da Fifa, mas a crise que assola o time no seu momento mais importante nos últimos 12 anos tem novo capítulo.
A dramática vitória por 3 a 2 sobre os sauditas do Al Ittihad terminou com os jogadores decretando um boicote contra a imprensa. E ninguém quis assumir a autoria. O herói da vitória foi o atacante Amoroso, um dos pivôs da tormenta são-paulina ao cobrar do clube rapidez na definição de seu futuro -ele fez dois gols.
Grafite disse que foi instruído a não falar, linha seguida pelo capitão Rogério. Os cartolas são-paulinos repeliram a idéia que partiu deles a ordem de proibir os jogadores de darem declarações.
Sob esse clima, o time espera seu adversário para tentar, no domingo, seu terceiro título mundial -Saprissa e Liverpool jogam hoje por essa definição.
Ao passar pela zona mista, local onde param para dar entrevistas pelo padrão da Fifa, os são-paulinos diziam que não poderiam parar nem falar com os repórteres.
Visivelmente constrangido, o atacante Grafite foi o primeiro a aparecer e avisou os repórteres que ninguém do grupo daria qualquer tipo de declaração.
"Fomos instruídos para não falar. O pessoal está chateado com certas coisas que saíram na imprensa e que não são verdade. Acho que foram os assuntos sobre a premiação e o caso envolvendo a renovação do Amoroso. É isso."
Até o goleiro Rogério, líder do elenco, deu a entender que o grupo somente cumpriu ordens ao boicotar a imprensa. "Mandaram a gente falar depois, no hotel", afirmou o capitão do São Paulo, que, no entanto, foi um dos dois jogadores do time obrigados pelo protocolo da Fifa a dar declarações após a partida, em que marcou um gol de pênalti.
Amoroso também parou brevemente para conversar com repórteres e, com o auxílio do superintendente Marco Aurélio Cunha (desafeto de seu procurador) como tradutor, respondeu a perguntas feitas em inglês por um repórter de uma TV árabe.
A diretoria se eximiu de culpa sobre a greve de silêncio dos jogadores, mas disse que respeitaria a decisão do elenco, indicando que a atitude partiu do próprio grupo de jogadores.
"De maneira nenhuma isso partiu de nós", disse o diretor de planejamento João Paulo de Jesus Lopes, eximindo os cartolas de terem planejado o ato de protesto.
Já o técnico Paulo Autuori não concordou com o ato de silêncio, mas afirmou que respeitaria a decisão. E apontou que ela já teria hora determinada para acabar: após o primeiro treino em Yokohama, local da final de domingo, marcada para começar às 8h20.
"Essa é uma forma de protestar, mas a melhor arma do homem é o diálogo", filosofou o treinador.
O boicote à imprensa acontece depois de uma série de desentendimentos do time já em solo japonês. A primeira questão foi levantada quando alguns jogadores resolveram discutir o valor do prêmio pela conquista -a diretoria do São Paulo estaria oferecendo cerca de R$ 160 mil para cada jogador pela conquista do tri.
Já o segundo problema, nascido ainda no Brasil, ganhou corpo após o presidente do clube, Marcelo Portugal Gouvêa, praticamente dispensar Amoroso, que ontem repetiu o que já fizera nas partidas das semifinais e finais da Libertadores e foi o destaque da equipe -marcou dois dos três gols são-paulinos e já é um dos artilheiros do torneio internacional.
O presidente do clube brasileiro não gostou de ter se tornado pública a informação que o atacante assinou um pré-contrato com o FC Tokyo, em vínculo que prevê uma multa rescisória de US$ 500 mil (cerca de R$ 1,2 milhão).
Na semana de preparação no Japão, Amoroso voltou a criticar a falta de interesse da diretoria, que não se mexeu para antecipar a sua renovação de contrato.


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