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FUTEBOL
Procura-se um técnico
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Desempregada leitora, vagabundo leitor, você quer
um trabalho com salário de R$
300 mil, numa corporação com
muito dinheiro para gastar e tendo à sua disposição subordinados
de reconhecido talento?
Então você deve se apresentar à
rua São Jorge, 777, no horário comercial, munido de CIC e RG, e
falar com o senhor Kia Joorabchian.
Sim, meu caro, um dos cargos
mais importantes do futebol brasileiro está vago. Por enquanto
ninguém pegou o lugar de Antônio Lopes (pelo menos até o momento em que escrevo estas mal
atachadas linhas).
Geralmente, quando um time
está fritando um técnico, já conversa com outros. Mas isso não
aconteceu com o Corinthians, que
agora enfrenta um vácuo de poder enquanto encerra o Paulista e
disputa a Libertadores. Lamentável, tsc, tsc...
Mas não é hora de lamentações,
e sim de ação! E eu, meu caro, como estou sempre disposto a contribuir para o bem do futebol nacional, venho aqui dar meu palpite sobre quais as características
ideais para o novo treinador:
A primeira é que ele seja corintiano. É necessário amar o clube.
Chega de mercenários e de técnicos que nem sabem como é o escudo do time. Passarella, por exemplo, sucumbiu porque não entendia a alma alvinegra. Pois que o
próximo seja alguém que já tenha
declarado seu amor ao Sport Club
Corinthians Paulista.
Outra qualidade necessária é a
diplomacia. Como é um clube
com clara divisão entre MSI e velha-guarda, é necessário alguém
acostumado a conviver com grupos discordantes, que brigam por
qualquer coisinha. Terá que fazer
com que as duas partes dêem as
mãos ou, pelo menos, não se atraquem. Uma mistura de terapeuta
de casais com juiz de boxe.
É importante que seja alguém
que fale a linguagem dos jogadores. Nada de técnicos metidos a
professores universitários, dizendo frases em inglês. Tem que ser
alguém que se expresse de um
modo simples. E, se comer os esses, melhor ainda.
Como a MSI é uma coisa um
tanto nebulosa, seria de bom tom
um treinador pouco curioso, que
não pergunte de onde vem o dinheiro que lhe traz tantos atletas.
O novo técnico também deve
saber falar com a imprensa. Ninguém no país dá tantas entrevistas quanto o técnico do Corinthians, e colocar nesse posto alguém que não saiba se expressar
seria um erro lamentável.
E, por fim, é preciso que seja um
sujeito que entenda de futebol,
que fale sempre do assunto, que
demonstre conhecimento e preocupação com a coisa.
Pois bem, meus caros leitores,
pensei, pensei e cheguei à conclusão de que só uma pessoa tem
todas essas qualidades. Isso mesmo, ele: Luiz Inácio Lula da Silva!
Talvez tenha sido isso que o presidente corintiano tanto queria
falar com o presidente brasileiro
na Inglaterra. Só porque os guardas da rainha não deixaram
Dualib entrar é que o Corinthians
ainda não anunciou seu técnico.
Lula lá!
Procura-se centroavante
Falando em empregos, se você
tem mais de 30 anos e joga no
ataque, pode ir procurar trabalho no campeonato fluminense. Lá provavelmente está a
maior concentração de atacantes veteranos do país. Todos os
grandes clubes e dois altivos pequenos confiaram estes cargos
de confiança a respeitáveis balzaquianos. A saber: Romário,
40, está no Vasco, Túlio, 36,
nosso segundo maior artilheiro
em atividade, está no Volta Redonda, Dodô, 31, desfila pelo
Botafogo, o imortal Sorato, que
fará 37 anos daqui a alguns
dias, vem pela Cabofriense, Tuta, 31, está no Fluminense, e
Luizão, o caçula do grupo, com
só 30 anos, está no Flamengo. O
Rio, a seu modo, reescreve "O
Velho e o Mar", de Hemingway. Só que os velhinhos pescam gols em vez de tubarões.
E-mail torero@uol.com.br
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