São Paulo, sábado, 16 de fevereiro de 2008

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COI libera blogs na Olimpíada

Para entidades de direitos humanos, diários de atletas podem ser usados para denúncias na China

Temas políticos vieram à tona nesta semana, quando Steven Spielberg deixou os Jogos de Pequim e criticou o apoio chinês ao Sudão


ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Assolado por pressões internacionais contra a Olimpíada de Pequim, o COI (Comitê Olímpico Internacional) liberou ontem os blogs de atletas durante os Jogos, em agosto.
Será a primeira vez na história olímpica que os competidores poderão relatar suas experiências pessoais no evento através de diários eletrônicos.
Autorizados, os blogs podem ser arma importante de ONGs que lutam por mais liberdade na China. Afinal, na Olimpíada, os atletas poderão dar visibilidade global às reivindicações.
Essa é a crença de entidades como a Olympic Watch, criada na República Tcheca, que prega o boicote olímpico. "Sabemos que é difícil aos atletas abrir mão de participar da Olimpíada. Mas, definitivamente, eles não são máquinas de alta performance desprovidas de consciência", disse à Folha Petr Kutilek, secretário-geral da ONG.
A Anistia Internacional, impedida de trabalhar na China, estimula os atletas a aproveitarem a Olimpíada para se manifestar sobre a situação local.
A entidade também critica os países que tentam proibir suas delegações de expressar opiniões sobre o assunto. O comitê olímpico do Reino Unido ensaiou o veto, mas voltou atrás.
Os temas políticos vieram à tona nesta semana, quando Steven Spielberg, diretor artístico dos Jogos, pediu demissão.
O cineasta deixou o posto criticando o apoio da China ao governo do Sudão, acusado de ajudar milícias a promover massacre aos rebeldes da região de Darfur (oeste do país).
Calcula-se que o conflito já provocou mais de 200 mil mortes e a fuga de 2,5 milhões de pessoas. A China compra petróleo e vende armas ao país.
A política externa chinesa é só uma das causas da pressão internacional. ONGs também denunciam o cerceamento à imprensa, a falta de liberdade religiosa, a opressão ao povo tibetano, a prisão e tortura de dissidentes políticos e o uso indiscriminado da pena de morte, entre outros problemas.
Com sua liberação, os blogs são um fórum privilegiado de comentários, já que os atletas são proibidos de fazer manifestação política durante as disputas ou nas festas de premiação.
Mas o COI também impôs limitações, visando não infringir os direitos das empresas donas dos direitos dos Jogos. Assim, os atletas estão impedidos de usar imagens da Olimpíada e pôr áudio no ar. Estão vetadas fotos de áreas credenciadas.
Os blogueiros também não poderão ter contrato com empresas ou postar anúncios.
"O COI entende os blogs como uma forma de expressão pessoal, não como jornalismo. Isso quer dizer que, quando a pessoa credenciada aos Jogos postar um conteúdo sobre a Olimpíada, estará relatando unicamente a sua experiência pessoal", divulgou o comitê.
A decisão do COI atende às reivindicações dos atletas vindas ao menos desde a Olimpíada de Atenas, em 2004, quando os blogs começaram a se popularizar entre os esportistas.


Com agências internacionais


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