São Paulo, sexta-feira, 16 de março de 2007

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FÁBIO SEIXAS

Heróis e vilões

Saída de Schumacher, que incorporava o bem e o mal, escancara as portas para que o Mundial empolgue

E M 2006 , as equipes de F-1 queimaram US$ 2,8 bilhões, o PIB do vizinho Suriname, para disputar o campeonato. Com nenhum GP disputado em 2007, os carros rodaram cerca de 166 mil km, o suficiente para quatro voltas na Terra. No domingo, 80 milhões de pessoas em 200 países assistirão à largada do Mundial, em Melbourne. O regulamento técnico da temporada é um calhamaço de 41 páginas.
Especifica que a largura do cockpit não pode superar 520 mm e que os cintos de segurança precisam seguir a norma FIA 8.853/98. O regulamento esportivo, duas páginas a menos, determina que os pilotos usem pneus das duas especificações num GP -embora não explique a punição-, detalha as regras de etiqueta no pódio -acredite- e o horário das reuniões dos pilotos -sextas, 17h.
Mas não. Não estamos falando em dinheiro, pneus, audiências de TV, cintos de segurança, regras em geral. Até engolimos essas informações, mas, no fundo, estamos pouco nos lixando para tudo isso. Passamos os últimos meses, você e eu e qualquer outro que tenha o mínimo interesse por esse troço, comentando sobre Alonso, Raikkonen, Massa, Kubica... E, claro, Schumacher.
Sinônimo de modernidade, de dinheiro, de esbanjamento, de números estratosféricos, a F-1 só se fez, só se faz e só se recria em cima de homens. Apesar de tudo que a cerca, é uma atividade essencialmente humana -e por isso é um esporte, e não um concurso de tecnologia. Em 57 anos, sempre foi assim. A categoria foi construída sobre o carisma, sobre intrigas, sobre sortes, azares, glórias e tragédias. Por isso, as perguntas que se fazem agora, em todos os idiomas, só buscam uma resposta, indicar o próximo grande.
A minha: não sei, Alonso saiu na frente, já tem dois títulos no bolso do macacão, mas sabe como é, de repente essa situação pode virar... O que sei é que a turma atual compõe um, digamos, "material humano" saboroso. E que depois de 13 temporadas sob a égide de Schumacher, a F-1 estava faminta por isso. O alemão foi espetacular, quem acompanha esta coluna há algum tempo conhece a opinião sobre ele. Mas ele não entrava em polêmica. Não fazia declarações bombásticas.
Não saía em tablóides. Não dava manchete que não fosse baseada em seus feitos e recordes nas pistas. Alonso é marrento, briga com jornalistas espanhóis toda hora, casou (ou não?) com uma cantora pop.
Raikkonen enche a cara, dorme na sarjeta, fala coisas incompreensíveis. Massa incorpora o tipo bom moço, é comedido, mas quando esquenta a cabeça sabe soltar o verbo. O Mundial começa sem um herói, sem um vilão -o heptacampeão incorporava ambos os papéis-, mas com vários candidatos. Por isso, remete à era pré-Schumacher. Por isso, dá razão a quem se empolga. Sabe a velha história da fome com a vontade de comer? Pois é. Schumacher parou em boa hora.

18 DE MARÇO
Domingo, quando Massa estiver acelerando em busca da afirmação, a morte de José Carlos Pace, o Moco, completará 30 anos. Curiosamente, ele vivia também o momento-chave da carreira na F-1. O sonho foi interrompido por um acidente de avião que vitimou outro piloto, Marivaldo Fernandes. Uma homenagem após o GP seria bem-vinda, seja qual for o resultado.

DE NOVO?
Em Melbourne, Barrichello disse que nunca esteve tão empolgado na F-1 como agora. É... A geração anos 90 sempre foi péssima de discurso.

CÓPIA
A Super Aguri deve escapar. Mas provavelmente a Toro Rosso terá que responder na FIA por seu carro, com linhas idênticas às do Red Bull. A polêmica vai levar meses.

fseixas@folhasp.com.br


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