São Paulo, quinta-feira, 16 de março de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUTEBOL

Procura-se um técnico

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Desempregada leitora, vagabundo leitor, você quer um trabalho com salário de R$ 300 mil, numa corporação com muito dinheiro para gastar e tendo à sua disposição subordinados de reconhecido talento?
Então você deve se apresentar à rua São Jorge, 777, no horário comercial, munido de CIC e RG, e falar com o senhor Kia Joorabchian.
Sim, meu caro, um dos cargos mais importantes do futebol brasileiro está vago. Por enquanto ninguém pegou o lugar de Antônio Lopes (pelo menos até o momento em que escrevo estas mal atachadas linhas).
Geralmente, quando um time está fritando um técnico, já conversa com outros. Mas isso não aconteceu com o Corinthians, que agora enfrenta um vácuo de poder enquanto encerra o Paulista e disputa a Libertadores. Lamentável, tsc, tsc...
Mas não é hora de lamentações, e sim de ação! E eu, meu caro, como estou sempre disposto a contribuir para o bem do futebol nacional, venho aqui dar meu palpite sobre quais as características ideais para o novo treinador:
A primeira é que ele seja corintiano. É necessário amar o clube. Chega de mercenários e de técnicos que nem sabem como é o escudo do time. Passarella, por exemplo, sucumbiu porque não entendia a alma alvinegra. Pois que o próximo seja alguém que já tenha declarado seu amor ao Sport Club Corinthians Paulista.
Outra qualidade necessária é a diplomacia. Como é um clube com clara divisão entre MSI e velha-guarda, é necessário alguém acostumado a conviver com grupos discordantes, que brigam por qualquer coisinha. Terá que fazer com que as duas partes dêem as mãos ou, pelo menos, não se atraquem. Uma mistura de terapeuta de casais com juiz de boxe.
É importante que seja alguém que fale a linguagem dos jogadores. Nada de técnicos metidos a professores universitários, dizendo frases em inglês. Tem que ser alguém que se expresse de um modo simples. E, se comer os esses, melhor ainda.
Como a MSI é uma coisa um tanto nebulosa, seria de bom tom um treinador pouco curioso, que não pergunte de onde vem o dinheiro que lhe traz tantos atletas.
O novo técnico também deve saber falar com a imprensa. Ninguém no país dá tantas entrevistas quanto o técnico do Corinthians, e colocar nesse posto alguém que não saiba se expressar seria um erro lamentável.
E, por fim, é preciso que seja um sujeito que entenda de futebol, que fale sempre do assunto, que demonstre conhecimento e preocupação com a coisa.
Pois bem, meus caros leitores, pensei, pensei e cheguei à conclusão de que só uma pessoa tem todas essas qualidades. Isso mesmo, ele: Luiz Inácio Lula da Silva!
Talvez tenha sido isso que o presidente corintiano tanto queria falar com o presidente brasileiro na Inglaterra. Só porque os guardas da rainha não deixaram Dualib entrar é que o Corinthians ainda não anunciou seu técnico.
Lula lá!

Procura-se centroavante
Falando em empregos, se você tem mais de 30 anos e joga no ataque, pode ir procurar trabalho no campeonato fluminense. Lá provavelmente está a maior concentração de atacantes veteranos do país. Todos os grandes clubes e dois altivos pequenos confiaram estes cargos de confiança a respeitáveis balzaquianos. A saber: Romário, 40, está no Vasco, Túlio, 36, nosso segundo maior artilheiro em atividade, está no Volta Redonda, Dodô, 31, desfila pelo Botafogo, o imortal Sorato, que fará 37 anos daqui a alguns dias, vem pela Cabofriense, Tuta, 31, está no Fluminense, e Luizão, o caçula do grupo, com só 30 anos, está no Flamengo. O Rio, a seu modo, reescreve "O Velho e o Mar", de Hemingway. Só que os velhinhos pescam gols em vez de tubarões.

E-mail torero@uol.com.br


Texto Anterior: Ação - Carlos Sarli: Quem pagou mico?
Próximo Texto: Futebol: Palmeiras patina diante de argentinos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.