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São Paulo, domingo, 16 de março de 2003

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ATLETISMO

Valmir Nunes, recordista em prova de 100 km em pista de 400 m, vence evento na China e vira herói na Baixada

Santista de 39 anos é rei na corrida maluca

RODOLFO LUCENA
EDITOR DE INFORMÁTICA

Correr 24 horas sem parar nem para fazer xixi, dando volta após volta em uma pista de 400 m até totalizar quilometragens que muitos considerariam fantásticas ou malucas: esse é o sinônimo de esporte para Valmir Nunes, brasileiro que domina o terreno das ultramaratonas nas Américas e já colocou o nome no ranking dos melhores corredores do mundo.
Esse santista de 39 anos acaba de voltar de Taipei, na China, onde venceu a Soochow University Endurance Race e quebrou os recordes brasileiro, sul-americano e das Américas, que já eram seus. Rodou 685 vezes na pista para totalizar 273.823 m. No ano passado, ele havia corrido 270.200 m em uma prova em Campinas, onde derrubou a melhor marca continental, que era do norte-americano Mark Godale.
Ele perdeu três quilos durante a corrida, em que enfrentou vento e, especialmente, frio. "De madrugada, o corpo já está debilitado pelo esforço, a musculatura toda está doendo, está dura, está presa, o corpo está pedindo para parar", afirma Nunes.
Mesmo assim, os corredores seguem, e ninguém está garantido na frente. Em Taipei, o grande opositor de Nunes foi o japonês Ryoichi Sekyia, recordista asiático da modalidade, que já havia sido derrotado pelo atleta brasileiro em outra "corrida maluca" -a Spartathlon, uma travessia de 246 km entre Atenas e Esparta, na Grécia, que Nunes percorreu em 23h18min05 em 2001.
"A gente fica pensando em tudo. Só não posso me preocupar com os adversários. Tudo bem, eu ficava de olho no japonês, via quantas voltas eu estava à frente dele, ia calculando... Nisso o tempo vai passando e a gente vai tentando levar, porque é torturante, mas é gratificante."
Em dinheiro, a gratificação é pequena, quando comparada com prêmios de outros esportes. Na China, por exemplo, Nunes ganhou US$ 3.000 pela vitória e, como luvas, mais um valor que ele não revela.
Seu maior prêmio na carreira de mais de dez anos e que inclui o bicampeonato mundial em provas de 100 km -com 6h18min, Nunes tem o melhor tempo da história em Campeonatos Mundiais- foi de US$ 30 mil.
"Se eu fosse falar pela parte financeira, por uma ultramaratona, o sujeito deveria ganhar um edifício inteiro, porque o esforço é muito grande, com treinamento de manhã e à tarde, de segunda a domingo. Se for pensar na parte financeira... O Romário ganha R$ 54 mil por dia. Não que ele não mereça, mas, se a pessoa for pensar nisso, ninguém trabalha, eu não treino. Não dá para pensar só na parte financeira."
Mas claro que é importante: "Tudo o que eu tenho hoje foi graças ao atletismo. Minha mulher se forma este ano em direito, eu pago os estudos de minha filha, tenho a minha casa, tenho as minhas coisas. Se eu fosse trabalhar, ia ser complicado".
Com o salário de vistoriador de contêineres no porto de Santos, uma das profissões que teve antes de virar atleta profissional, não conseguiria em um ano o que ganha em uma corrida: "Acho que não teria nem condições de pagar a faculdade de minha mulher".
Outra compensação importante é o reconhecimento público. Na quinta-feira passada, quando voltou a Santos, Nunes foi recebido com festa na cidade e desfilou em um carro do Corpo de Bombeiros ao lado da mulher, Kelly, e da filha, Natasha, 14.
Agora ele pretende descansar, tirar umas férias curtas e se preparar, depois, para novos desafios -que diz não saber ainda quais são. "Por mim, faria mais umas três provas neste ano. Com esse resultado, vão surgir bons convites. E eu pretendo agora melhorar essa marca."
Isso não parece impossível: afinal, a prova da China foi apenas sua segunda experiência em corridas de 24 horas. E em ambas quebrou recordes.


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