São Paulo, quinta-feira, 15 de dezembro de 2005

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FUTEBOL

Tricolor a um triz do trítulo, digo, título

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Triste, tristíssimo, seria chegar tão perto do tri e perdê-lo. Mas isso só acontecerá se o São Paulo tripudiar dos adversários, como quase fez contra o Al Ittihad. Depois de marcar o primeiro gol, o tricolor diminuiu o ritmo, cedeu o empate, e os árabes quase fizeram o segundo.
No intervalo, Autuori deve ter falado feito um tribuno, e o pessoal voltou mais vivo, correndo como triatletas, e marcou dois gols. Mas, depois, novo relaxamento.
As triangulações no meio-de-campo começaram a não sair. Por sorte a tríade Ceni-Lugano-Amoroso estava bem e comandou a tribo até o final. Aliás, o destaque do jogo foi o trintão Amoroso, com boas arrancadas, inteligência, oportunismo e belos tribles, digo, dribles.
Por outro lado, Cicinho jogou abaixo de seu normal, Júnior esteve mais apagado que cigarro de bêbado, e Edcarlos, se jogar a final como jogou ontem, será triturado, trinchado, pelo ataque adversário.
Mas o maior problema do São Paulo ontem foi que ele esteve trifásico. Teve momentos de bom futebol, como o começo do segundo tempo, horas em que apenas se manteve nos trilhos, como nos últimos 15 minutos, e perigosos instante de letargia, como no final da primeira etapa, quando jogou um futebol feio, tribufu.
Isso não pode acontecer na próxima partida, a mais importante da história do clube. Afinal, se vencer, o São Paulo será o único tricampeão mundial do Brasil, o único a exibir em suas estantes um trio do troféu mais disputado do planeta.
Para isso, a trindade da defesa, Lugano, Fabão e Edcarlos, tem que jogar como se defendesse uma trincheira. Mineiro e Josué devem se empenhar ao máximo a cada triquete, a cada momento, trincando os adversários, triturando suas tramas. Já Danilo deve ser a base do tripé de ataque, tricotando com Aloisio (ou Grafite) e com o trigueiro Amoroso, para que estes joguem um futebol moleque, travesso, triquetraz.
Já à torcida só resta rezar e sair pelos jardins a procurar trifólios, ou seja, trevos, mas os de quatro folhas (que na verdade são quadrifólios).
Afinal só falta um tanto de sorte para o São Paulo, que fez tudo certo até aqui. Poupou jogadores, chegou com antecedência e fez algumas contratações de última hora. O único senão foi o acerto do bicho, que aconteceu muito tarde. Mas agora que os jogadores acertaram a tributação que farão aos cofres do clube, não há mais desculpas. Eles têm que vencer. E, se chegarem ao triunfo, será um merecido tributo aos torcedores.
Enfim, domingo, quando o juiz trilar seu apito, a trilegal torcida poderá estar desesperada, com vontade de pôr um trinta-e-oito na cabeça, ou sentir-se voando sobre um trigal, loucos de felicidade a ponto de usar um tricórnio de Napoleão.
E, caso o leitor não tenha percebido, neste texto usei trinta e nove palavras começadas com a sílaba tri. Sem contar o trítulo, digo, título.

Café-com-leite
Li ontem um livro bem divertido sobre futebol. Chama-se "Café-com-leite e feijão-com-arroz". Foi escrito por Alberto Martins, ilustrado por Andrés Sandoval e editado pela Companhia das Letrinhas (104 páginas, R$ 18). O livro, destinado ao público juvenil (mas que eu, que sou um tanto infantil, gostei bastante), é formado por um contão, sete continhos e três breves depoimentos de ex-jogadores. É um livro que narra coisas que acontecem na vida de qualquer criança, como brigas, dribles em bananeiras, narizes quebrados, telhas quebradas etc... Ele tem mesmo um sabor de café-com-leite, mas de um café-com-leite de antigamente, quando eu ainda não precisava tomar café descafeinado e leite desnatado.


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