São Paulo, terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

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Inter de Limeira afunda na 4ª divisão

Primeiro time do interior a levantar a taça de campeão estadual em 1986 enfrenta dívidas, rebaixamentos e abandono

Recuperação do clube inclui renegociação de dívida e prevê volta dos associados, já que não restou nenhum dos 10 mil da década de 90

Leonardo Wen/Folha Imagem
Treino da Inter, cujo depósito (no destaque) tem até pomba morta entre os troféus

LEONARDO LOURENÇO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Há uma pomba morta sobre a base de um troféu quebrado e coberto por pó, numa velha caixa de papelão. O cenário de abandono na sala onde a Internacional de Limeira guarda taças e documentos históricos sintetiza a agonia do clube.
Campeã paulista em 1986, a Inter jogou na elite pela última vez em 2005. Desde então, más administrações acompanharam o time em seguidos rebaixamentos. A partir de maio, a tradicional equipe do interior disputará, pela primeira vez, a quarta divisão, o mais baixo degrau do torneio estadual.
No ano passado, na Série A-3, o clube caiu com três partidas de antecedência. "Tudo estava abandonado. No auge, em 1990, tínhamos 10 mil sócios. Hoje não temos nenhum", conta o atual presidente do clube, Aílton de Oliveira, que assumiu o cargo há um mês, mas que comanda o futebol desde 2009.
Oliveira fez parte de um grupo gestor criado no início de 2008 com outros sete empresários para administrar o esporte. "No dia seguinte ao que assumimos, o Limeirão [estádio onde o time manda seus jogos] foi interditado. Depois, veio uma conta de água de R$ 640 mil", lembra ele. "Todos os outros desistiram. Só eu sobrei."
Nessa mesma época, a Inter quase perdeu um de seus principais patrimônios, o clube de campo, em uma ação trabalhista que corria à revelia. "Os dirigentes tinham perdido os prazos para recurso, não sei por qual motivo", diz Oliveira. A área foi recuperada, porém o processo, movido por 19 ex- -atletas, continua na Justiça.
Aos poucos, o clube tenta se reerguer. A dívida, que chegou a R$ 5 milhões, foi renegociada e hoje é de cerca de R$ 1,5 milhão, diz a diretoria. Para ser liberado, o estádio foi reformado, com R$ 140 mil bancados pela prefeitura de Limeira.
As categorias de base, esquecidas, foram remontadas. "Cheguei aqui numa quinta- -feira. Estavam fazendo uma peneira para montar a equipe que jogaria no sábado, contra a Ponte Preta, pelo Paulista sub-20", lembra o presidente.
Cenário bem diferente da rotina do clube nos anos 80. Ao bater o Palmeiras na final de 1986, a equipe de Limeira se tornou a primeira campeã paulista do interior -feito repetido por Bragantino, em 1990, e Ituano, em 2002, quando os grandes clubes do Estado disputaram o Torneio Rio-São Paulo- o São Paulo foi supercampeão Paulista naquele ano.
Símbolo maior daquela conquista, a taça do campeonato precisou de cuidados. Uma camada de ferrugem cobria boa parte do troféu, e o braço do jogador de futebol que adorna o objeto precisou ser colado para voltar a seu lugar original.
Se bem-sucedido, o plano de recuperação do clube planeja a volta do time à primeira divisão em 2013, ano de seu centenário. Para recuperar as finanças, os gastos do futebol foram reduzidos. "No ano passado, a folha de pagamento chegou a R$ 129 mil, um absurdo para um time na nossa situação. Neste ano, nosso orçamento mensal é de R$ 60 mil", declara o presidente -os salários dos atletas variam de R$ 700 a R$ 1.500.
Contratado para recolocar o clube na A-3, o técnico Claudemir Peixoto prevê dificuldades para a Inter. "Nesse tipo de campeonato, é preciso misturar habilidade com força. Existem alguns gramados em que não adianta ter só técnica."
O caminho para a reconstrução deverá ser sinuoso, mas Oliveira acredita que o clube voltará ao papel de uma das forças do interior. "É muito difícil, mas não impossível", completa.


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