São Paulo, sexta, 16 de janeiro de 1998.



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Será a França pequena para a Copa?

MÁRIO MARINHO
especial para a Folha Os franceses que me desculpem, mas não basta ter charme para fazer uma Copa do Mundo.
É preciso muito mais. Assim como a tecnologia norte-americana por si não faz uma Copa, nem a disciplina alemã. Na verdade, é preciso unir tudo isso, mais o bom senso ditado pelo temperamento latino, à criatividade para resolver problemas (não confundir com o jeitinho brasileiro) e, claro, espaço.
A imprensa esportiva brasileira está às voltas com o problema de credenciamento para a Copa.
Um problema que se repete a cada Mundial, mas que neste ano se agravou. Sabe-se que a cobertura de futebol no Brasil é extensa e intensa. Nenhum outro segmento de imprensa tem tanto espaço quanto o futebol -só tem seu espaço diminuído para as crises que, de tempos em tempos, explodem: econômicas, políticas, conjunturais, climáticas, trágicas etc. No dia-a-dia, o futebol toma conta.
Em toda e qualquer viagem, a seleção brasileira tem a acompanhá-la verdadeira entourage, um exército da comunicação com seus comandantes, comandados, equipamentos pesados, leves etc.
E a Copa do Mundo é o ápice, o momento aguardado ansiosamente. É a realização do profissional. Assim como é a do jogador de futebol.
É também o grande momento para o dono ou donos dos veículos de informação: grandes tiragens, grandes audiências, grandes faturamentos.
Para se ter uma idéia da grandeza dessa cobertura, somente para a mídia impressa -jornais e revistas- foram pedidas 470 credenciais em nível nacional (televisão e rádio, que compram os direitos, credenciam diretamente suas equipes).
Das 470 pedidas, a Fifa enviou 120. Aí começam os problemas. Em resposta aos nossos indignados questionamentos, o Comitê Francês informou, via CBF, que seus estádios são pequenos.
Como? Pequenos para uma Copa do Mundo? Mas Fifa não faz mil exigências? Tamanhos mínimos de estádios, localização, assentos numerados etc. Está certo que a Copa não é feita para a imprensa. Mas a imprensa é feita para o povo. E é ela quem alimenta as esperanças do povo e cria o clima e a expectativas durante os quatro anos que separam uma Copa da outra. Portanto, quem não tem competência que não se estabeleça.
A imprensa escrita que está sendo colocada em um segundo plano em comparação com rádio e televisão deveria ser tratada com um pouco mais de respeito. Jornais e revistas documentam, criam a história e fazem a fantasia da Copa desde que a Copa é Copa; desde a realização do sonho de monsieur Jules Rimet.
Mais respeito ainda deveria ter a CBF no trato com a imprensa brasileira. Saíram 120 credenciais do Comitê Francês. Chegaram às mãos da Abrace (Associação Brasileira de Cronistas Esportivos) 90 credenciais. Onde foram parar as outras 30? Há um sumidouro de credenciais na rua da Alfândega, sede da CBF? Ou há uma porta por onde entram e saem privilegiados? Os cronistas esportivos de todo o Estado de São Paulo, que haviam reivindicado 143 credenciais, receberam apenas 30.
Cabe à Abrace, como entidade nacional, exigir explicações da CBF. Cabe à Aceesp, entidade estadual de São Paulo que eu presido, exprimir a nossa indignação. Se já são poucas as credenciais para tantos pretendentes, é vital que quem lida com as credenciais aja com correção e seriedade.
Seriedade que não estamos vendo na CBF.


Mário Marinho é presidente da Aceesp (Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo) e assessor de imprensa da Lusa


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