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FÁBIO SEIXAS
Heróis e vilões
Saída de Schumacher, que incorporava o bem e o mal, escancara as portas para
que o Mundial empolgue
E
M 2006 , as equipes de F-1 queimaram US$ 2,8 bilhões, o PIB
do vizinho Suriname, para
disputar o campeonato. Com nenhum GP disputado em 2007, os
carros rodaram cerca de 166 mil km,
o suficiente para quatro voltas na
Terra. No domingo, 80 milhões de
pessoas em 200 países assistirão à
largada do Mundial, em Melbourne.
O regulamento técnico da temporada é um calhamaço de 41 páginas.
Especifica que a largura do cockpit
não pode superar 520 mm e que os
cintos de segurança precisam seguir
a norma FIA 8.853/98. O regulamento esportivo, duas páginas a menos, determina que os pilotos usem
pneus das duas especificações num
GP -embora não explique a punição-, detalha as regras de etiqueta
no pódio -acredite- e o horário das
reuniões dos pilotos -sextas, 17h.
Mas não. Não estamos falando em
dinheiro, pneus, audiências de TV,
cintos de segurança, regras em geral.
Até engolimos essas informações,
mas, no fundo, estamos pouco nos
lixando para tudo isso. Passamos os
últimos meses, você e eu e qualquer
outro que tenha o mínimo interesse
por esse troço, comentando sobre
Alonso, Raikkonen, Massa, Kubica... E, claro, Schumacher.
Sinônimo de modernidade, de dinheiro, de esbanjamento, de números estratosféricos, a F-1 só se fez, só
se faz e só se recria em cima de homens. Apesar de tudo que a cerca, é
uma atividade essencialmente humana -e por isso é um esporte, e
não um concurso de tecnologia.
Em 57 anos, sempre foi assim. A
categoria foi construída sobre o carisma, sobre intrigas, sobre sortes,
azares, glórias e tragédias. Por isso,
as perguntas que se fazem agora, em
todos os idiomas, só buscam uma
resposta, indicar o próximo grande.
A minha: não sei, Alonso saiu na
frente, já tem dois títulos no bolso
do macacão, mas sabe como é, de repente essa situação pode virar...
O que sei é que a turma atual compõe um, digamos, "material humano" saboroso. E que depois de 13
temporadas sob a égide de Schumacher, a F-1 estava faminta por isso.
O alemão foi espetacular, quem
acompanha esta coluna há algum
tempo conhece a opinião sobre ele.
Mas ele não entrava em polêmica.
Não fazia declarações bombásticas.
Não saía em tablóides. Não dava
manchete que não fosse baseada em
seus feitos e recordes nas pistas.
Alonso é marrento, briga com jornalistas espanhóis toda hora, casou
(ou não?) com uma cantora pop.
Raikkonen enche a cara, dorme na
sarjeta, fala coisas incompreensíveis. Massa incorpora o tipo bom
moço, é comedido, mas quando esquenta a cabeça sabe soltar o verbo.
O Mundial começa sem um herói,
sem um vilão -o heptacampeão incorporava ambos os papéis-, mas
com vários candidatos. Por isso, remete à era pré-Schumacher. Por isso, dá razão a quem se empolga.
Sabe a velha história da fome com
a vontade de comer? Pois é.
Schumacher parou em boa hora.
18 DE MARÇO
Domingo, quando Massa estiver
acelerando em busca da afirmação,
a morte de José Carlos Pace, o Moco, completará 30 anos. Curiosamente, ele vivia também o momento-chave da carreira na F-1. O sonho foi interrompido por um acidente de avião que vitimou outro
piloto, Marivaldo Fernandes. Uma
homenagem após o GP seria bem-vinda, seja qual for o resultado.
DE NOVO?
Em Melbourne, Barrichello disse
que nunca esteve tão empolgado na
F-1 como agora. É... A geração anos
90 sempre foi péssima de discurso.
CÓPIA
A Super Aguri deve escapar. Mas
provavelmente a Toro Rosso terá
que responder na FIA por seu carro, com linhas idênticas às do Red
Bull. A polêmica vai levar meses.
fseixas@folhasp.com.br
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