|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FUTEBOL
Mais abastado, público das cadeiras festeja kit árabe vendido no estádio, tido como muito caro nas arquibancadas
"Esfirra chique" racha torcida no Morumbi
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL
José da Silva Viana chegou ao
Morumbi às 10h. Durante duas
horas e meia juntou esfirras, quibes e pastéis de Belém em pequenas caixas de papelão que venderia durante o clássico da tarde.
Os R$ 20 que entram em seu
bolso após cada jogo ajudam a engrossar o orçamento de casa.
Mas, após quase quatro horas
de vaivéns pelas arquibancadas,
havia conseguido convencer pouca gente de que valia a pena comprar seus lanches.
"Para quem tem dinheiro para
ficar na numerada, é fácil pagar
R$ 5 para comer. Para mim, é caro. Preferia poder comprar só
uma esfirra", resmungou Luiz
Augusto Tavares, 23, sentado na
arquibancada corintiana. Ele foi
um dos que viram Viana passar e
não esboçaram reação.
O vendedor carregava os kits do
Habib's, rede de comida árabe patrocinadora do São Paulo. Os três
itens custam R$ 3,50 e não são
vendidos separadamente. O refrigerante sai por R$ 1,50, e a água é
vendida a R$ 1.
Sinônimo de refeição barata, a
esfirra é bem mais barata fora do
estádio. Se decidir ir a uma das 211
lojas da rede, o consumidor irá
desembolsar, em média, R$ 2,36
para comer os mesmos produtos.
No Morumbi, paga 48% a mais.
"O movimento está muito devagar. Na cativa e na numerada é
melhor. Pai de família compra
mais. Mas é mais fácil vender
água mineral", disse Viana após
mais uma incursão frustrada entre os torcedores do Corinthians.
A opinião do vendedor é semelhante à de outros 10 ouvidos ontem pela Folha no jogo de maior
público do Campeonato Paulista
até agora. No total, o Habib's
mantém 104 funcionários rodando pelos corredores do estádio.
Além dos ambulantes, a rede
tem exclusividade na venda de alimentos em pontos fixos no Morumbi. São cinco, apenas dois deles nas arquibancadas.
O kit começou a ser vendido somente no setor premium", área
nobre das cadeiras azuis. Atrás
das divisórias que separam os torcedores vip do resto das numeradas ainda há duas lanchonetes.
Para quem não tem a mordomia do setor "premium", nem
quer deixar seu lugar com a bola
em jogo, a saída é encarar o pequeno tumulto que se forma nas
lanchonetes durante o intervalo.
Com a concentração de compradores em um mesmo horário,
o atendimento fica confuso.
"Se você compra antes do jogo,
fica bem mais fácil. Antes eu só
comia salgadinho, agora tem outra opção", comemorou Rafaela
Ramos Santos, de 16 anos.
A são-paulina comprou ontem
um dos 2.300 kits vendidos no
Morumbi. O Habib's ainda comercializou 8.000 copos d'água e
3.000 de refrigerantes.
A chegada da rede, apesar de seduzir apenas a camada mais abastada dos torcedores, fez cair o lucro de outros ambulantes. Para
quem atravessa o estádio com salgadinhos, amendoins e chocolates, a concorrência assusta.
"Antes, eu vendia 40, 50 produtos. Hoje, não saem nem 20", reclamou Carlos Roberto da Silva,
42, com o tabuleiro cheio. Desde
1976 ele trabalha no estádio.
"Já tirei R$ 400 por jogo. Agora,
não tiro R$ 200. Está difícil fazer
dinheiro. Com a concorrência e o
ingresso caro, saímos perdendo",
fez coro Magnaldo Pocino, 33.
Satisfeitos mesmo ficaram pais
que costumam levar os filhos ao
Morumbi. "A gente consegue evitar que eles comam tanta porcaria", contou o corintiano José Lopes, 44, pai de Lucas, 6, que comemorava discretamente o gol de
Fabão, e do corintiano Thiago, 10.
A mulher de Lopes, Sofia, de 40
anos, foi ao estádio "só para a
acompanhar", mas continuava a
criticar a comida do Morumbi.
"Eu vivo de dieta. Com quibe e esfirra, engordo só de olhar."
Texto Anterior: Rogério festeja defesa "à Cuca" Próximo Texto: Frases Índice
|